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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    — Obrigada, marquês…

    — Me sinto na obrigação de recepcionar bem a agente da bruxa.

    Zana e Sion estavam num quarto separado da festança, com a ruiva dando goles num caríssimo chá de ervas. Ela respirou fundo ao experimentar, como se tivesse surgido uma memória muito antiga ao bebê-lo. Seus olhos esverdeados caíram no homem à sua frente, que lhe tratava não como uma plebeia, mas como uma ameaça em potencial. Isso seria óbvio, além do mais, havia invadido o quarto e quase o matado na última vez que se encontraram, e agora estavam degustando de chá um à frente do outro.

    O marquês pôs a xícara na mesa de vidro à sua frente, juntando as mãos e retomando uma expressão de seriedade, igual a que usava quando queria lidar com negócios.

    — A madame Isis informou mais alguma coisa? Creio que ela não precise mais de mim.

    — Minha senhora apenas deseja que mantenha distância de Liane e de mim, ela preza seriamente pela segurança do menino. Pediu para manter quaisquer laços o mais distante possível, sendo exclusivamente por uma relação hierárquica e sem termos vínculo.

    — Hm… entendo… — Um silêncio perdurou entre os dois, com os seus dedos mexendo de ansiedade. — Preciso perguntar uma coisa que tem me incomodado desde que o vi.

    — Pergunte. Responderei qualquer coisa ao meu alcance.

    — Aquele garoto é o filho perdido da bruxa, não é? 

    Zana ergueu a cabeça, seus olhos semicerrados atingiram o pescoço do marquês como se pudesse cortá-lo com a visão. Suor frio descia pelas costas do nobre, que sentiu ter pisado em cacos de vidro a indagação e estava prestes a atacá-la ao menor sinal de perigo. No entanto, ao invés disso, recebeu um longo suspiro e um semblante tristonho da moça, que não viu outra solução além de contar a verdade.

    — Sim, ele é. A madame pediu para mantê-lo escondido do mundo. 

    — Por que? Não consigo entender isso, mas sei que o menino passou por muitos problemas desde que minha filha se foi. O bispo e Silva me contaram a respeito, então, ela não deveria como mãe estar ao seu lado?

    — Concordo com o senhor… a madame, no entanto, quer deixar isso em segredo. Expô-lo o deixaria na mesma posição frágil de antes, então ela espera que seu filho fique mais forte para se defender por conta própria.

    — Isso é loucura!

    Os punhos bateram na mesa, emitindo um som alto de baque e balançando as xícaras. O rosto do marquês se transformou em algo completamente diferente, a feição que um pai daria ao ver um ultraje e não a de alguém da elite analisando toda ação friamente. Não tinha o menor sentido tal coisa acontecer, esperar que uma criança amadurecesse por conta própria e sobrevivesse nesse mundo brutal equivalia a torcer por um milagre. 

    — Sei disso, sei muito bem — retrucou a mulher, elevando o tom de voz e igualmente enfurecida. — Odeio a decisão da madame e seria uma desonra ir contra elas, então só posso observar de longe. Felizmente, depois de tudo, pude encontrá-lo vivo e bem. Fui ordenada para ajudá-lo, por isso impus duas medidas de segurança sem ela saber.

    — Que medidas seriam essas…? 

    — A garoto que me acompanhou, Celine, é na verdade uma recruta da Lâmina Fantasma. Pedi para um dos meus contatos reservar alguém e escolheram-na.

    — Mas aquela garota é cega, como pode ser de alguma ajuda?

    — Celine não é uma menina simples. Mesmo sem os olhos, ela pode enxergar algo além dos sentidos comuns. Você deve conhecer um conceito semelhante vindo dos espadachins, do senso de perigo.

    Sion retornou ao seu canto no sofá. De fato, o senso de perigo era um tipo de previsão que acontecia quando uma presença poderosa se aproximava. Ele já havia sentido isso na época da academia e de quando esteve em combates, além de ter um temor incontestável quando se encontrou com a loba pela primeira vez. Caso a garota possuísse uma habilidade do tipo, seria talvez o bastante para protegê-lo.

    — E qual a outra? Você citou “duas”.

    — Essa… eu não posso contar. — A certeza no semblante de Zana empurrou a convicção do marquês para trás. — É algo muito importante para mim, infelizmente, revelá-lo só me causaria problemas.

    Essa resposta causou um desconforto em Sion, cuja obrigação era manter segurança no marquesado e na sua família, no entanto, entendeu que se mexesse naquele vespeiro ainda mais, poderia estar tentando a fúria da bruxa. Sabendo que essa mulher tinha uma guilda inteira de assassinos por baixo dos panos, decidiu recuar com as informações que obteve e trabalhar com isso.

    — Se é assim, não posso fazer mais nada. Só peço compreensão com minha filha, o temperamento dela é imprevisível demais para mim. Também acho que ela terá dificuldade se separando de Liane…

    — Ah, também pensei nessa ocasião… só poderia permitir coisas escondidas, é perigoso demais para nós que o filho da madame se destaque.

    Sion acenou com a cabeça, igualmente concordando. Dali, nada mais foi discutido, os dois voltaram ao salão como se nada tivesse acontecido, deparando-se com uma mulher bêbada subindo nas mesas e enchendo a cara adoidado. Provavelmente outra oportunidade era inexistente, porém, a feição desconcertada de Vylon indicava uma vergonha sobrenatural.

    Enquanto Zana continha a risada, o marquês ordenou para os serviçais conterem a explosão ambulante que Jessia era. Um suspiro vazou da boca, e assim que virou o rosto, encontrou Liane e Silva conversando na sacada do salão. Era uma visão diferente, pois sua filha sorria largamente e se encostava no garoto, falando alto, balançando os braços e demonstrando uma radiância infantil.

    Era um evento raríssimo, que Sion tinha muita saudade de presenciar, então uma ideia cruzou sua cabeça.

    — Senhorita Zana, precisarão de dinheiro para viver na cidade, correto?

    — Sim, mas já tenho planos para isso…

    — Por que não colocar Liane como escudeiro da tutora de minha filha?

    — Hum, não sei ao certo. Eu e Celine podemos conseguir moedas…

    — Sei disso, só estou falando para assegurar a segurança do garoto. Pense, enquanto as duas trabalham, ele estará livre fazendo o que quiser, correto? Não seria melhor então colocá-lo sob minha asa sem interagirmos diretamente? 

    O marquês era ótimo com as palavras, assim como seu cargo exigia. 

    — Pode ser uma boa ideia, senhor marquês.

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