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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    — Opa, opa, opa — Jessia aumentou o tom de voz, puxando Liane para trás pela mão. — Vai com calma, mocinha, quase ia atropelando o menino.

    Er’Ika não esperou tal coisa vindo dela. Na realidade, estava esperando que os dois fossem abandonados durante o raiar do sol, tendo de antemão tirado dinheiro da aljava por precaução caso isso acontecesse. Só que, contra suas expectativas, aquela mulher ainda estava ao lado, planejando inclusive os próximos passos tendo o garotinho em sua mente.

    Ao menos, tê-la consigo facilitava a vida em diversos aspectos, e também se livrava de possíveis inconveniências, como a coisa na frente deles. Averiguando com mais atenção, era possível enxergar os traços do miasma passando mais intensamente na pele da garota, mas não foi isso que gerou um estado de alerta, e sim porque os sentidos de Er’Ika sentiam algo fora do comum.

    Ele entendia que parte de suas capacidades sobrenaturais envolviam o controle finíssimo de energia e a mente, porém sua existência dentro do receptáculo poderia ser definida como um sexto sentido. Havia um tipo de radar sempre pulsante ao seu redor, que identificava as presenças das pessoas rapidamente, e estava apitando perigosamente diante dessa moça com o colar da deusa Lithia.

    — Peço desculpas — ela fez uma reverência enquanto falava. — Apenas me encantei com menino admirando a vista e ia tentar iniciar uma conversa, porque o vi ontem à noite entre minhas colegas. Queria revelá-lo a criação da nossa poderosa salvadora Lithia. 

    — E como você pretendia revelar o lado tããão majestoso da sua querida deusa, hein?

    — Obviamente com minhas palavras, orações e ofereceria um pequeno colar igual ao meu. — Seus dedos seguraram o símbolo no peito. — Nossa amada Lithia jamais recusaria um broto para a terra, ela cuida de nós e nos ama como o jardineiro com seu jardim.

    — Sei… — A expressão da mulher era cômica, especialmente com a sobrancelha levantada. — Uma pena que o garoto aqui não tem interesse nisso, e muito menos eu. Então se nos der licença…

    Jessia arrastou um Liane carrancudo pelo braço ao longo da ladeira, porém se provou pouco eficiente já que a mesma moça continuou os seguindo.

    — Por favor, espere um pouco! Deixe-me só dizer algumas palavras para ele! Andar conosco pode ser uma mudança positiva para sua vida, ele pode achar paz e prosperidade ao lado da deusa!

    — Paz e prosperidade uma ova… — sussurrou a bandida, decidindo levar o garoto no colo por uma questão de praticidade.

    Não demorou para acelerar o passo e transformar o passeio tranquilo em uma corrida, apenas para tomar o máximo de distância daquela fiel. O rosto de Jessia só se acalmou quando estavam perto da taverna em que se hospedaram, mas sua feição continuava sem ser das melhores. Ambos andaram para dentro e alugaram outro quarto para mais uma noite, pois estava anoitecendo e seria uma má ideia sair a tal hora.

    Da última vez que saíram a noite, ela mal dormiu direito por sempre estar vigilante quanto a floresta, temendo pelo próprio couro enquanto olhava o menino dormir. Queria abandoná-lo na cidade apenas para evitar o peso na consciência, só que, ao repensar em tal coisa, ela seriamente se questionou que tipo de consciência alguém como ela poderia ter.

    De qualquer maneira, dentro do quarto era mais seguro, muito mais agradável e muito longe daquela santinha meia-boca. Jessia arremessou as compras na cama, seu corpo estava dolorido por correr com tanto peso, ainda bem que parte dos mantimentos não estava incluso, pois levaria um tempo para separá-los apropriadamente. Ela caiu de cabeça na cama, permitindo o cansaço vazar pelas beiradas do corpo. 

    — Quem era ela? — perguntou Liane, tendo se sentado na outra cama. — Ela é alguém que você conhecia para fugir assim? A irmã diz que é mal-educado dar as costas aos outros.

    “Cala boca, Er’Ika.”

    — Era uma santa de Lithia… — respondeu Jessia, virando a cabeça de lado para sua voz sair. — As santas são que nem aquela, mostram um sorrisinho bonito dizendo que querem espalhar a palavra da deusa para os desafortunados, mas na realidade elas querem uma de duas coisas: hipnotizar pessoas para fazerem parte da igreja local e terem mais mão de obra escrava, ou, em situações como a sua, trazer uma criança para dentro após serem chantageadas por um padre, bispo ou seja lá que tipo de perturbado tem lá dentro. O resto é história… Não fica perto dela, nem de ninguém daquele grupo até crescer, ouviu?

    Liane ficou boquiaberto. Tinha entendido bem o que isso significava, já que um certo alguém lhe revelou memórias e conceitos dos quais seriam perigosos para uma criança. Sob a jurisdição de Er’Ika, por outro lado, as informações foram mais fáceis de digerir sobre o que fazer e o que não fazer. Ele acelerou o processo de amadurecimento do garotinho por meio de demonstrações das lembranças passadas dos homens mortos, em que um deles sofreu abuso.

    Mesmo sendo repugnante e nojento, dentro dos muros altos da Vila do Dente, havia pouquíssimas formas de uma criança sozinha se proteger. Depois de refletir um tempo sobre isso, os dois tiveram um tempo para comerem e em seguida para dormirem, mas Liane possuía ainda um temor semelhante. E se aquilo acontecesse com ele? Deixá-lo submisso foi fácil quando os bandidos usaram Silva de refém, e qualquer coisa teria acontecido lá, a morte estava até mesmo aguardando no limiar do horizonte.

    Pressentindo tais coisas, Er’Ika decidiu encerrar de vez a questão bombardeando Liane com hormônios para acelerar seu sono. Ele não queria fazer isso, levando em conta a sua dúvida se haviam efeitos colaterais ou não de abusar do próprio corpo, porém era necessário para acalmar sua mente e fazê-lo esquecer no futuro.

    O radar voltou a apitar, só que dessa vez vinha de perto, perigosamente perto.

    Er’Ika rapidamente transmutou a sombra de Liane. Perante a noite, essa habilidade melhorava bastante pela falta de luz, e com isso ele decidiu investigar a curiosa santa do outro lado da porta, mas seus olhos, ao invés do suave azul carregando serenidade e delicadeza, possuíam um profundo tom avermelhado revelando seu ódio.


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