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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Surto. Um sintoma comum de estresse elevado, uma erupção psíquica de pensamentos e instintos que traz uma agressividade primal. Ele ocorre dada uma série de situações específicas, como o passado da pessoa e os últimos estimúlos que veio a enfrentar, mas para Dilia, essa reação era a única resposta. 

    A criança que devia estar no santuário escondido de Lithia desapareceu. A mãe, ao ver o berço vazio e os arredores quietos, teve um frio na espinha, tremores ameaçaram a ponta dos dedos e o rosto esboçando o pináculo da loucura. Suas mãos abriam e fechavam, enquanto o peito subia e descia para se acalmar, mas mesmo isso não controlava os nervos à flor da pele. 

    De repente, a força mantendo-a de pé desapareceu, seus olhos escureceram e o corpo caiu para trás, as mechas esconderam sua face desprovida de vida. Peny a segurou, evitando qualquer maior desastre, no entanto, a preocupação espiralou em desespero. Já bastava o desaparecimento da criança, agora a professora num estado catastrófico causaria um efeito dominó em todo mosteiro.

    — Alguém, rápido! — gritou, largando qualquer tentativa de esconder o santuário. 

    Não demorou para que outras irmãs viessem ao resgaste, e assim que se situaram do que aconteceu, rapidamente acionaram qualquer pessoa no local para colaborar. Dilia foi levada às pressas a enfermaria, cuidada por uma outra irmã conhecida de Peny que sabia milagres de cura e recuperação. Monges também vieram, acompanhados de Morf cuja calmaria desapareceu muito fácil.

    Ele usualmente tinha um semblante sereno, desprovido de conexão com o mundo, mas aquele momento exigiu o máximo de suas capacidades mentais e traçou complicações ao longo da mente. Ao menos, não possuía fúria alguma voltada a Peny, pois a situação de fato exigia urgência se fosse necessário revelar a localização do santuário.

    Ambos moveram irmãos e irmãs para fora daquele local, espalhando-os para procurarem a filha de Lithia em qualquer lugar que estivesse. A essa altura, todos reconheceriam a pequenina após o teste validá-la como o maior tesouro da igreja. Os dois aproveitaram dessa oportunidade para conversarem, levando em conta que não haveria mais nenhuma oportunidade depois daquilo.

    — Eu não sei para onde foi e tenho absoluta certeza de que a deixei aqui antes de ir, ponho toda a certeza do mundo que ninguém mais além de nós dois e Dilia daria a localização do santuário. 

    — Irmã, tem certeza que não houve nenhum invasor? Um forasteiro que entrou por aqui e viu nossas atividades? Ou talvez… não gosto de imaginar isso, mas poderia ser aquelas aparições demoníacas?

    — Meu maior medo é justamente que seja isso, Morf! — o tom de voz elevado descartou honoríficos e etiqueta. — Se por um acaso o bispado chegar e descobrirem isso, seremos despostos e executados na hora! Pensarão que estamos tramando com demônios, ou pior, que somos um culto secreto!

    — Está deixando os sentimentos subirem muito a cabeça, irmã, não há como o bispado e a igreja acreditar em bulhufas. Temos uma filha de Lithia, por que a deusa permitiria que ela estivesse conosco?

    — Não faço a menor ideia, a deusa planeja e age de jeitos misteriosos…

    Peny arrumou seu chapéu preto para que não caísse de tanto suor que escorria da testa. O nervosismo de que a pobre criança sofresse nas mãos de uma aberração, ao ponto dos pés da irmã frequentemente tremerem e suas mãos enroscarem no colar com triângulo, símbolo da deusa. Quando estivessem ao lado da deusa, os responsáveis por suas execuções seriam muito bem punidos, mas ela queria ao máximo não morrer para salvar aquela criança, e caso conseguisse, faria um grande favor aos fieis pelo mundo.

    Depois daquilo, os irmãos e irmãs procuraram por todos os lugares, seja na comunidade, na floresta próxima ou nos vilarejos das redondezas, porém ninguém a encontrou. Pior disso era o pessoal reduzido do mosteiro devido a época de chuva, mesmo que os chamassem de volta, muito provavelmente não haveria tempo para prevenir o que quer que tivesse acontecido com Cristal. 

    Alguns se desmotivaram a procurar mais, ao mesmo tempo que outros entraram em histeria por perderem a filha de Lithia. Era um pecado gravíssimo, e não demorou para no meio da madrugada encontrarem corpos pendurados nos morros por cordas ou envenenados no piso do mosteiro. 

    Este era o resultado de tirar o maior tesouro dos fieis, uma perda completa da fé e da humanidade.

    A lua se ergueu no céu mais uma vez, sua face parcialmente coberta pela sombra, escondendo o macabro em mistérios e dúvidas. Grey ficou ciente de tudo o que aconteceu desde o começo, ele acompanhou de longe o desenrolar do desaparecimento de sua irmã com a mão no coração, apenas para naquela madrugada carregar ela em seus braços.

    Seus passos ecoaram ao longo do imenso corredor, as pinturas e estátuas de santos o observavam com vergonha, pares de pupilas escuras viam-no em meio as penumbras. O terror estava no ambiente, não naquela figura colossal parada no final do caminho, uma criatura sinistra com íris vermelhas e cabelo grisalho, que tossia baixo e se mantinha encostado na parede.

    — Trouxe-a, garoto? — A manifestação perguntou, com um riso malicioso nos lábios.

    Grey acenou positivamente com a cabeça, receando a cada passo que dava. Ao chegar bastante perto, ele ergueu o queixo e se deparou com a silhueta, um homem enorme cujo corpo tremulava com as rajadas de vento, prestes a se dissipar igual fumaça. 

    — Você realmente a achou… chego a sentir orgulho da sua ingenuidade. 

    O demônio estendeu a mão, como se pedisse para receber a bebê, mas o irmão mais velho olhou para o braço dele e recuou. 

    — O que há? Tivemos um acordo, não tivemos? Eu disse para achá-la, do contrário a mataria na hora. Você está recusando minha boa-fé?

    Não conseguia responder. As palavras embargaram na garganta, presas por uma linha fina de culpa. Ele não devia ter feito aquilo, mas foi coagido por conta da vida de sua irmã e mãe, além da própria. Garras cresceram da pele do monstro, tocando suavemente a bochecha de Grey.

    — Não me culpe pelo que farei a seguir, menino, isso tudo aconteceu porque você quebrou nosso acordo…

    As garras se transformaram em dentes, e os dentes em uma boca enorme, prestes a engolir aqueles dois em um trágico fim. No entanto, antes de sequer encostar neles, uma flecha flamejante iluminou o corredor e atravessou a pele do demônio, fazendo-o soltar um guincho fino e ser empurrado para trás.

    — Fique longe dos meus filhos, criatura asquerosa!

    Aquele grito veio de ninguém mais, ninguém menos, que a própria Dilia.

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