Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 69: Insônia
Se antes Grey possuía dificuldade de dormir, ele não mais cairia no sono. O combate contra a mulher, somado ao seu pavor da morte passando por um triz, tomou um espaço enorme em sua mente. Seus braços ainda tremiam de hesitação, um paladino como ele não deveria se sentir desse jeito em situações assim, deveria trazer a coragem dentro de si e contornar o medo, mas parecia impossível.
Após neutralizar a ameaça, foram chamados os guardas para lidar com o restante da situação. Jessia foi acorrentada da cabeça aos pés e levada rumo a prisão local, mas seu olhar sanguinário causou calafrios até na alma do paladino. Quando a situação enfim se acalmou e algumas das pessoas saíram de suas casas para se informarem do ocorrido, o ambiente perdeu certo peso.
Ele engoliu seco, vendo as costas da senhora encolhendo ao lado dos capacetes e lanças dos guardas. As batidas do seu coração só deram trégua ao não vê-la mais, uma pena que o dano já estava feito, aquele medo se enraizou em seu cérebro e não daria tempo para sair. Enquanto os mercenários e aventureiros retornavam para cama, Grey só pôde pensar nas palavras e na luta rebobinando na mente.
Jamais havia enfrentado alguém tão destemido a matar quanto ela, nem mesmo as bestas dentro da floresta ou os inimigos dos seus anos de aventureiros tinham essa mesma intenção sanguinária. O mundo tinha sido jogado em seus ombros no momento que os dois cruzaram as espadas, e ele só percebeu isso tarde demais, pouco antes de ver a ceifeira atravessar seus olhos.
— Não fique parado aí pensando em nada.
Um tapa atingiu sua nuca. Era Relena, a mulher fortona, dando-lhe um olhar penoso da cabeça aos pés. Isso imediatamente fez Grey corrigir sua postura, tirar o jeito corcunda e colocar uma faceta mais digna. A moça soltou um bufo contente, cruzando seus braços e levando os olhos na mesma direção que seu colega.
— Você sentiu, não sentiu? Que aquela pessoa era uma guerreira de verdade.
— Sim, acho que senti isso… Droga, minha garganta fica coçando por causa disso.
— A maioria das pessoas sente o mesmo quando lida com um oponente assim. É falta de costume.
— Falta de costume? Eu já lutei tantas vezes que perdi a conta, e você diz que é falta de costume?
— Bem, não lutou tanto quanto eu, então digo sim que é falta de costume.
O paladino revirou os olhos diante desses comentários, estava meio ofendido por aquela abordagem depois de passar por uma experiência traumática. Por outro lado, a gratidão de Ludio ter salvo sua vida era gigantesca, pensava até como iria recompensar o velho rabugento mais tarde.
O dia tinha tudo para ser uma bela noite, uma pena que a cena no meio da rua trouxe tantos problemas e fez seu corpo ficar em estado de alerta. Hoje o sono seria igual a zero.
— Eu vou caminhar um pouco. — Ele acenou com uma das mãos, seguindo os tijolos de pedra. — Volto depois, e não liguem pra ladrões, lido com eles se precisar.
Seus amigos franziram as sobrancelhas em curiosidade, Brutus até pensou em pará-lo, porém Ludio impediu o grandalhão de continuar colocando seu braço no meio. Um aceno de cabeça do mago teve o mesmo significado de “Deixe-o, é melhor”. Assim, ambos retornaram para o quarto com expressões desconcertadas. Quanto às meninas, elas ficaram por mais um tempinho antes de também entrarem, exceto por Relena, que acabou indo atrás dele depois de cuidar dos ferimentos de Milea.
Grey andou rumo a uma ladeira. A vista de lá era incrível, especialmente ao pôr do sol, logo, tornou-se um ponto confortável para o paladino passar seu tempo livre. Era a primeira vez que vinha num horário tão tarde, mas pouco importava, era melhor do que remoer os pensamentos em busca de uma resposta para sua vergonha.
“Não é lá aquelas coisas… Mal dá pra ver qualquer coisa direito.”
Estava tudo escuro, apenas pequenos focos de luz laranja apareciam espalhados pela cidade, seja pelos guardas fazendo sua rotineira ronda ou um casal muito amoroso no dia planejando algo tarde da noite. Acima da cerca de madeira delimitando a descida, infinitas estrelas dançaram com o véu roxo da noite, parcialmente ofuscadas pela lua, fazendo um tapete para os astros celestes sapatear.
Esse cenário engraçado arrancou um sorriso do seu rosto. Podia ser bobo, assim como as histórias infantis do seu tempo de criança, só que não custava nada em pensar como deuses deviam se divertir bastante com tudo o que criaram.
— Ei, idiota, melhorou? — perguntou uma voz na sua frente.
Grey esperava ela vir cedo ou tarde. Subindo a ladeira de antes, Relena, com seus olhos afiados e rosto impassível, apontou o dedo em sua direção.
— Não vem com esse sorriso seu, não sou enganada por isso.
— Eu já estou melhor… só fico me perguntando o que os outros acreditarão se sabem que você veio atrás de mim de fininho, saca?
— Como se eu fosse ligar… — Depois de respirar fundo, ela assoprou o fio de cabelo no meio do rosto e enfim pôde pular a cerca, ficando ao lado do paladino. — É melhor conversar com você sozinho que no meio delas, me sinto mais à vontade.
Aquela sua amiga sempre mantinha um rosto forte e esse jeito apático quando perto dos outros, mas sozinhos, ela se soltava um pouco. Uma risada fraca escapou da boca de Grey.
— Lembrei de quando éramos crianças, sabia? De quando a gente lia os livros de contos de fadas na vila e inventamos que tipos de aventuras teríamos quando crescêssemos. Sinto falta desse tempo, eu achava que era um sonho bobo, mas depois que a gente tomou caminhos diferentes e nos reencontramos, deu certo… Em pensar que você tava trabalhando de guarda-costas nesse tempo.
— Só não é menos cafona que você sendo um padre da igreja… — Ela mordeu a ponta da língua. — Droga, aquele cabelo zoado dos padres é de matar qualquer um.
Nesse instante, o paladino manteve a boca fechada. Seus lábios se mexeram, mas a hesitação tomou conta, permitindo que o silêncio entrasse e a conversa perdesse o rumo.
— Desculpa, eu falei besteira, desculpa — disse Relena, corrigindo-se rapidamente.
— Tudo bem… — Outra vez nenhuma palavra veio para apaziguar a situação já ruim, até que Grey enfim decidiu confessar o que tanto lhe incomodava. — Aquela moça, a que cuidava do menino, tinha o mesmo olhar dele.
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