Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 24: Suposto Mago Mirim
Eu bem que lhe disse sobre aceitar. Agora podemos saber dos nossos entornos e quem está aqui dentro.
“Você é meio manipulador demais, sabia, Erika? Eu tava morrendo de medo dela, e ainda tô! Ela é pior do que a Silva quando a conheci, se você estivesse no meu lugar, entenderia!”
Não preciso estar no seu lugar para entender o seu ponto de vista. Relaxe, qualquer coisa nós escapamos por conta própria e resolvemos o resto depois.
Er’Ika estava de fato mentindo, era impossível saírem daquele lugar sem uma noção espacial básica. Poderiam existir armadilhas no caminho, mais pessoas do que seriam capazes de evitar, dentre outros fatores dos quais a entidade preferiu não pensar para poupar uma enxaqueca. Ao menos, confortar Liane com mentiras assim era algo de valor, preferia que ele estivesse bem e otimista que medroso.
Não teve mais conversa, a mulher carrancuda estava logo atrás do garoto, empurrando-o quando desacelerava o passo. Logo os dois chegaram a um tipo de sala, mais especificamente uma área cheia de mesas e cadeiras que remetia a uma taverna subterrânea. Havia bastante gente, a maioria eram os bandidos do grupo da chefona, e cada um aproveitava o momento apostando uns com os outros ou realizando brincadeiras inofensivas, como a de usar uma faca para esfaquear por cada espaço entre os dedos — os que tinham menos dedos claramente possuíam vantagem nisso.
A mulher o pegou pelo ombro e o pôs sentado numa das cadeiras do balcão de madeira. Seus homens logo observaram a cena com bastante curiosidade, especialmente porque o garotinho odiado por ela estava ali sentado. A maioria cogitou que a chefe queria abusar do seu corpo, já que ela gostava de mexer com determinados tipos de pessoas, um deles sendo crianças particularmente bonitas. O motivo pelo qual todos temiam Jessia era pelo fato do quão cruel ela podia ser, seja roubando a inocência de uma criança ou até retirando a parte mais importante de um homem viril.
O medo era tamanho que aqueles do gênero masculino no bando ficavam afastados a uma certa distância para nunca entrarem no seu raio de visão. Por causa desses motivos, pensaram que o garoto estava lá para ser humilhado e usado de exemplo na frente dos outros — coisa que era muito comum vindo dela —, porém a circunstância foi diferente. A chefe pôs uma pedra hexagonal em cima da mesa que cabia na palma da mão, arrumando também um conjunto de frutas e até pedaços de carne seca num prato para o garoto. Mesmo sendo iletrados e alguns dos capangas sendo muito burros, todos entenderam o que aquilo significava, e imediatamente se viraram para assistir à cena.
— Hum? — Um dos bandidos, um jovem mais novo que os demais, estranhou a cena. — Por que todo mundo tá assim de repente? O que aquele moleque tem?
— Abaixa a voz, moleque! — cochichou um dos veteranos ao seu lado, puxando-o pelo rabo de cavalo. — Escuta, você é novo nesse ramo, então faz sentido não saber de nada, mas se lembra que nosso mago morreu nesta última expedição nossa?
— Sim, eu lembro. Aquele cara tinha um bafo péssimo e comia feito uma mula sem cabeça…
— Então, seu idiota! Magos comem muito porque precisam repor a energia que gastam em suas magias, além disso, o negócio na frente do garoto é uma pedra de comunicação. Só magos ou quem sabe usar magia podem usá-las, e Quari era quem o ativava.
— Isso significa que… — O rapaz encarou de novo o garoto, com sobrancelhas franzidas e olhos estufados, incerto se realmente era o que estava pensando.
— Aquele garoto pode ser um mago.
Por lógica, Jessia deveria tê-lo visto fazendo algo fora do normal para que fosse tão longe e demonstrasse tamanha “gentileza”. Se por acaso as coisas não se desenrolassem como ela queria, aquele garoto teria que rezar para sair vivo do que ocorreria com ele. Mesmo sendo trastes humanos, cada um daqueles bandidos teve pena, pois um destino terrível aguardava aquele pobre coitado se tudo desse errado.
Liane, enquanto isso, lidava com um turbilhão de confusão. Estava em dúvida sobre como agir, a comida diante de seus olhos parecia bastante apetitosa, mas a forma como foi colocada e o olhar da mulher o impedia de se mexer. Ele também olhou para a pedra ao lado, sem entender direito o porquê foi colocada lá e porque tinha sido retirado da sua sela. No final, só tinha dúvidas e mais dúvidas espiralando na sua mente cansada e caótica.
— Eu serei direta, garoto — disse a moça, apoiando ambas as mãos na mesa. — Eu quero que você mastigue até o último pedaço dessas coisas. Depois, toque na pedra e faça o que vi mais cedo. Se por um acaso teimar comigo, eu…
— Tá bom, tá bom!
Seu desespero é realmente incrível, pequenino. Essa baranga na sua frente te deixa tão amedrontado que você teve coragem de interrompê-la? Eu que não queria estar na sua pele, huhuhuhu…
“Cala boca, Erika!” Liane queria ficar vermelho de vergonha, mas diante do olhar opressor dela, não teve coragem, especialmente quando a raiva transpareceu por meio de suas pupilas escuras.
Antes de estressá-la ainda mais, o menininho pôs um pedaço de carne seca na boca e mastigou como se fosse a coisa mais gostosa do mundo. De fato era, levando em conta como seu corpo foi sustentado somente por mingau e ratos. Ele pegou uma maçã dentre no prato de frutas e rapidamente abocanhou pedaços largos, nem mesmo deixando sementes para trás. Cada mísera mordida era preciosa, ele não se daria ao luxo de retornar à cela sem aproveitar o momento.
Ao terminar, o olhar de Jessia recaiu sobre sua cabeça, e ele entendeu de imediato o que devia fazer. Estendeu a mão rumo a pedra, Er’Ika o ensinou um tempo atrás sobre como funcionava a magia, mas ele ainda não havia entendido por completo. Pequenas faíscas voaram de seus dedos, puxando um ou outro “Ohhh” da plateia, a energia logo foi sugada pela pedra, acendendo o centro por um breve segundo antes de apagar.
O olhar da bandida era de uma decepção plena, Liane entendeu na hora que havia feito algo de errado. Foi então que a entidade ofereceu uma mãozinha na segunda tentativa, empurrando uma onda de energia rumo aos poros e descarregando uma quantia de eletricidade muito maior, o que fez enfim aquele objeto brilhar. O sorriso da mulher cresceu, a pedra não perdeu sua luz, e então uma voz soou daquilo:
— Minha nossa, que surpresa, Jessia, me ligando assim… — era Z falando, com uma voz monótona e cansada. — Você é sempre cheia de surpresas, sua maldita.
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