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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Dias, semanas e meses passaram numa brisa gelada de inverno. Liane, todo empacotado em roupas, abriu a porta do orfanato e observou as planícies cobertas de neve se estendendo para além do horizonte. A floresta também foi coberta por uma faixa branca, as folhas das árvores se dobraram perante o peso dos flocos acumulados nas copas. Até mesmo o rio congelou, forçando os moradores locais a abrirem um buraco abaixo da superfície de gelo para pescarem alguma comida naquele tempo rigoroso.

    A paz reinava na vida da criança, parecia até que o tempo lentamente pela falta de acontecimentos. Antes, Justi e outros entregavam-no muitos problemas, desde ferimentos até roubar sua comida, mas desde que a cruz foi colocada na estrada, nada disso aconteceu mais. Logo, a vida de Liane se resumiu a passear pelo vilarejo, arrumar um livro para ler abaixo da falsa macieira do orfanato e ocasionalmente matar passarinhos para aumentar a quantia de conhecimento dentro de sua cabeça.

    Er’Ika insistia que precisavam dessa noção quando houvesse uma emergência. Era meio exagerado, talvez paranoico demais. Ainda assim a criança prometeu ajudar, e por isso continuou aquela matança, como resultado ele sabia como navegar inteiramente sobre aquela floresta. Se caísse lá, provavelmente sobreviveria sem problema, conhecendo desde os locais seguros para acampar até o território de criaturas selvagens. 

    Grandes nuvens fofinhas voavam acima de sua cabeça, detalhando a paisagem clara com mais tons alvos, relaxando a mente extremamente ativa de Liane. Seria outro dia normal, outro que passaria depressa e viria com uma noite fria, mas o conjunto de cavalos e homens vestidos com roupas grossas andando pela estrada de barro batida do vilarejo indicava o contrário. 

    Liane os observou atentamente, e quando viu outras pessoas saindo de suas casas para cumprimentá-los, considerou justo descer a encosta e ver tudo mais de perto. Como tinham poucas pessoas naquele horário, foi fácil avaliá-los. Eram diversos homens portando espadas e com brasões de uma serpente dourada no peito, cada um vestido com uma túnica branca e escoltando uma carruagem vermelha puxada por dois equinos de cor preta.

    — Eu também não… — sussurrou o garoto, puxando o cachecol para cima e escondendo sua boca. — É a primeira vez que eu vejo cavaleiros de perto. Que legal.

    — É meio maldoso você só pensar nisso, Erika. Eles podem só estar de passagem.

    Liane encarou o tal sujeito. Em seu rosto, havia uma cicatriz desenhada que ia da ponta do lábio até a orelha direita, seus fios grisalhos se camuflavam na roupa esbranquiçada, mas o cabelo preto estava tão evidente quanto o dia. Ao invés de uma espada na cintura como os demais, ele levava um martelo enorme nas costas, somado a um conjunto de bolsos em uma faixa cruzando o peito. Era bastante intimidador, especialmente por causa de seu olhar afiado.

    A criança respirou fundo e esfregou as mãos. Os demais pelo visto estavam com medo demais para chegar perto desse senhor em específico, era a sua chance. Seus pézinhos perfuraram a neve e o empurraram para perto, atraindo o olhar altivo e amedrontador daquele homem. Não dando nenhum passo para trás, seus olhos subiram na direção do gigante, e o nervosismo imediatamente impediu que fosse direto ao ponto.

    — Su-Suas roupas são bonitas, tio…

    — São…? — Ele levantou a sobrancelha, olhando para baixo e vendo seu colete de couro e o símbolo dourado de serpente costurado. — Obrigado, garotinha.

    Corando pelos comentários de Er’Ika, Liane continuou: — E-Eu queria saber o… o porquê o senhor tá aqui.

    O homem ficou meio sem jeito, o desentendimento causou um grande peso na sua consciência para como responder a essa menina. Primeiro, ele sabia que era feio e assustador o bastante para qualquer um dar um passo atrás quando o via, muitos adultos fugiam ao avistar a feia marca no rosto, mas aqui estava essa garotinha sendo mais corajosa que os homens crescidos do vilarejo. Ele se ajoelhou para ficar na altura dela, com ambas as mãos apoiadas no joelho.

    — Só estamos de passagem. Vamos ficar acampados aqui perto por essa noite, pois meus homens estão cansados e andamos o dia anterior inteiro, entendeu? Ninguém vai causar mal algum.

    Aquelas palavras foram estranhas aos olhos do garoto. Ao menos, agradeceu pela boa intenção, e já que ficariam descansando, talvez não faria mal oferecer uma mão amiga.

    — O senhor pre-precisa de algo? A irmã Zana pode ajudar, tem quartos disponíveis no orfanato…

    — Um orfanato, é? — Ele olhou por cima dos ombros e avistou seus homens se aproximando, dando um sinal para que parassem e permanecessem ali. Em seguida, retornou o olhar para a criança. — Tudo bem, me leve até lá para eu conversar com a sua irmã.

    Envergonhado, Liane deu meia-volta e caminhou rumo ao casarão no topo da colina, ouvindo e sentindo os passos pesados do cavaleiro logo atrás. Ao pararem na porta do orfanato, o homem de peito estufado bateu na porta, levando em conta que a pessoinha ao seu lado nem tinha altura para alcançar a maçaneta.

    Uma mulher ruiva atendeu, no entanto, teve uma leve paralisia ao avistar Liane ao lado desse sujeito com um enorme martelo nas costas. Ela ficou receosa, imaginando o que a criança poderia ter feito de errado.

    — Si-sim? No que-que posso ajudar?

    — Essa… essa… — A língua dele se enganchou. — Ca-ham, desculpe a falta de modos, eu sou sir  Aymeric Modri, cavaleiro da família Tanite, e essa garota me disse que você seria capaz de nos oferecer abrigo para os meus homens.

    — Oh…! — Ela olhou por um momento na direção de Liane, quase querendo recusar, mas aquele par de olhinhos azuis brilhantes a impediram. — Perdão, bom senhor, eu acho que posso oferecer quartos para alguns, mas não para todos. Eu-Eu posso preparar os que ainda estão disponíveis. 

    — Seria… seria bom, sim, seria bom, muito bom. — Ele desviou o olhar, dando as costas e marchando igual um boneco rumo aos soldados abaixo. — Com sua licença, vou avisar meus companheiros e já retorno.

    O homem foi se tornando cada vez mais minúsculo, até estar longe demais para ouvir qualquer coisa que dissessem. Foi nessa hora que Er’Ika reapareceu, comentando um ponto importante: Acho que ele está afim de Zana, a julgar pelo seu comportamento estranho.

    — Impossível ele ter gostado da irmã Zana…

    — Como é, Liane?! — chamou a mulher ao lado. 

    — Hã? Ah! Desculpa, eu não disse nada!

    Assim como Aymeric, a criança fugiu na direção dos cavaleiros abaixo antes de ser interrogada pelo que falou.


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