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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Brutus e Joan entraram numa briga acalorada de xingamentos. Isso de fato assustou Liane, que deu um passinho para trás diante da enxurrada de palavras sendo disparadas dos dois lados, no entanto, isso não impediu de uma outra pessoa se aproximar dele. No caso, era Grey, um bom moço de olhos claros com um sorriso radiante e uma energia muito boa ao seu redor.

    O garotinho não se sentiu nem um pouco intimidado por sua vinda, quem se incomodou foi Er’Ika, ao ponto de querer fazer o receptáculo dar outro passo involuntário para trás. O motivo disso era por causa do colar em seu peito, que era um círculo de ferro adornado com pequenos cortes remetendo a uma joia lapidada. Este homem devia ser um fiel da deusa Lithia, a deusa da terra e dos vivos. A entidade nunca teve um bom pressentimento quanto a estes seres estranhos, porque se eram deuses, então sabiam sobre ele mesmo.

    Se fossem também divindades tão majestosas, entenderiam o quão encarecido de ajuda estava, pois também faria pouquíssimo sentido o “eu” anterior de Er’Ika incorporar memórias fúteis se eram mentiras. Por causas assim, simpatizar com as religiões destes mundo se tornava uma tarefa colossal.

    — Me desculpe se o grandalhão ali te deu um susto — disse Grey, ajoelhando-se na frente do menino. — Ele é assim, eu agradeceria se o perdoasse por ser rude.

    Enquanto Brutus, o brutamonte, era uma pilha de selvageria e falta de modos, Grey era o completo oposto. Poderia não ter a estatura e força de seu colega, porém demonstrava dignidade e elegância na aparência e comportamento, além de que o escudo bonito em suas costas e a espada pendendo na cintura criavam uma imagem de “nobre cavaleiro” ao seu redor. 

    Diante de alguém assim, Liane se sentiu até envergonhado por seu jeito tão legal, que relembrava sir Aymeric, uma pena que relembrá-lo tirou o brilho de seu rosto.

    — Está tudo bem…

    Grey reparou rápido na mudança de expressão do garoto, o que logo fez seu semblante entrar num estado de preocupação. Como forma de aliviar as coisas, decidiu mudar o assunto depressa.

    — Nos-Nossa, você tem olhos bem diferentes! — Ele inclinou o rosto para frente, prestando atenção nas íris do garoto. — Um vermelho e outro azul. Dizem que quando alguém nasce com cores diferentes, ele é abençoado pela magia e tem um talento natural para mana! Será que você seria um desses?

    — Que falácia… — resmungou um senhor no fundo.

    Liane não deu tanta atenção a essa pessoa em específico, um senhor de meia-idade com chapéu pontudo na cabeça e robes cinzas, cuja expressão cheia de olheiras refletia muitas noites mal dormidas. A julgar por seu temperamento, também devia ser alguém difícil de conversar, pois a sua postura e seu rosto torcido em aborrecimento, combinada com as próprias palavras, traziam a figura de um velhote que ficava na calçada reclamando de como a juventude atual era tão mal-educada.

    — Ludio, não seja assim — rebateu Grey, encarando-o por cima do ombro. — A sua mestra era um talento nato e possuía olhos diferentes, não é? Você mesmo costumava repetir como ela era abençoada por magia alguns anos atrás, antes de ficar ranzinza igual a um velho de bengala.

    Pelo visto, Liane e o moço tinham visões semelhantes.

    — Eu? Quem é você para me ofender assim? — O mago entrou imediatamente na defensiva, franzindo as sobrancelhas. — Só estou apontando fatos. Ter nascido assim não diz nada a respeito da sua habilidade com mana, como comprovado pelo Conselho Arcano há cinco anos atrás…

    — Bleh, aqueles cabeças brancas só são velhotes com suas bundas suadas num posto que não era para ser deles. Deixe pelo menos o garoto aqui sonhar.

    Ludio largou um longo suspiro, enquanto o menino ficou meio constrangido de permanecer lá. Na verdade, queria subir as escadarias e voltar para a cama, já que a briga no fundo entre Brutus e Joan continuou ao ponto de cansar sua mente. Dormir parecia muito atraente.

    No entanto, o cavalheiro ainda estava interessado naquele menino, até perceber uma certa falta de educação por sua parte.

    — Ah, onde estão os meus modos. Aquele ranzinza ali é o Ludio, o cara que te assustou é o Brutus, e eu sou Grey. Minhas apresentações são rápidas e modestas, além do mais, fui filho de camponesas e por isso considero que a melhor apresentação é aquela direta e breve, espero que possa me perdoar por isso. Aliás, qual o seu nome?

    — Ehh, eu não ligo muito pra isso. Me chamo Liane. 

    — Liane? E isso é nome de menino ou de menina?

    — Menino.

    — Ohh, pensei bem que seria isso. 

    O sorriso de Grey continuou no lugar, como o de um grande amigo disposto a oferecer uma mão caso caísse. Liane se sentiu à vontade diante dele, revivia uma impressão calorosa de segurança, como se nada pudesse abatê-lo. Ainda assim, seus olhos vacilaram um pouco por causa do sono vindo, ele logo foi até o balcão para deixar o copo por o copo de vidro. 

    — Huum… Boa noite!

    Sem mais nada para dizer, o menino deu as costas e rapidamente subiu os degraus, em nenhum momento olhando para trás. O clima voltou a sua habitual aparência após ele ir embora, enquanto os dois idiotas no fundo lentamente se cansaram de tanto xingar um ao outro. 

    O cavalheiro acompanhou com a cabeça Liane desaparecer detrás das paredes de madeira, enfim retornando à mesa que estava anteriormente e se sentando com os braços cruzados. Sua expressão, junto das demais, endureceu. Foi como se, após aquela figura infantil sumir, todos os presentes na sala assumissem um jeito sério. 

    Ao terminar de limpar o copo de vidro usado para beber água, o bartender saiu de trás do balcão. Os dois grupos, o de Grey e de Joan, encararam-no. 

    — Agora que estamos a sós, vamos discutir as coisas importantes… — disse, alisando seu bigode grosso e colocando a barriga para dentro ao mesmo tempo que estufava o peito. — Eu convidei vocês aqui para fazer um simples pedido: quero que se livrem desse maldito miasma.

    Eles não mudaram de expressão, na verdade, pareciam mais curiosos que antes, e enquanto estavam plenamente atentos ao que sairia da boca do bartender, ninguém viu uma peculiar sombra se movendo pela escadaria.


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