Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 104: Tutela Especial
Grey queria ficar em paz. A mentira sobre seu pai pesava na mente, ainda mais após meses depois de sua morte. Ele nem teve um funeral decente, muito menos deixou qualquer legado para trás porque provavelmente os nobres roubaram suas propriedades e dinheiro. O garoto não era idiota, boa parte de sua vida se concentrava na alta sociedade, então entendia como tudo funcionava por trás dos panos.
Sentiu-se idiota por acreditar que ele estava de fato numa viagem a negócios. Era claro que isso não aconteceria, além do mais, se fosse verdade, eles nem seriam barrados pelos guardas na fronteira do condado Minus. Só assim relembrou-se da frase infame daquele guarda que o perguntou sobre há quanto tempo não comia, de que os três iam para um funeral de um irmão de Topax.
Para começo de conversa, Topax nem tinha irmão, e se tivesse, jamais encontrariam-no. O número de mistérios rodeando aquele velho eram tantos que nem mesmo seus pais eram conhecidos.
Grey, por causa da briga com a sua mãe, passava grande parte do tempo andando sozinho, preferindo estar fora da vista da mulher. Doía mais ainda olhá-la com Cristal no colo, então a coragem sumia toda vez que relembrava da irmã mais nova. Ele ainda ia vê-la escondido, onde a irmã Peny carregava a garota para uma sala secreta nos fundos do mosteiro.
Não entendia exatamente o porquê a menina ficava lá, isolada dos outros perto de um pilar, mas em todo caso, o irmão mais velho sempre estava de longe vendo tudo. Por alguma razão, aquele ambiente o deixava com uma tremenda leveza na mente, como se nada pudesse incomodá-lo. Era até viciante, ele queria ir a sala sozinho um dia apenas para se sentar num dos pilares e descansar.
Seus devaneios foram interrompidos por uma sombra se formando acima de sua cabeça. Tomou um susto, demorou demais para reparar que uma pessoa gigante parou à frente. Ergueu o queixo, deparando-se com um rosto familiar, mas que não lembrava onde viu.
— Você deve ser o irmão da filha Cristal, creio eu. — A voz era poderosa e pesada, contrastando demais com as roupas de monge sobre os ombros dele. — Sou o irmão Morf. A irmã Peny pediu para chamá-lo e que eu pessoalmente o trouxesse.
Irmão Morf… era o monge que estava entre os demais naquele dia que descobriram dos poderes incríveis de sua irmã. Grey engoliu seco, medroso demais para recusar o pedido, então acenou positivamente com a cabeça e o acompanhou de volta ao mosteiro. Ambos caminharam pelos corredores rumo aos aposentos da freira, que disse “Entre” quando bateram na porta.
O garoto ficou temeroso, pensando se fez algo errado nos últimos dias. O máximo que tentou foi fugir de uma aula chata, até ser pego por um dos monges e jogado de volta para sala. Fora isso, ele parou de tentar de escapar e nunca fez nenhum mal a ninguém, tornando aquela situação estranha.
— Não se preocupe tanto, Grey, só lhe chamei para conversar sobre uma coisa importante… e não é sobre as trapalhadas que você tentou esses dias.
O sorriso caloroso de Peny nunca enganava. Na verdade, ela era pura e sincera demais para se acreditar que já mentiu uma vez na vida, acalmando os nervos a flor da pele do menino.
— É sobre uma tutela. Eu vi que você tem passado muito tempo longe das outras crianças e fica muito ocioso… o que acha de receber ajuda do irmão Morf para aprender sobre lutas e no futuro tentar ser um paladino? Você é muito novo e isso ocupará seu tempo parado, além de ter benefícios.
— Hã, a mãe recomendou isso? Ela falou algo a respeito?
— Está muito preocupado, eu entendo, mas não contei nada a ela. Será nosso segredo, quero te dar conforto da melhor maneira possível.
Silêncio se apoderou de Grey. Ele já tinha consciência de certas coisas, no entanto, teve problema em reconhecer o que fazer. Ele queria muito continuar com seus descansos no orvalho, era uma tranquilidade muito melhor que as dos dias em uma carroça cheia de feno sobre uma estrada de barro. Só que, ao lembrar de uma certa pessoa estranha que conheceu meses atrás, havia um arrependimento.
De fato, qualquer coisa que aprendeu com espada e nas brincadeiras com Relena lentamente desapareceriam. Se aceitasse aquela condição, por outro lado, poderia ao menos se igualar a ela quando se reencontrassem.
Respirou fundo, sua escolha devia ser óbvia desde o princípio.
— Tá bom, eu quero participar.
Os olhos de Peny se arregalaram por um momento, até os orbes se retraírem e retornarem ao formato normal. Ela não esperava que o garoto escolhesse tal coisa facilmente, ao menos, se encheu de felicidade ao sabé-la. Abriu uma das gavetas na escrivaninha, entregando na mão dele uma pequena medalha de bronze com o símbolo de Lithia.
— Guarde isso com carinho e coloque no peito. Todos que passam por tutelas dos monges recebem uma, o senhor Morf, inclusive, é muito querido entre os seus antigos estudantes e amigos. Trate de respeitá-los, ouviu bem?
Grey assentiu, o restante foi liderado pelo monge, que chamou o menino para irem aos aposentos voltados aos irmãos. Era um local muitas vezes voltado somente para quem pretendia aprender as artes marciais para os paladinos e no futuro se tornar um.
Lá, muitos outros homens se abrigavam e lutavam uns com os outros, dava para ouvir o som de pancadas e gritos mesmo no caminho da escadaria rumo ao local. Morf abriu as portas da entrada e deu espaço para que Grey se encantasse com tudo ali, desde a beleza no manejamento de armas até a força de punhos quebrando pedaços de madeira.
Era muito impressionante, exceto por uma coisa da qual reparou tarde demais: ele ficaria ali treinando como os outros, lado a lado, enfrentando as mesmas pessoas. De repente veio um medo repentino de tentar, ao ponto dele dar um passo para trás, apenas para Morf empurrá-lo de volta com sua mão e fechar os portões.
— Vamos primeiro começar com seu treino de iniciação…
Naquela hora, todas as esperanças de Grey para escapar foram estraçalhadas.
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