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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Grandes tragédias sempre eram protegidas por um momento de paz. No condado de Minus, era comum vários vilarejos se reunirem para um conselho improvisado, em que o próprio conde aparecia para julgar certos líderes e também para organizar a administração do feudo. Essa prática, anos mais tarde, veio a ser adotada por outros nobres, mas naquele momento, ela serviu para sentenciar alguém a morte.

    — Greyson Onix, por seus atos corruptos e pela sua falta de vergonha para com o conde Minus, o conselho o declara como culpado das acusações!

    Corrupção. Tal fenômeno era muito fácil de acontecer, mas quem era verdadeiramente corrupto jamais seria pego. No caso de Greyson, ele caiu por ser “certo demais”. O banco que o mantinha em pé foi chutado para longe, fazendo o pescoço se pendurar na corda. Levou longos segundos para os braços e pernas pararem de se mexer, as pessoas mantiveram os olhos abertos a todo momento, cada um demonstrando uma hostilidade cruel para com aquela pessoa.

    Sua esposa, com o coração pesado e as palavras embargadas dentro da garganta, abaixou a cabeça para não olhar a cena. Ela conteve os gritos de injustiça dentro de si, do contrário, também seria colocada ao lado do amado na forca. Não parecia muito radical ter esse final, porém confiava em ninguém além dela própria para cuidar do filho único.

    A mulher pegou na mão do garotinho que se escondia atrás dos barris dos becos, enquanto seus olhos continham inúmeras lágrimas conforme se encaminhava para uma carroça cheia de feno. Este era o meio de fuga deles, uma forma de obter outra vida longe das loucuras das pessoas comuns. Os dois subiram na carroça, o colcheiro estalou as rédeas e os cavalos partiram para longe dali, rumo a fronteira do condado, longe o bastante para construírem uma nova vida e uma nova identidade. 

    — Mamãe, para estamos indo? 

    — Para um lugar longe, querido. Será uma viagem demorada, então descanse bem muito, tá bom?

    — Mas por que vamos pra lá? E por que o papai não tá com a gente?

    — O papai teve que fazer uma coisa importante, ele não voltará tão cedo. Só tenha calma, vamos nos divertir bastante quando chegarmos. 

    O menino cogitou pressionar um pouco mais, mas a expressão desolada da mãe o interrompeu de qualquer coisa. Ele era Greyson Onix Junior, ou Grey, como foi apelidado, filho de Greyson Onix e Dilia Onix. Ele era o filho de um prefeito corrupto, alguém a carregar os pecados de outra pessoa pelo resto da vida — isso resumia sua imagem na mente dos homens comuns.

    Para Dilia, no entanto, seu filho não carregava nenhum peso, pois seu marido jamais cometeu erro algum. Tudo aquilo era uma armação, um meio de tirar alguém que não colaborava com os esquemas mesquinhos do conselho e do conde. Ela estava furiosa, prestes a encarnar um demônio na carne, se não fosse pelo seu filho, sua consciência teria se entregue a insanidade e estaria naquele momento matando a multidão com uma lança. 

    Seu âmago queria isso, queria mais do que tudo no mundo, o gosto da vingança em forma de sangue nos lábios.

    “Seja forte, por favor.”, as últimas palavras de seu amado ressoaram dentro da cabeça, convocando mais lágrimas nos olhos. — Por que o mundo tem que ser injusto?

    A pergunta os acompanhou durante a viagem inteira. Demorou anos para Grey entender o verdadeiro significado daquela dúvida de sua mãe, na época, sendo uma criança e tendo demorado um pouco para amadurecer, a visão idealizada do mundo ainda estava presa a ele. A realidade era suja, usufruía dos fracos e consumia os que não a suportassem, o que se tornou destino comum de inúmeras pessoas.

    Muitos dias de viagem tomaram mãe e filho, que dessa vez só tiveram tempo para trocar palavras simples e observarem a paisagem mudar conforme as rodas passavam pela estrada de barro. O colcheiro quem dirigia era um homem fiel a Onix, seu guarda-costas pessoal e amigo de infância, eles dois compartilharam vários momentos juntos, e depois de saber que o perderia, prestou-se a ajudar pelo menos a família.

    Foi uma boa janela escapar durante o acontecimento do conselho, assim a maioria dos locais que pretendiam passar teriam pouca vigilância, o momento perfeito para terem zero interrupções. Finalmente, para atrair um sorriso no rosto deles, o vilarejo que ficariam pelos próximos tempos surgiu na distância.

    Era primavera, flores pavimentavam os dois lados da estrada, enquanto cercas desgastadas devolviam uma nostalgia. Dilia sentia bastante desse sentimento, tendo vivido grande parte dos anos no campo e cuidando do gado como uma pastora. Agora, ela mais ou menos retornaria a esse estilo de vida, os luxos terminaram para sempre e teria que arranjar um meio de sustentar os dois por longos anos.

    Topax, melhor amigo de Onix, também colaboraria na questão monetária, no entanto, dali para frente diversas dificuldades os assolariam. Ele parou os cavalos próximos a uma casa, a de outro amigo que cumprimentou na porta de casa e ofereceu ajuda para aqueles dois em estado de necessidade. Da janela, um fiapos de cabelo espetado e olhos de amêndoa observavam os novos visitantes, cheios de curiosidade para descobrirem quem eram.

    — Filho — chamou Dilia —, ande um pouco, ficaremos um bom tempo na companhia do senhor Nimo. Aproveite para explorar, como você gostava de fazer.

    Grey apenas acenou com a cabeça, com passos travados em direção ao carpete de flores na entrada do vilarejo. Ele sabia que aquilo era uma forma discreta de sua mãe dizer que resolveria “coisas de adulto”. Resolveu ignorar o jeito óbvio, andando sobre a grama e criando cenários inusitados na cabeça, igual a uma criança qualquer da época.

    Para melhorar um pouco aquela tarde quente de primavera, ele avistou um rosto no meio das flores, com o cabelo espetado se erguendo no meio de inúmeras cores das pétalas e com as íris claras se destacando dentre os diferentes tons.

    — Ei, você é o garoto esquisito que chegou! — o menino(?) disse, saltando para cima e apontando o dedo na direção de Grey.

    — Eu? Você quem é esquisito aqui!

    E assim se iniciou uma amizade inusitada, após o evento mais sombrio da família Onix.

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