Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 49: Sombra Intrometida
A habilidade de Er’Ika se transformar em uma mancha negra não era somente limitada àquela forma. Ele podia incorporar a sombra de Liane e manipulá-la, absorvendo parte dos sentidos dele para agirem como seus. No entanto, só descobriu como fazer isso após a explosão do garoto, em que seus meios para se usar energia se expandiram aos trancos e barrancos.
Não houve um momento mais oportuno que este para abusar do seu novo truque. Anteriormente, sem chances para utilizá-la dada a pressa que tiveram, essa habilidade serviu apenas para ganhar mais compreensão espacial dos arredores, fora isso se mostrou inútil. Porém, aquele momento era diferente. Ele se atentou às palavras anteriores, registrando o mito de pessoas nascidas com cores diferentes nos olhos possuíam pendência para a magia e captando os trejeitos daquele grupo.
Er’Ika queria ter passado mais tempo perto de todos, seria útil entender como suas mentes funcionavam e quem eram, no entanto o sono de seu receptáculo foi meio problemático. Acabou evitando reclamar porque sabia o quão importante o descanso era para o crescimento daquele corpo, e como habitava nele, faria mais sentido estar protegido por muros fortes do que gravetos.
A sombra se projetou ao longo dos degraus, demonstrando as deformidades em comparação às luzes do candelabro e lamparinas, tremulando mesmo sem o movimento das luzes.
Quero ouvir de perto o que esses humanos estão conversando. Liane não os ouviu e já está no quarto, mas captei parte do som ao apurar seus sentidos e redirecionar a informação somente para mim. Vou ficar escondido, talvez me dê uma ideia de como progredir contra essa coisa estranha impregnando no corpo do pequenino.
O miasma, como assim chamou o bartender, tinha uma propriedade estranha de colar na pele e canais do corpo, acumulando-se e criando zonas que sugavam nutrientes. Eram minúsculos, sendo percebidos somente quando o dano estivesse feito. Como uma doença, ou até arma biológica, funcionava muito bem para seu propósito, e Er’Ika bateria palmas de pé para a mente maléfica que a criou.
— Pois bem… — disse o senhor de bigode desarrumado. — Nos últimos tempos, tenho percebido coisas estranhas. Muitas pessoas doentes, algumas sumindo, outras enlouquecendo… Sei que é comum durante o inverno, mas nunca vi algo alarmante assim. Minha intuição diz que tem algo de errado, e por isso coloquei aquele pedido pesado no boletim e aceitei apenas aqueles em quem confio.
Intuição? Que coisa mais idiota, parece até que não sabe do que fala.
— Durante os últimos dias, prestei atenção nos meus clientes e notei coisas curiosas. Manchas sobre a pele, algumas com respirações alteradas, e pouco a pouco comecei a ver um rastro roxo por todo lugar. Eu sei que a Vila do Dente não é o melhor lugar do mundo, muito longe disso, mas eu vivo aqui, e não quero que meus filhos e filhas estejam morrendo por causa de um idiota querendo vingança contra a sociedade.
Uma coisa bastante comum naquele mundo era como certas pessoas se tornavam propensas a causar o mal por não aguentarem a realidade. Sacrifícios para entidades sombrias, massacres, incêndios em grande escala, ataques suicidas, tais brutalidades aconteciam com frequência e viraram tão mundanos que o assunto costumava ser tratado sem muita atenção.
Logo, o fato daquela vila estar lentamente apodrecendo e morrendo poderia se relacionar diretamente a alguém assim. Certos mercenários também coletavam pedidos assim, para investigar e descobrir a causa do problema, por causa disso aqueles dois grupos estavam ali.
O outro, do qual nem recebeu tanta atenção por Grey e seus dois colegas as ofuscarem, era um grupo composto somente de mulheres. Enquanto Joan era uma mulher esguia de língua afiada, uma era bela como um anjo e sua expressão era serena sempre, e a outra tinha uma carranca séria e carregava um martelo com escudo. Er’Ika sequer prestou atenção nelas direito, pois o bom moço e o mago se destacavam mais, mas ao saber como foram chamadas pessoalmente para lidar com aquilo, teve sua curiosidade atiçada.
— Caso seja um miasma, pode ser que alguém tenha envenenado os poços — argumentou a madame bonita, juntando as mãos e entrelaçando os dedos. — Era uma prática comum nos povos antigos contaminar o suprimento de água inimigo para enfraquecê-los e matar milhares.
— Aham, muita gente morreu com técnicas assim — falou Grey, fechando o rosto. — Se levar em conta que a vila não é muito grande, o riacho próximo sustentaria os residentes por muito tempo, mas como o inverno o congelou e agora estão usando os poços, é muito fácil de jogar algum pó misterioso lá dentro e ver o caos acontecer.
Os demais acenaram em sintonia. Aquilo parecia mais certeiro de acontecer, no entanto, Er’Ika sabia que não envolvia tal coisa. O veneno vinha pelo ar, e também se considerasse a distância de um poço até a estalagem ou até mesmo para a entrada da vila, seria impossível causar tanto efeito assim, além de que o copo em que Liane bebeu não possuía traços de impureza. Ele se absteve de comentar sobre a burrice dos humanos, querendo ouvir mais um pouco.
— Não tenho certeza… — duvidou o bartender, sentando parte da lombar contra o balcão. — O prefeito local liberou uma política de venda de remédios pouco depois dessas coisas começarem a aparecer. Eu acho que ele está envolvido, então envenenar os poços parece muito simplório, sem contar que não necessariamente todos os mercenários e aventureiros bebem água daqui propriamente. Eles ainda demonstram as mesmas coisas que vejo…
Ambos os grupos entraram numa reflexão coletiva, cada um murmurando uns com os outros o que poderia ser a causa. No final, nada foi decidido com certeza, até Grey levantar o punho para chamar atenção.
— Eu proponho o seguinte: passamos alguns dias por aqui investigando o movimento dos outros. Vou purificar o poço com minhas coisas, se os problemas permanecerem, vamos usar qualquer meio que encontramos nas buscas e escolhemos o próximo passo. Que tal?
Todos concordaram, e após a discussão de mais alguns detalhes menores, a reunião foi encerrada. Er’Ika já imaginou que era hora de voltar. A sombra se contraiu para trás, e a entidade sequer reparou na moça bonita virando a cabeça em sua direção. Seu rosto, por outro lado, demonstrava um largo sorriso malicioso que ninguém mais viu.
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