Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 116: Traço Carmesim
Zana era uma nômade dentro do condado Minus. Sua mochila pesava nas costas, carregando os equipamentos e tudo o que precisava para uma longa viagem solitária. Sua rapieira, uma arma sagrada para si mesma e o sinal da confiança de sua mestra, diariamente se manchava com o sangue dos inimigos e era refinada com o ferro de fluídos corporais.
Cada dia parecia um novo momento para amaldiçoar o destino. Estava com tanta dificuldade para encontrar Liane que sua mente travava quando precisava parar para descansar. No entanto, aquele dia em específico prometia bastante coisa.
Zana havia chegado a vila Jaspe, uma conhecida por conta de um monumento feito inteiramente da pedra preciosa de mesmo nome encontrada nas minas dali. Ela não pretendia ser turista, muito pelo contrário, entrou com o objetivo de encontrar exatamente uma pessoa, um amigo próximo. Suas botas afundaram em lama, nem mesmo a neve conseguia afundar por completo a sujeira de certos lugares.
Rapidamente ela avaliou quem estava ali, estranhando a presença de fieis a deusa Lithia, pois sabia como um dos poucos pontos do condado muito enraizado na religião era um mosteiro distante. Não se sentia segura assim com a presença deles, por hora, toleraria e seguiria com a sua obrigação.
Ela não demorou para se aproximar de uma taverna e empurrou as portas. O local estava escuro, sinalizando que nem tinha aberto ainda, e somente uma pequena garota andava de lá pra cá com uma vassoura na mão, tirando a poeira dos cantos. Assim que a mulher entrou, essa menina a encarou, sem tomar nenhum susto e sem se desesperar, disse:
— Estamos fechados ainda.
— Meus assuntos são com Ted.
— O chefe não está, então…
— Ele está do outro lado daquele balcão, num esconderijo atrás da estante de pratos e canecos, afiando a espada e refinando seus artefatos mágicos. Chame-o, agora.
Ela congelou por um momento. Mesmo sem demonstrar expressões, a forma como reagia indicava demais os sentimentos, com um conflito interno e o mistério de saber como aquela moça descobriu esse segredo. Largou a vassoura, tendo entendido a situação, assim seguiu para os fundos da cozinha. Após uma série de passos e barulhos, finalmente a pessoa com quem queria conversar apareceu, um homem barbudo, cabeludo e pançudo, ou melhor, um esteriótipo de “beberrão”.
— Zana, minha cara amiga! Senti sua falta!
Enquanto esperava, a ruiva fechou todas as janelas, portas e pôs um pequeno cubo em cima de uma das mesas, o que criou uma cúpula transparente pelo bar.
— Eu também senti, velho amigo.
Um sorriso apareceu no rosto, ela o abraçou igual a um irmão que não via há anos. Ambos de fato possuíam um passado, mas era tão distante que levariam semanas para desenterrar. Após tomarem espaço, sentaram-se numa mesa, com a garçonete mirim entregando copos d’água e se destinando a cozinha para lavar os pratos.
Zana estendeu a mão, recebendo um colar feito de ouro com uma pena pendurada nas correntes. Ela o pendurou, olhando de cima para baixo e tendo mais certeza de que era verídico. Ted arregalou os olhos quando percebeu esse comportamento, a ofensa veio diretamente para o coração.
— Você acreditou mesmo que eu falsificaria?!
— Meu trabalho exige grande precaução, você poderia ter mudado os caminhos ou ser um farsante.
— Poxa, é tão difícil assim ter a confiança plena dos outros…? — Um suspiro saiu do velho, que abaixou os ombros e ganhou uma atmosfera muito tristonha. — Ao menos, você teve sorte, chegou numa hora mais do que perfeita.
Um estojo caiu em cima da mesa, Ted tinha um largo sorriso orgulhoso de quem cuidava de uma criança prodígio. Aquilo serviu para atiçar a curiosidade de Zana, que decidiu jogar a fé e abrir as travas do objeto, que continha uma espada embainhada sobre um tecido cor vinho. Ela pegou a arma, sua curiosidade estava enorme, então retirou-a da bainha, vendo o próprio reflexo no metal e as dezenas de adereços metálicos decorando a guarda redonda da arma.
Era pontiaguda, de design quase igual à sua querida rapieira, mas no cabo havia um tipo de gatilho na ponta, um botão escondido que poderia facilmente ser apertado por alguém inexperiente.
— Essa é minha obra-prima, e também seu presente de aniversário atrasado — complementou o velho, cruzando os braços e estufando o peito. — Não há de que, eu sei que deve ter te deixado com água na boca.
— É muito impressionante… — Zana empunhou a rapieira e saiu da cadeira, estocando lentamente contra o vento, como se enfrentasse um inimigo invisível. — Leve, prática… talvez eu precise praticar mais um pouco para me readaptar.
— Hahaha, sorte a sua que surgiu uma situação em que isso é possível!
— O que quer dizer?
— Viu os fieis de Lithia lá fora? Eles estão procurando por você.
A mulher parou por um momento e engoliu seco. Seus instintos gritaram nos ouvidos para sair pela porta e caçar aqueles homens, mas se conteve, ciente de que seria uma péssima escolha se assim fizesse. Ela respirou fundo, protegendo a rapieira como se fosse seu bem mais precioso.
— Sabe a razão por trás disso?
— Supostamente, uma pessoa está tentando te encontrar, falam que é seu irmão mais novo…
Essa última parte ativou uma memória de quem era o responsável por esse pedido. Na verdade, Zana estava completamente incredula com essa possibilidade, imaginando que seria impossível tal coisa acontecer, mas pelo visto, o menino que cuidou por tanto tempo estava mostrando suas verdadeiras faces. O ar revigorou seus ombros, que subiram como estivessem prontos para ação.
Ela pensou em imediatamente sair, no entanto, tinha uma última coisa a se resolver.
— A agente que te pedi… É aquela menina?
— Sim, é ela mesma. Bastante obediente, e como pode ver, tem os mesmos traços que você, dessa frieza e falta de humanidade. Ela fará o que pedir sem ligar para as consequências.
Zana rosnou diante da comparação, mas aceitou aquilo de forma semelhante a um elogio. Com tudo pronto, bastava agora levar a garota consigo, e enfim encontrar seu irmãozinho perdido. Estavam com sorte, nem mesmo esperava tal oportunidade de se verem tão cedo, mas estando ali, jamais perderia a chance.
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