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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Er’Ika, que sempre escondia uma faceta de sentimentos com cinismo e risadas, entrou em desespero. O ferimento era terrível, se perdesse qualquer segundo para o choque, Liane morreria por falha cardíaca. A cada batida, mais sangue saltou para fora do coração, e Er’Ika se viu obrigado a tomar completo controle do corpo para bombardear a região com o máximo de células para reparação. Ia demorar, querendo ou não, talvez o organismo não resistiria por tempo o suficiente.

    Ele encarou a criança caída do outro lado, cogitando se alguma memória ali dentro salvaria a vida do garotinho. Poderia ser o filho de uma santa ou sacerdotisa, ou talvez alguém abençoado pelos próprios milagres da cura, mas todas essas opções eram fantasias ingênuas. Mesmo se conseguisse alcançá-lo, era muito pouco provável extrair um dado útil.

    Cada parte do espírito de Er’Ika trabalhou no dobro da velocidade, buscando uma solução para o problema e se despedaçando de medo pelo que aconteceria quando a vida se esvaísse do menino. No entanto, uma reação inesperada surgiu, Liane convulsionou sozinho e a ferida aberta começou a chamuscar, labaredas arroxeadas cauterizaram a região. Se a entidade tivesse rosto, seus olhos arregalariam e a boca cairia, isso se não fosse pela repentina sensação de desconforto pairando em si.

    Ele achou a razão em pouco tempo, pois reparou como havia uma mancha se proliferando na cidade de memórias do pequenino. A rachadura cresceu até criar uma fissura grande o bastante para uma criatura feita de piche negro sair. O ser parecia uma gosma nojenta, que tentava tomar um formato próprio, porém sempre se desmanchava no final.

    Gotas do piche sujaram a cidade de memórias, gerando uma poça fedorenta que englobava partes das casas. Er’Ika olhou para aquela coisa encostando nas estruturas, era como um ácido deteriorando a paisagem bonita, o que invocou uma fúria surreal dentro de si. Como alguém ousava invadir o espaço delegado por ele? Vendo como o estado da ferida ficou sob controle, a atenção dele se destinou ao invasor.

    As portas de seu castelo voador se abriram, o monstro habitando aquele lugar esticou seus tentáculos para fora. Dezenas de íris vermelhas apareceram, com bocas e sons de outro mundo. Er’Ika levitou a área em que o piche estava localizado, isolando-o e trazendo rumo ao castelo, ao mesmo tempo que seus braços englobavam o pedaço de terra. A criatura entrou nas profundezas da escuridão, ou melhor, um lugar que era para ser completamente sombrio, quando na verdade tinha uma aparência diferente.

    Ao invés de um salão luxuoso esperado de um castelo aéreo, o local em questão era um amplo espaço aberto, com o piso e o horizonte repleto de água. O demônio reagiu, seu corpo tentou retornar de onde veio, uma pena que a porta não estava lá para sair tão facilmente da prisão.

    — Não deixarei triscar um dedo nas memórias dele… — disse Er’Ika, admitindo a forma de Liane, exceto pelos olhos, ambos eram vermelhos e profundos, como se visse o fundo da alma de alguém. — Ao menos, permito dizer a sua identidade. Considere-me grato por dar tal luxo.

    A aberração não disse nada, sequer detinha boca para emitir qualquer mensagem. Ainda assim, pelo jeito como avançou na direção da divindade-criança, não parecia muito propício a falar. Er’Ika gostou disso, economizava seu tempo para cuidar de Liane quando terminasse o serviço. Uma roleta de memórias girou ao seu lado, e de lá ele puxou um martelo de duas mãos enormes, o mesmo usado por Aymeric quando se encontraram pela primeira vez.

    O melhor lado era a falta de peso daquele objeto, perfeito para ainda abusar das memórias dos homens mortos com armas de haste. O martelo poderia não se encaixar como lança, mas se somasse a combinação de movimentos com armas de impacto e as técnicas de haste, tinha-se um resultado muito semelhante ao uso correto. Com um balanço único, a ponta da arma caiu contra a massa preta, criando uma pequena cratera e expulsando respingos de água para todas as direções.

    Infelizmente, no primeiro uso, o martelo se desmanchou em partículas brilhantes. O problema de replicar tais coisas era sua fragilidade, como demonstrado ali. A criatura ainda se mexeu, recuando e avançando como um tsunami rumo a Er’Ika. Novamente ele usou a roleta, retirando as memórias musculares de anos de experiência em combate, o que fez com que seu corpo se movesse quase automaticamente para se esquivar.

    Os disparos de massa escura passavam perto do cabelo como flechas. Ativou a roleta novamente, um par de adagas apareceram em suas mãos, seguido de um tufão de ataques cortando os apêndices querendo sair da criatura. A velocidade sobrenatural de Er’Ika assustaria qualquer pessoa normal, só que seu inimigo era descerebrado demais para reconhecer isso.

    Em pouco tempo suas recém-adquiridas lâminas se desmancharam, apenas para a entidade, já acostumada ao uso de sua habilidade e numa cadência ritmada no combate, trocar por uma espada enferrujada, rasgando o piche em dezenas de partes. 

    E assim continuou, arma por arma foi quebrada, ao ponto do arsenal inteiro já ter sido usado. O oponente estava fatiado em vários pedaços pelo campo de batalha, com seus pedaços flutuando na água rasa. Já era mais do que hora de finalizar o problema, por isso, ao convocar a roleta, uma única coisa esteve em sua mente. Estática voou entre suas mãos, uma descarga elétrica finalizou seu oponente com uma explosão amarela que iluminou o ambiente como um farol.

    Ao final, um suspiro fugiu da boca de Er’Ika, que ainda usava a aparência de Liane por uma questão de praticidade. 

    — Finalmente… não queria ir tão longe porque demoro para recuperar os dados e montar corretamente cada uma dessas coisas… Pelo menos, aquela coisa asquerosa deixou algo para trás.

    Um orbe sombrio tomou o lugar da criatura. Er’Ika apanhou o objeto, fascinado por sua aparência e analisando cada ponto. Ele dispersou sua consciência para cuidar de Liane, mas ao analisar, percebeu que já não tinha risco de morte. Era algo bom, liberou parte de sua preocupação. O mistério ainda existia sobre o que diabos acontecia durante os rituais demoníacos para invadir a mente de outros e destruir seu campo de memórias. De repente, do lado de fora do mundo mental, a porta do quarto foi aberta.

    O símbolo da deusa Lithia balançou no peito de um homem de olhos claros e armado com espada e escudo, Grey, o paladino.


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