Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 190: Eu Estarei Esperando
O aniversário de Liane veio sem tantas comemorações. Um bolo rosado foi posto na mesa, tendo suas velas sopradas pelos pulmões do garoto. As pessoas que vieram foram sua irmã, Celine, Grey, o professor Ludio, Vylon, Cristal, Relena, Brutus e Joan. A maioria ele já conhecia de perto, eles até trouxeram presentes interessantes, sendo o mais exótico o de Brutus, que era um cacto.
O garoto nunca cuidou de plantas, então se sentiu grato por aquilo, talvez? De qualquer modo, guardaria bem para cedo ou tarde cuidá-lo. Outras coisas foram livros — algo amado de coração e que vieram diretamente de Zana e Celine. —, junto de uma bolsa nova em folha e um monóculo. Esse último presente não veio de ninguém na festa em específico, na verdade, veio de Sir Joshua, o empregado-chefe da casa Tanite, junto de uma carta.
Ele disse estar velho demais para precisar disso e que em breve se aposentaria, então não viu mal em entregar seu bem mais precioso a Liane, pois não tinha filhos. Aquilo emocionou um pouco o garoto, que carinhosamente guardou o monóculo para quando fosse a hora, além do mais, era um sinal de gente rica e de status. Poderia ser tanto usado como uma ótima ferramenta quanto um artigo de luxo moderno.
Outras coisas foram armas — em sua maioria pesadas demais para usar. —, textos sagrados, roupas e até um livro inteiro contando a história sobre a religião de Lithia. O último Liane acreditou seriamente que foi confeccionado por Vylon, mas na verdade quem entregou foi Cristal por ter nenhuma ideia do que dar.
Esse dia passou depressa, o seguinte retornou com um sol morno pela manhã e o cair das folhas das árvores. Era outono, em breve o inverno chegaria. Liane se agraciou com a luz na pele, aproveitando que um dos seus presentes foi um dia de folga para arrumar sua bagagem para a Academia de Magia Aquaria. Faltava cerca de um mês? Com certeza, mas a ansiedade dele era grande demais para mantê-lo quieto num dia tranquilo.
Felizmente, seu jeito acelerado se provou muito útil, porque esse mês passou num piscar de olhos. Foi-se outro ano, nenhuma carta de Silva chegou, pelo menos Sion e Lizabeta eram carinhosos o suficiente para ocasionalmente entregar à sua casa carne e roupas. Ele era muito grato pela ajuda, mas confessava sentir falta de Silva já fazia um tempo.
Então, poucos dias antes de sair junto de seu professor rumo a outra cidade em que a Academia de Magia estava situada, houve uma conversa inesperada com Celine e Zana.
— Liane, essa casa ficará vazia por um tempo — explicou sua irmã, aproveitando para acariciar o topo de sua cabeça. — Eu e Celine faremos uma viagem importante, será para revisitar as pessoas no orfanato e fazer gestos de caridade para outros vilarejos necessitados. Com o tanto de suprimentos que o marquês nos enviou, tenho certeza de durarmos bastante tempo lá fora.
— Irmã, tem certeza? As pessoas podem acabar se aproveitando da boa vontade de vocês.
— Bobinho, não seja por isso, será uma boa viagem e um meio de não alimentar a saudade que teremos de você.
Liane fez um biquinho, abraçando Zana com um pouco de força. Ele ainda estava meio baixinho, cerca de uma cabeça menor que ela, mas nem se importava com a diferença de altura. Devida a condição enfraquecida de sua irmã e também a cegueira de Celine, ele temia algo acontecendo entre as duas durante a viagem. Queria que elas ficassem em segurança em casa, ou pelo menos se mudassem para as instalações do marquês Sion.
No entanto, Liane sabia muito bem como Zana jamais mudaria de ideia. Ele não forçou além do que conseguia, e então, os três foram colocados numa carruagem para fora de Verdan. Outras duas os acompanhavam, que incluíam Ludio, Grey, Vylon e Cristal. O professor era meio que necessário para garantir sua entrada na Academia, enquanto os outros três exigiram uma ordem de transferência da igreja para acompanharem o receptáculo da entidade misteriosa.
Quem aprovou a decisão foi o cardeal Hileo, deixando a burocracia extremamente suave. Querendo ou não, o jovem teria de ser acompanhado por Grey onde quer que fosse e Cristal precisaria ser acessível para a manutenção do selo, assim evitavam qualquer perigo. Era também uma forma de propagar os serviços para outra região do mapa.
Eles rumavam em direção Nemetros, uma cidade fora do Território Livre situada dentro do feudo Aquaria. Como a infraestrutura geral da Academia foi levada literalmente pelos ares, a melhor escolha foi realocá-la a um local dentro do domínio da família, assim poderiam fornecer mais recursos e acelerar o processo de reajuste dos alunos. Esse fenômeno aconteceu anos atrás, mas a Academia ainda se encontrava nesse mesmo local, considerando que agora não havia mais motivo para retornar a Verdan.
Liane viu lentamente a cidade que passou quase metade de sua vida desaparecer na distância. Era muito diferente da primeira vez que chegou lá, mas a nostalgia era inevitável. O território da antiga mansão dos Tanite ganhou destaque, tendo sido renovada e feita com uma estrutura muito mais resistente que da última vez. Ele lembrava os dias brandindo espadas com Silva e os dois rolando pela grama, tempos bons de quando ainda era criança.
Após alguns dias de viagem, a carruagem parou. Estavam dentro do marquesado Tanite agora, fora do Território Livre, e era dali em diante que Zana e Celine tomariam caminhos diferentes. O trio desceu da carruagem, um com o coração apertado, odiando cada segundo.
— Vocês precisam mesmo… fazer isso?
— Nós devemos, querido.
— Não podem nem ficar mais um pouco comigo?
— Eu queria, Lianezinho. — Um sorriso fraco apareceu na face de Zana.
O garoto permaneceu de cabeça abaixada, sem coragem de vê-las partir desse jeito. Sem que percebesse, um par de braços o envolveu, seguido de um beijo na sua testa. A princípio, imaginou ser de sua irmã, apenas para erguer os olhos e se deparar com as pupilas brancas de Celine. Sua expressão era dolorosa, mais do que a de Zana, e parecia realmente não querer fazer isso.
— Mestre Liane, obrigada por ter me ensinado tanto, e obrigada por me aceitar ao seu lado. Eu juro retornar o mais breve possível. Nos veremos novamente em Nemetros, quando for a hora, eu juro.
Ajoelhando-se, ela apertou as palmas de Liane, acariciando suas mãos pequenas.
— Esse juramento é pela minha vida, aceitarei qualquer punição se não cumpri-lo, apenas por favor, espere por mim.
O pedido foi feito sob o por do sol. Os raios crepusculares atravessaram as colinas, erguendo sombras para todos os lados, mas a feição da serviçal em nenhum momento perdeu seu brilho. Era tão afiada quanto o fio de uma adaga, capaz de cortar qualquer sinal de dúvida no rosto.
— Eu estarei esperando então…
Liane não pôde fazer muito além de abraçá-la de volta, um último sinal de despedida.
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