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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Er’Ika observou com bastante atenção aquela mulher. Seus olhos não estavam desse jeito antes, e a energia ao seu redor parecia mais intensa que antes. Ela abaixou a cabeça, deparando-se com a entidade transmutada, que rapidamente se esgueirou para a parede do lado oposto e foi perseguido pelo olhar.

    As pupilas vermelhas brilharam no escuro, contrastando com o rosto belo e simpático dela, porém a sua expressão distorcida por um sorriso sádico mudava a imagem de santidade que ela tinha.

    — Eu consigo te ver… — disse, apontando para a penumbra tremulante. — O que um dos meus faz aqui, tão longe de casa e ao lado de um garotinho indefeso? 

    Er’Ika odiou a forma de falar da mulher, mas já entendia o que essa coisa estava falando. Minúsculos olhos se projetaram ao longo de seu corpo escuro, enquanto a entidade precisou forçar mais um pouco para recriar algo que parecia uma boca, mas a criação estava torta e feia, cheia de dentes afiados e com um lábio inchado.

    — Quem é você e o que quer?

    — Sou apenas um amigo passando, e não quero nada além de saciar a minha curiosidade… — Ela fez uma reverência cruzando uma das mãos pelo peito. — Tomei controle deste corpo quando tive a oportunidade, as colegas dela nem notaram. Ia também matá-las assim que baixassem a guarda, e então senti você, um dos meus.

    — Eu não sou um dos seus, seja lá o que você for. — A dúzia de olhos se cerraram em nojo. — Ainda assim, você me é estranho. É o responsável pelo miasma infectando essa vila?

    — Oh, claro que não. Precisaria de muito mais do que apenas o meu poder para realizar tal coisa, quem sabe pode ser um grande ritual para trazer um dos nossos para cá…

    Uma risada suave escapou da boca da mulher, mas era tão macabra que qualquer um ouvindo tremeria da cabeça aos pés. Er’Ika não se sentiu pressionado, o costume de enfrentar coisas desconhecidas e analisá-las havia se tornado recorrente, ao ponto de quando entrava em ocasiões assim, sua mente funcionava a todo vapor para retirar o máximo de informação possível.

    A criatura na sua frente deveria ser um demônio. De acordo com as memórias de outras pessoas mortas, demônios eram monstros do submundo cuja existência se baseava em absorver e destruir a vida alheia para sua própria satisfação. Eles apareciam durante as mais escuras noites, e quem os encontrasse preferiria estar morto, pois ao se instalarem dentro da mente de alguém, a vítima sofreria longos períodos infernais enquanto estivesse viva.

    Ou seja, a coisa à sua frente estava causando um ciclo de angústia sem fim na verdadeira identidade daquele corpo. Er’Ika não evitou em mostrar um sorrisinho ao pensar como tal plano era malévolo e como tamanho sofrimento era possível de infligir num inimigo, mas logo voltou a realidade. Ele não era um demônio, tanto porque tinha mais autocontrole quanto não podia simplesmente “saltar” para fora de Liane. Ainda assim, sua curiosidade permaneceu mais alta que nunca.

    — Então por que veio pra cá? Dava para seguir sua vida consumindo a mortal que se apossou.

    — Eu estava curioso. Desde o momento que pus os pés na vila, tive a impressão de que estavam fazendo um grande ritual, mas eu não sabia quem. Então você apareceu de repente, senti uma presença forte vinda de ti, e fiquei curioso para agraciar meu novo amigo. Me perguntei se você era o responsável por isso…

    — Não sou. Se fosse, também não faria com que demorasse tanto para matar a população inteira deste lugar.

    — Oh, você é do tipo que prefere quantidade acima de qualidade? Conheci alguns assim no passado. Enfim, agora minha principal pergunta: Por que está com aquela criança? Ela é especial?

    — Não é da sua conta. 

    — Tão bruto… mas você sabe que basta eu entrar por esta porta e pegá-lo, não é?

    A gravidade repentinamente ficou mais pesada. Seja lá o que estivesse acontecendo, deveria ser culpa daquele demônio, que estava controlando o ambiente ao seu favor como forma de amedrontar, porém teve o efeito completamente oposto. Ao invés de assustar, quase tirou uma risada da entidade, seus lábios deformados tremeram prestes a se distorcer num riso.

    Er’Ika não tinha o poder de modificar o espaço ao seu favor, mas com certeza a sua mudança de forma abria infinitas possibilidades de como se demonstrar aos outros. Primeiro, ele alargou o tamanho da sombra até o teto, passando a revelar sua verdadeira natureza ao invés de uma mera penumbra.

    Olhos cresceram um por cima do outro naquele corpo preto, enquanto apêndices se retorceram ameaçavam se materializar diante dos olhos do demônio. Aquela figura, que mais lembrava um pequeno demônio se adaptando a sociedade humana, virou do avesso, seus tentáculos rastejando pelo chão enquanto as íris vermelhas arregaladas indicavam uma dimensão oposta ao esperado.

    De repente, o monstro que cogitou ser algo tão pequeno triplicou de tamanho. O que antes era uma presa, virou um caçador. Arrepios correram pelos braços da mulher, eletrizando cada parte de seu ser com o instinto primordial dos seres vivos: o de fugir perante ao medo. Ela queria correr, queria ir para as montanhas ou para o outro lado do continente, mas suas pernas paralisadas a impediram.

    A sombra pareceu tomar uma forma maior e lentamente se aproximou de seu rosto, ao ponto de uma respiração quente tocar suas bochechas.

    — Escute o meu aviso com atenção, criatura inferior: não me teste, apenas obedeça o que direi e sua vida será poupada. Vá embora agora mesmo, no meio da noite, e procure a fonte desse miasma enquanto espero. Se você não retornar para mim com mais informação, eu arrancarei o seu espírito e farei de você um fragmento do que já foi, e te colocarei num sofrimento maior que o submundo dos mortais. Você entendeu?

    O demônio acenou agressivamente a cabeça, lágrimas de sangue escorreram de ambos os olhos e sujaram as roupas brancas de santa. O coração ia explodir, ao mesmo tempo que seu corpo etéreo dentro daquela santa estava prestes a se desmanchar em pedaços. 

    — Agora vá, faça o que ordenei, e só volte quando tiver o que quero.

    Assim como ordenado, a mulher saiu o mais rápido possível, ofegante e sem olhar para trás. Sua mente tinha sido permanentemente marcada pela presença daquele demônio… não, daquele monstro, pois nem mesmo as categorizações demoníacas poderiam classificá-lo. Independente disso, sua vida estava por um fio, que a qualquer momento seria cortado pelas vontades dele.


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