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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Humanos se comparavam a uma complexa máquina — afete uma peça e o restante da estrutura lentamente perde sua eficiência ao longo do tempo. Algo em Liane se partiu, esse pedaço se transformou em poeira repentinamente e parecia carne morta que saiu de seu corpo para nunca mais retornar. Doía respirar, doía olhar, doía mexer, doía tudo, no entanto, ao se comparar com o vazio incomensurável consumindo o terreno em sua mente, essa dor não era nada. 

    Ele queria desaparecer da face da terra, talvez a morte no rio evitasse essa quantia de angústia. Os momentos rebobinavam em sua cabeça a todo vapor, com as memórias felizes ganhando pinceladas cinzas conforme assistia a cada uma com lágrimas silenciosas escorrendo pela ponta dos olhos. Por mais alegre que estivesse naquelas imagens, no presente, ele não passava de uma carapaça vazia. Era um destino cruel para uma criança, para um garotinho tão novo que sonhava com as coisas mais abobalhadas possíveis e cujos dias iam e vinham sem importância.

    Agora, tudo o que sobrou foi aquele sentimento de impotência. Quantas vezes precisou ser vítima? Quantas vezes enfrentaria o ódio dos outros por algo que não era sua culpa? Quantos meses, anos, décadas ou séculos precisava para somente viver em paz nos confins do mundo? Ele só queria ficar sossegado numa cabana, abaixo de um céu azulado, com o canto dos pássaros lhe agraciando durante as manhãs e com longas caminhadas por um enorme bosque.

    Uma pena que a realidade continuava dura e maligna, jogando-o num quarto escuro, com um teto de pedra acima de sua cabeça e com irritantes zunidos ecoando pelos tímpanos. O ódio estava lhe consumindo, a raiva de si mesmo aumentava enquanto os segundos reviviam cenas repletas de sangue, cada uma martelando ainda mais fundo aquele sentimento que se acorrentou ao coração.

    Tamanha a vergonha de si, tamanha a ira daquele corpo fraco, tudo culminava num choro constante, que logo transformou seu rosto quieto em uma péssima carranca furiosa, ao ponto de seus dentes se cravarem fortemente na pele do braço como uma forma de conter a torrente de fogo em seu peito.

    O grito de Er’Ika não o trouxe a realidade, mas ao menos a entidade afrouxou a mordida para evitar piorar os danos, deixando somente uma marca roxa para trás. Ele sabia como o garotinho estava fora de si, no quão explosivo se demonstrava e como segurava as centenas de milhares de formas de amaldiçoar o ser dentro habitando seu corpo. A entidade reconheceu tudo, mantendo-se em silêncio para se esquivar de problemas desnecessários e ocasionar uma nova crise no receptáculo.

    — Você é péssimo em ajudar os outros.

    — Qual seu problema, Erika?! — Liane ergueu o tom, sua expressão irritada retornou mais rápida do que nunca. — Por que você nunca fala comigo bem nas horas certas? Por que você sempre tá só buscando a vantagem no que fizemos ou coisa do tipo? Que droga, que droga! Você era para ter me deixado morrer naquela encosta, pelo menos eu não estaria aqui agora, quase morrendo de novo e de novo! 

    O pequenino permaneceu quieto, seu silêncio dizia muito por conta própria, mas as chamas voltaram a se acender no seu peito, incendiando a cabeça e logo o restante dos membros. Ele queria mais do que tudo refutar, de dizer mil e uma asneiras para calar Er’Ika e suas bulhufas de “ser superior” do qual tanto se gabava, por mais que sua vida fosse embora assim que um dos dois morresse.

    Aquelas palavras equivaleram a uma chuva pesada sobre a cabeça. Essa honestidade era comum de Er’Ika, no entanto, era contida por uma barreira cheia de lógica, que acabou de ser derrubada pelo seu descontentamento com o garotinho falando bobagens ao vento e querendo sobrepor o seu ego ao de todos. Tal egoísmo deu nos seus nervos, ao ponto de estourar sua paciência em estilhaços.

    O silêncio reinou no ambiente. A voz da entidade emudeceu, indo para longe conforme seu diálogo continuava. No final, não sobrou nada além do próprio Liane deitado na cama, encarando o teto em busca de alguma ajuda e apoio no meio daquele caos. Foi tarde demais para perceber o quão errado era o que falou, da sua ingratidão para com a entidade e como de fato era a pior escolha ter a morte como objetivo.

    — Erika…?

    Sem resposta. Aquilo dizia muito, e novamente Liane se pôs a chorar, sozinho no quarto, mais do que nunca querendo a companhia da entidade arrogante que lhe causava tantas dores de cabeça, mas que sempre esteve ao seu lado.


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