Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 34: Observando de Perto
A gentileza de Jessia foi estranhamente alta para Liane. Ele suspeitou cada movimento da bandida, esperando ser pego de surpresa por uma adaga saindo de seus bolsos. Felizmente, a situação jamais veio, ao invés disso ambos caminharam lado a lado pelos amplos corredores do covil, com a bandida mostrando cada lugar, igual a uma pessoa querendo esbanjar sua casa nova.
Ela primeiramente explicou que este lugar não era deles — coisa muito óbvia —, era uma mina abandonada há décadas atrás por causa do aparecimento de um monstro. O grupo encontrou durante a excursão para a captura da nobre, e como fazia muito pouco tempo desde que passaram por lá, decidiram usá-la como base temporária. A naturalidade com que aquelas palavras eram pronunciadas causou um frio na espinha, pois matança e destruição foram tratadas como nada.
Aquilo começou a incomodar Liane, e notando a forma que o garoto mexia a ponta dos dedos e evitava olhar para frente, Jessia inclinou a cabeça e disse:
— Quer ver os prisioneiros?
Era fácil ler a mente de um garoto cheio de desespero.
— Quero…
A mulher mudou o caminho, sendo seguida pelo menino a passos apertados, com a mão no peito e seu coração palpitando fortemente, em tempo de saltar pela garganta e cair no piso de pedra. Eles retornaram à área das minas, onde as grossas vigas de madeira sustentavam um buraco feito contra a rocha e lamparinas pavimentaram a escuridão com focos de luz.
Aquele local era usado para a maioria dos prisioneiros como uma forma de dificultar sua escapada, pondo-os dentro de um grande labirinto em que seria quase impossível passar despercebido pela quantia de capangas rondando cada lugar. Silva e Liane, por outro lado, tiveram um tratamento diferente por serem considerados “especiais”. Como eram duas crianças, ninguém esperava alguma verdadeira ameaça de fugirem, além disso, eles precisavam sempre estar de olho nos dois em caso de emergência, já que eram uma mercadoria muito valiosa para seus negócios.
Conforme chegavam mais perto do final do túnel, o som de gemidos ficou mais evidente, unido a grunhidos estranhos e metal recebendo batidas leves. O menino hesitou em dar mais um passo, sua pele formigou nos mesmos lugares onde foi atingido por socos, os pulsos arderam como se estivesse de volta àquela tortura. Quis dar meia-volta e correr, no entanto, a imagem de uma mulher com longo cabelo ruivo e olhos serenos de uma mãe motivaram seu corpo a seguir em frente.
A vista se tornou mais clara conforme se aprofundou nas sombras. Várias gaiolas apareceram, cada uma levando consigo um conjunto diferente de homens ou mulheres que se lamentavam em dores ou por causa das fezes e urina subirem por suas peles. As condições eram ainda piores se considerasse os trapos que eram as roupas e as marcas de violência em seus corpos, desde cortes infeccionados até hematomas ao longo do rosto.
Liane os reconheceu, especialmente as crianças do orfanato, no entanto seu corpo bambeou de medo e ficou estático no lugar. Ele não queria acreditar na vista, não queria aceitar que cada uma das pessoas que partilhou dias e meses estavam ali sofrendo num inferno pior que o seu. Quando pensava na situação deles, acreditou ser pífio compará-lo a sua, pois nem mesmo comida deviam receber dada as condições.
Dentre as silhuetas, haviam soldados. Suas armaduras foram confiscadas juntos as armas, e no meio deles, um homem estava encostado no canto. Seu rosto pálido indicava a pouca vida ainda sobrando, mas uma coisa parecia familiar… uma cicatriz correndo do lábio até a orelha. Outro detalhe importante era a quantidade de pontos expostos na pele, como se tivesse sido picado por dezenas de abelhas.
O pior disso tudo era os outros homens ao seu redor querendo oferecer apoio e até um pedaço de pão mofado ao homem, mas este recusou com um simples aceno de cabeça. Liane andou devagarinho na direção dele, Jessia sequer se mexeu, imaginando que alguém dentre os prisioneiros teria um valor ao garoto. Ao chegar próximo o bastante, discerniu o rosto do sujeito, enfim alguém familiar deu uma luz a sua alma.
— Sir Aymeric, sir Aymeric! O senhor está vivo!
— Essa voz… — O capitão girou o pescoço devagar na direção do chamado, seus olhos cansados e cabeça molenga se voltaram ao olho azul de um menino ajoelhado ao seu lado. — Ah… é você, Liane… ainda bem que está vivo… Como está a… senhorita…?
— Ela está viva e bem, senhor. O que aconteceu a você? Por que está assim?
— Eu perdi feio… Bem, acho que ainda me mostraram misericórdia…
Aymeric levantou o braço direito, no lugar da mão havia um pano ensanguentado e rudemente preso, escondendo sua palma de uma maneira não convencional. O rosto do menino se contorceu de pavor, queria inclinar a boca para o lado e vomitar, mas engoliu toda aquela vontade e se manteve firme.
— Senhor… a irmã Zana, você viu ela? Por favor, me diga que viu, por favor…
— Desculpe… eu não a vi… desde que perdi a luta fiquei apagado… Acho que se eu soubesse do futuro, não teria hesitado em falar com ela… Hehe…
Um sorriso fraco apareceu na face do homem. Antes um honrado cavaleiro, agora reduzido a uma pilha de lamentos e fraquezas. Nenhum dos seus subordinados diria tal coisa, além do mais, sir Aymeric era a pessoa mais corajosa e justa que já conheceram. O caráter dele era inegável e todos gostariam de ajudá-lo de uma forma de outra, mas aqui estavam, nas profundezas de um abismo vendo-o ser consumido pela loucura por ter falhado uma única missão.
A expressão de Liane também não era a melhor. Sem ter certeza para onde a irmã foi, ele se levantou e correu ao longo das gaiolas, procurando pelo cabelo ruivo dela. Mesmo causando comoção por passar rapidamente em cada canto, ele não a achou. Zana estava em lugar algum, multiplicando sua ansiedade conforme via faces diferentes daquela que tanto lhe confortava.
Em determinado momento, desistiu de procurar. Ele só pôde retornar passos para trás, olhar com pena para Aymeric e voltar ao lado de Jessia, que o encarava com uma certa curiosidade.
— Não encontrou quem você queria?
— Não… não encontrei.
— Perguntarei aos meus homens que participaram do ataque se sabem de alguém com a descrição que você me disse. Não coloque muitas esperanças, é bastante normal gente pra caramba morrer nesses ataques…
Liane largou um longo suspiro e acompanhou a chefe para fora das cavernas, continuando com o mesmo peso do que nunca.
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