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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    O Demonicon teve cada página lida. Liane fechou o livro e respirou fundo, como se terminasse o estudo do século. Levou tempo demais para registrar cada coisinha que Er’Ika desejava.

    Valeu muito a pena. Agora eu tenho uma noção aproximada de como os demônios funcionam, e se somado ao conhecimento daquele ex-paladino, diria que somos especialistas no assunto.

    “Tomara, eu já não aguentava mais tanto texto… As imagens eram legais, pelo menos.”

    Era algo típico para uma criança comentar, uma pena que tinha pouquíssima noção do conteúdo daquelas folhas. Uma das coisas mais interessantes se tratando do livro era a respeito das classificações e de parte dos rituais citados. Haviam níveis entre demônios, uma hierarquia complexa feita de círculos e funções — por exemplo, o dragão era considerado um ser de média-alta hierarquia, representando os venenos e a magia sombria, enquanto o espírito maligno que possuiu Milea era um de baixa-média classe, capaz de se apoderar do corpo de outros e parcialmente mudar suas formas, mas eram tão numerosos que não haviam reconhecimentos específicos. 

    O ritual feito pelos cultistas se chamava “Ascensão Escura”, resumia-se ao sacrifício de almas para o submundo em troca de um aumento da energia demoníaca. Havia um limite natural para o tanto que alguém suportava, além do mais, Er’Ika entendia melhor que qualquer um como a estrutura fisíologica se assimilava a um copo ocupado por diversas forças, e como esse copo transbordava se colocasse líquido demais.

    Em outras palavras, aquela sombra que enfrentou no mundo imaginário, quando Liane quase foi sacrificado contra o cultista da foice, era um aglomerado de almas corrompidas. A escolha de crianças e grávidas vinha da questão de pureza, as primeiras seriam escolhidas por sua falta de “pecado”, enquanto as gestantes simbolizavam a fertilidade e a vida.

    Essa questão chegava a lhe dar nojo, no entanto, comprovou que era plenamente possível o controle, manifestação e movimento de espíritos. Imaginou que realizar uma engenharia reversa talvez funcionasse, porém, inevitavelmente sua alma precisaria de um novo receptáculo, coisa que não tinham naquele momento. Outra nota entrou na sua lista de objetivos, que agora ia ganhando tamanho.

    Certo, temos muitos caminhos…

    “Hum? Como assim?”

    Estou pensando no próximo passo, pequenino. Não podemos ficar juntos para sempre, lembra?

    “Verdade, você faz muito barulho na minha cabeça.”

    Me chamou de falastrão?! Como ousa!

    Uma risadinha fraca escapuliu de Liane, que adorava ver o jeito irritado de Er’Ika, mas ainda assim concordava. Ele queria viver tranquilo, sem se envolver nas grandes aventuras e somente ter a irmã ao seu lado, vendo o tempo passar e talvez trabalhando nos campos. Na realidade, mal desejava conhecer o mundo, tinha muito medo do que se escondia no horizonte, as experiências recentes apenas reforçaram o sentimento conflitante mais uma vez. 

    — Erika, será que devíamos procurar a Silva?

    Levando em conta que ela gosta de você e te “deseja”, pode ser uma ótima ideia.

    — E-Ei! Não é nada disso! — Com um bufo raivosinho, o garoto corou, inflando as bochechas. — É-É uma forma de falar, Silva não tem habilidade com as palavras e prefere ser direta!

    Oh, quer dizer que acertei em cheio. Entendo.

    — Cala a boca! 

    — Com quem está falando, mestre Liane?

    O garoto engoliu seco, assustado pela voz. Er’Ika se manteve quieto o tempo inteiro da presença, optando por surpreendê-lo com aquela pessoa. Liane virou-se, deparando com Celine usando uma bengala para andar e acompanhando-o a poucos passos de distância. Um certo alívio passou pelo seu semblante, felizmente ela não podia julgá-lo pela expressão.

    Dixculpe, estava conversando com a minha fada… — respondeu, meio envergonhadinho e se aproximando da menina, pegando sua mão e apoiando-a no ombro. — Não ande sozinha, é perigoso.

    — Mestre Liane, sua compaixão é admirável, mas receio ser desnecessária. Posso me virar muito bem… e não quis interromper sua conversa, perdão.

    — Por favor, não se preocupe. Nós já terminamos… Ah, e também nada de se achar porque já fez isso sozinho! Zana ficaria louca se você se machucasse por cair em algo!

    — Como se isso fosse acontecer… — murmurou, com um pingo de desdém.

    — Hã? Disse alguma coisa? 

    — Não falei nada, mestre Liane.

    Essa menina é uma graça, tenho gostado dela cada vez mais.

    O comentário esquisito de Er’Ika deu um frio na espinha. Quando se interessava por alguém, a entidade demonstrava um comportamento obsessivo e avaliava os mínimos detalhes, criando até um mural de rotina sobre os outros e seus comportamentos. Talvez por ter vindo com Zana, Celine deve tê-lo interessado, causando essa situação esquisita.

    De qualquer modo, ambos andaram como diário ao longo da vila. Não tinha tanto para ver — além do mais, um deles já passeou inúmeras vezes por ali e a outra não enxergava. —, deixando a surpresa mais para os transeuntes para a pequena feira que começou a aparecer com a recuperação dos residentes. Uma vila não podia ficar parada para sempre, rotas comerciais e o fluxo do dinheiro corriam nas estradas, forçando a cedo ou tarde os comerciantes se aprontarem. Em circunstâncias normais, a Vila do Dente seria evitada, mas com o surgimento de um dragão, não era absurdo esperar diversos mercenários, aventureiros e gente curiosa passando pelo aro carcomido da entrada.

    Enquanto isso não acontecia, somente o clima decrépito e os gemidos de ratos sendo levados por pássaros. Nada de novo para se ver, nem para ocorrer, apenas uma constante prova do que aconteceu noites antes.

    — Mestre Liane… posso perguntar uma coisa?

    — Pode, e não precisa me chamar de mestre, nem sei porque você começou a falar assim.

    — É um respeito às pessoas que usam magia. Enfim, ouvi muito por cima sua conversa, mas quem é Silva?

    — Ela é uma amiga minha que ajudei muito. Acho que é uma nobre também… 

    — Hm, mestre Liane é realmente um senhor de surpresas. Pergunto isso porquê lembro da mestra Zana falar de um panfleto que viu procurando por você, usando o brasão dos Tanite.

    O menino parou o passo repentinamente, travando os pés no chão. 

    — Você está falando sério…? 

    — Por que eu mentiria para o senhor? 

    Oh, isso é um desenvolvimento inesperado…

    — Preciso ver o bispo Vylon, agora!

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