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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    O peito de Vylon subia e descia num ritmo desordenado de respirações. Aquilo não devia ser real, ou será que era? A noite assumiu uma posição de tirano acima da sua cabeça, castigando a cabeça com a visão assustadora. O bispo foi presenteado há anos com uma incomum habilidade de ver a alma de uma pessoa, de saber da sua moral e de onde veio, algo que usou por muito tempo para julgar corretamente os outros.

    No entanto, quando olhou para a alma daquele garoto, inicialmente sentiu um calor aconchegante, típico de indivíduos inocentes e de boa índole, até ser repentinamente arrastado para uma escuridão gelada e sem fundo. Ele vagou pelas sombras, rumo ao infinito, procurando o que quer que fosse aquela coisa, e então, avistou o que parecia um reflexo idêntico de Liane, mas com uma aura sinistra à sua volta.

    A imagem se distorceu, estendendo-se em todas as direções com apêndices deformados e sussurros infinitos. A forma daquela coisa — o que quer que fosse — alterava a todo momento, crescendo e diminuindo como se estivesse perpetuando a agonia de sair de um cásulo. Entender o que diabos era aquilo causava dores de cabeça ao bispo, mesmo assim, ele continuou investigando o máximo possível e encontrou a face de um monstro.

    Não tinha os chifres e os olhos cheios de loucura dos demônios, mas também não tinha as asas e o aconchego dos anjos. Se fosse um espírito, teria uma aparição distinta e seria medido de acordo com seu poder, mas aquela… coisa se diferenciava nesse aspecto, mais se assemelhando a um colosso do que uma mera aparição indecisa sobre o plano divino e demoníaco. 

    Vylon lançou água gelada no rosto, querendo limpar as retinas do que viu. Seus olhos apareceram no reflexo do balde, espiralando para um abismo, mas que não chegava aos pés daquele ser. O pior daquilo tudo era o quão inerte a criatura era, o quão estática se mantinha e como apenas uma pequena parte do corpo reagia em relação a sua presença. Ele se sentia uma formiga.

    “Isso… não tem precedentes… Nem bom, nem mau, algo completamente único e próprio, muito semelhante a um ser humano. Poderia existir uma coisa assim?”

    Entidades místicas e seres vivos eram considerados espectros completamente diferentes. Enquanto um seguia os instintos estabelecidos por seu corpo para sobreviver, o outro seguia códigos e dogmas, morais tão específicas que os limitavam a uma aparência quase unidimensional. Espíritos não se diferenciavam muito, eles estavam mais próximos de neutralidade por conta dos desejos e vontades que os estabeleciam no mundo, porém, nesse aspecto se aproximavam ainda mais dos demônios e anjos.

    Uma coisa que era igual aos seres vivos, mas cuja existência se encontrava em outro plano, era uma coisa muito assustadora para a mente de Vylon. Aquilo poderia mudar o ciclo e a compreensão de como funcionava o ciclo espiritual, do que de fato representava o bem e o mau.

    O bispo se livrou do restante da água dentro do balde do lado de fora, aproveitando para ter um ar livre que trouxesse calmaria. Assim que pôs os pés para fora, avistou um brilho vermelho na escuridão, fitando-o igual a uma flecha apontada para o peito. O homem não demorou para sacar uma espada da cintura, imaginando que estivesse prestes a lutar contra um demônio, no entanto, a silhueta se revelou.

    Era o garoto de antes, Liane, com uma face meio complicada enquanto o olhava. Vylon se acalmou um pouco, por questão de cortesia guardou a espada de volta na bainha e permitiu abaixar os ombros.

    — Me assustou, pequeno. Veio saber da sua irmã?

    — Sim, quero saber se houve alguma novidade.

    — Ah, que bom… — Um suspiro de alívio fugiu dele, que agora estava mais relaxado. — Mandei uma equipe espalhar a mensagem hoje à tarde. Receio que eles demorarão mais um tempo para retornar… Bom, por conta da hora, gostaria de se servir com os demais paladinos e sacerdotes?

    O garotinho negou com a cabeça, dando mais alguns passinhos em linha reta. A cada vez que seu pé batia no chão, uma pequena descarga elétrica passava pelos braços de Vylon e lhe causava vários arrepios, como se alguma coisa estivesse avisando-o sobre uma terceira presença naquele ambiente.

    — Tem mais alguma coisa que queira resolver? 

    Ainda assim, precisava manter a postura. Intimidar-se agora seria o equivalente a cair na cova, devia manter-se de queixo erguido independente do que lidava. Ele não era tolo, obviamente teria um medo de morrer diante do desconhecido, pois acreditava ainda ter muito caminho a trilhar e queria ver com os próprios olhos o futuro da nação que vivia.

    — Ele quer conversar com você.

    Essa frase sentenciou seus temores. Ele, a coisa, o desconhecido. Vylon não conseguia falar absolutamente nada, sua língua enrolou no fundo da garganta por conta própria e afugentou qualquer tentativa de compreensão, e na ironia do destino, o ambiente ao redor ganhou uma friagem repentina, pior que as geleiras distantes do norte e com ventanias do topo das montanhas.

    A sombra de Liane se retorceu, erguendo-se do chão e envolvendo o garoto em um abraço. Inúmera pupilas se materializaram do meio da escuridão, com olhos de sangue rodeados por espinhos pontiagudos. Não era um demônio, do contrário, Vylon detectaria sua aura e identificaria na mesma hora, mas também não era um ser qualquer, causando uma instabilidade nos seus sentidos.

    Er’Ika se mexeu igual uma massa gelatinosa, tentando aumentar seu tamanho, dando a impressão que a criança quem protegia tinha o dobro do tamanho. A área ao redor de Liane pesava, ocupada por uma oscilação de luzes e cores, aquilo era nada mais nada menos que a própria alma da entidade se manifestando.

    — Prazer… em conhecê-lo, bispo Vylon — disse a coisa, numa voz monótona e lenta, sem gênero definido. — Depois que nos vimos, fiquei curioso para conhecê-lo.

    — O que… o que é você?

    — Eu sou… definido por muitas expressões… Para sua alegria, demônio não é uma delas… 

    — Se você não é um demônio, o que é então?

    — Depende de como você me vê… eu posso ser um deus… ou um monstro.

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