Índice de Capítulo

    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Grey se acostumou rapidamente a nova vida, e quem teve culpa desse processo era aquela criança esquisita que vinha quase todo dia incomodá-lo em casa. Mesmo querendo dormir ou ler livros, o mesmo pirralho batia na porta e o arrastava para fora, deixando a mãe incapaz de fazer qualquer coisa além de rir e vê-lo desaparecer lá fora. Ao menos, era uma situação melhor do que se prender a quatro paredes e ver o sol completar o ciclo no céu. 

    Naquele exato momento os dois estavam andando ao longo do campo de flores, usando pedaços de madeira como espadas e batendo um no outro. Grey odiava esse tipo de brincadeira, por outro lado, Relena adorava acertar repetidos golpes e impor mais pressão. As nuvens no céu, junto do vento ameno da primavera, afagaram o clima ao ponto do calor ser um detalhe ignorado, o tempo até parecia se mover devagar, como se estivesse congelado naquele vilarejo.

    — Você tá muito lento, assim não vai me acompanhar nunca! — gritou Relena, atingindo a mão de Grey e derrubando o graveto. — Viu? Perdeu de novo! Você é muito frouxo e nem consegue partir para cima direito! 

    — Eu não quero brincar disso, é chato. — O garoto apanhou o graveto novamente, sua mão estava ardendo com a marca da pancada, mas muito dificilmente deixaria qualquer hematoma. — Por que que você insiste nisso todo dia? A gente poderia se juntar com os outros e fazer outra coisa.

    — Ora, porque eu quero me tornar um grande guerreiro! Papai diz que se alguém quer algo, deve se esforçar desde o início, então é melhor eu praticar e nem perder tempo com outras crianças!

    “Mas nós dois somos crianças…”, o pensamento cruzou a mente, Grey apenas não verbalizou porque sabia que seria irritante lidar com um Relena furioso ao ser rebatido. — Tá bem, mas tô cansado, quero fazer outra coisa.

    — Ah, sim, grandes guerreiros precisam descansar, é verdade!

    Grey franziu as sobrancelhas, tendo reparado há muito tempo como a respiração de Relena estava falhando e suor despencava aos montes pelo pescoço. Aquilo era só uma desculpa para terem uma breve pausa que pudesse recompor as energias, era um erro disfarçar daquela forma. De qualquer forma, pouco se importou, já que tudo o que o corpo queria era se jogar contra a grama e olhar as nuvens acima.

    Relena fez o mesmo, caindo ao lado e fazendo um anjinho de terra no meio das flores. Inúmeras formas apareciam nos algodões voadores lá em cima, de cogumelos a peixes brancos nadando num mar azul. Para os adultos, a infância era a melhor fase de uma pessoa, pois havia magia nas menores coisas, inclusive numa tarde de primavera. 

    Os dois apontaram para as diversas coisas que apareciam, tentando desvendar o que os ventos do norte diziam com suas nuvens engraçadas. Tal cena se repetiu ao longo dos dias, não tinha muito o que fazer além de brigar, cochilar, ajudar no campo e dormir. A tranquilidade se tornava uma ótima recompensa para os mais velhos, no entanto, para os mais novos cheios de energia, só restava um grande tédio na mente que os tirava de casa. 

    — Grey, você tem um sonho? — indagou Relena, depois de um longo bocejo.

    — Sonho? Hm… Eu queria poder viajar o mundo tooodo. 

    — Que sem graça. 

    — Ah é? E qual o seu sonho tão especial?

    — Eu quero me tornar o maior guerreiro do continente! — O menino (?) deu um salto e estufou o peito, cheio de orgulho. — Vou virar o maior e mais poderoso, igual o meu avô! 

    — Igual o seu avô? Por que igual a ele?

    — Ele foi um herói de guerra, as histórias dele eram maneiras e ele mostrava tanta honra! A espada dele tá até guardada no cofre real, mas não é como se você fosse ver um dia, hehehe!

    — E também não é garantido que você também veja.

    Relena franziu as sobrancelhas e pegou as bochechas de Grey, apertando-as ao máximo e causando tanta dor quanto possível. Ver o rosto do seu parceiro de lutas se contorcer de dor era algo que trouxe bastante felicidade, já que foi merecido depois de falar algo tão maldoso. Não demorou para também pegar o graveto que usava de espada para bater no topo da cabeça dele, logo chutando o outro graveto para retornarem à prática de novo.

    Assim continuou o dia, com batidas e pedacinhos de madeira se partindo igual brinquedos. Grey jamais admitiria, mas tempos assim lhe causavam muita felicidade, era a primeira vez que tinha um amigo tão próximo e que encontrava todo dia. No seu antigo estilo de vida, dentro de uma mansão e com direito a serventes, as outras pessoas da vila sequer chegavam perto, com medo de acabarem denegrindo a imagem do prefeito local. Agora, sem esse limitador, ele podia brincar com quem quisesse e da forma que queria, assim como Relena estava fazendo, tratando-o como semelhante.

    Ao anoitecer, eles voltaram para casa, ambos moravam no mesmo lugar, pois o contato de Topax era pai de Relena. A entrada estava uma baderna, havia várias pessoas na entrada. O coração de Grey ficou ansioso, era muito incomum aparecer tanta gente, então os dois apertaram o passo para ver a situação. 

    — Grey, Relena, aqui! — chamou Topax, no meio das pessoas e com a mão esticada.

    — O que tá acontecendo, tio? — perguntou o garoto, extremamente preocupado.

    — É a sua mãe, ela…!

    Apenas ouvir as primeiras palavras foi o bastante para incinerar algo dentro de Grey. Energia fluiu por ele dos és a cabeça, e logo suas pernas já estavam levando-o para dentro da casa, onde gritos e gemidos de dor reverberavam pelas paredes de madeira. Relena e Topax tentaram acompanhá-lo, mas foi inútil, ele chegou antes para presenciar a cena.

    Sua mãe estava deitada na cama, tendo as mãos apoiadas por duas mulheres de cada lado e com uma terceira trocando os panos que sujavam a cama, enquanto outra tentava tirar algo do meio das pernas de Dilia. Grey sentiu o pulmão se esvaziar e medo atravessar seu corpo conforme os gritos cresciam, e então um choro surgiu. 

    Sem saber, o garoto tinha presenciado um nascimento.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota