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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Liane encarou as mãos apertando seu pulso. Foi um susto ter ouvido aquelas palavras, especialmente quando entendeu o completo oposto delas, o de sofrer uma surra. Geralmente, quando escutava tal coisa como “Quero que você seja meu”, era uma de duas possibilidades: a pessoa queria fazer questão de escolhê-lo para apanhar, ou queria tomá-lo para que fizesse quaisquer coisas que pedissem.

    Ambas as opções soavam imensamente perigosas, proporcionando uma feição assustada e um par de olhos chorosos. A imaginação dele correu solta, prevendo o que aconteceria se fosse contra a vontade de uma nobre, incluindo até mesmo as futuras torturas.

    Aymeric, bastante conhecedor da personalidade inconsistente da senhorita, correu para separá-los o mais rápido possível, temendo que um surto de raiva machucasse o rosto da garotinha que havia sido uma graça para todos o seu efetivo.

    — Senhorita, por favor, se acalme — disse, também recolhendo a palma estendida contra o pulso do menino. — Ela não venceu, você teve a vantagem durante o duelo inteiro. Se fosse um embate real, teria ganhado há bastante tempo.

    — Me deixa em paz, seu chato! — Silva chutou a canela do cavaleiro, o que lhe ofereceu uma janela grande o bastante para passar por baixo de suas pernas e enrolar os braços no pescoço de Liane. — Eu preciso ficar com ela, essa garota é a parceira de treino mais perfeita que eu poderia pedir! Quero que ela venha comigo para a mansão, assim poderemos treinar juntinhas! 

    — Senhorita, nós não… 

    — Calado! — interrompeu, mostrando uma feia carranca ao ser negada. — É uma necessidade essencial minha! Você não sabe o quão frustrada fico por vocês, adultos idiotas, pegarem leve comigo! Ela me levou a sério e agora sei o que devo melhorar para subir de nível! O papai ficaria orgulhoso em descobrir o que aprendi, coisa que até aquela professora metida a besta não conseguiria fazer! Você concorda comigo, não é?

    Os olhinhos arroxeados se concentraram nos de sua “amiga”, o que se tornou combustível para as paranoias emergentes na cabeça de Liane. Esse sorriso torto no rosto era sempre um mal sinal, um pequeno aviso da malícia detrás de boas palavras.

    “O que? Não, não! Eu não posso aceitar e abandonar a irmã Zana pra apanhar de graça!”

    — Eu…

    — Eu não posso…

    Er’Ika estava em tempo de tentar se apossar da boca de Liane para contornar a situação, mas era tarde demais. A feição decepcionada de Silva indicava o veredito final, qualquer chance foi arruinada, se dessem um passo atrás agora, seria semelhante a puro interesse. 

    Uma onda de raiva se apossou do corpo espectral da entidade, seus futuros estariam seguros com apenas um joguinho de palavras, mas a criança burra recusou. Agora ele teria que ficar por anos nesse fim de mundo até outra oportunidade emergir, isto é se não demorasse até o fim da vida de um dos dois.

    — Tsc, que droga — praguejou Silva, pondo uma das unhas na boca para roer. — Jay, traga o mapa e me mostre onde estamos! Seja rápido.

    O soldadinho fez uma continência e saiu em disparada em busca do que lhe foi pedido, retornando com a mesma pressa de antes quando precisou buscar as espadas de madeira. Ele abriu o pergaminho e apontou para um ponto específico ali.

    — Estamos dentro do território do conde Minus — falou o soldado, traçando uma linha ao redor da região e então indicando outra parte ao lado. — Levando em conta que estamos ao lado da Floresta da Rosa Negra, e que a família Tanite tem um domínio muito próximo aqui, diria que é quase como uma fronteira entre as duas famílias.

    — Certo… — Umas mordiscadas a mais na unha a fizeram acelerar seu pensamento. — Tem algum problema eu tê-lo como meu consorte? 

    “Eu não entendi, que sorte é essa que eles tão falando?”

    — Não, não, isso é demais! — implorou Liane em voz alta, envergonhando-se ao receber uma enxurrada de olhares por ter gritado. — Ehh… Desculpa, mas eu…

    — Eu sou tão horrível assim…? — Silva baixou o mapa e encarou para o nada como se seu mundo tivesse virado do avesso. 

    — Não foi isso que eu quis dizer! É só que…

    — É só que…?

    Os olhos de Silva se encontraram com os dele, a seriedade naquela postura e a forma como os cachos prateados esvoaçavam lhe deram uma imagem completamente diferente daquele jeito infantil de antes. O garoto pôs as mãos na frente do rosto, deu as costas e correu, querendo se esconder da cena causada e do tamanho vexame passado. Ser esposo de alguém era algo que ele nunca pensou, e alguém se oferecia fácil assim para tê-lo era uma vergonha alta demais para aguentar por conta própria.

    — Ei, espere! Não terminamos de falar sobre como você seria o meu consorte!

    Lágrimas constrangidas escorreram pela sua cara. Er’Ika ria com essa ironia, mesmo que ainda revivesse a raiva pela recusa dupla. Ver essa criança tão abobalhada chorar por uma besteira, por uma “brincadeira de casinha” e fugir, enquanto o corpo morto de um garoto rastejava abaixo das raízes da árvores pela qual se aventuravam, era um contraste interessante de se observar.

    A entidade odiava permanecer tanto tempo ociosa, recolhendo informações e guardando o que importava, logo, a visita daquelas pessoas se tornou uma atração agradável para acabar com a monotonia. No entanto, o fato de ainda sofrer das frivolidades da infância lhe impressionava. Isso adicionou uma nova camada de dimensão para Er’Ika, que agora precisava pensar nele de uma forma diferente.

    Uma criança negar o casamento com outra era a coisa mais normal do mundo. Escapar de responsabilidades era comum também. E mais ainda dar as costas para oportunidades douradas por causa de sua falta de conhecimento para com o mundo. O deus do caos riu, achando interessante o desenvolvimento singular de Liane.


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