Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 16: Passos Na Noite
Aymeric estava há muitos dias sem dormir, as olheiras pesavam sob as pálpebras e seus ombros estavam constantemente abaixados por causa do peso do martelo nas costas. O motivo de estar tão mal era por causa de uma paranoia particular: ataques surpresa. Durante a juventude, enquanto treinava na prestigiada escola de esgrima de Nello, era muito comum seus instrutores e até colegas invejosos o pegarem repentinamente, para assim explodir uma luta que algumas vezes levava a uma ferida grave.
A cicatriz na ponta do lábio até a orelha foi fruto de um desses confrontos, e desde esse dia o cavaleiro perdia horas de sono apenas para confirmar que não seria apunhalado pelas costas. Ele queria matar os instrutores e oponentes que fizeram isso, mas se refletisse em quanto tempo se passou desde sua formação, com certeza todos os homens e mulheres da sua turma nesse momento se encontravam mortos ou extremamente debilitados. O mesmo valia para seus professores, o que causava uma certa tristeza, no entanto, ele afundou o sentimento e apertou os braços cruzados.
A mente de um cavaleiro era centrada num objetivo, isto é, proteger aqueles a quem prometeu servir. O seu juramento foi feito ao marquês Baltazar Tanite, que o confiou a guarda de sua filha durante as viagens pelas terras além do marquesado. Era uma honra enorme, ainda mais para um plebeu como ele, por isso precisava se esforçar o dobro até o término da missão.
A imaginação de Aymeric flutuou com o retorno à propriedade estando prestes a se concretizar. O valor, respeito e honra, as regalias supremas de um cavaleiro de longa data, seriam os maiores prêmios para um homem que sempre viveu abaixo da suposta “superioridade racial” dos nobres. Um sorriso surgiu no rosto dele, faltava pouco para a escolta terminar e esse sonho virar realidade, de enfim se impor contra os esnobes de roupinhas apertadas e talheres dourados.
Um ranger de madeira velha interrompeu seus pensamentos. Veio do final do corredor, onde a luz mal entrava. Nem mesmo uma silhueta apareceu. Ele pensou em falar algo, mas rapidamente lembrou como tal movimento era algo de um completo amador. Se estivesse no escuro e dissesse algo, sua posição seria revelada. Uma sequência de gemidos vieram do chão, tornando-se cada vez maior.
O cavaleiro lentamente levou a mão ao cinto no peito, retirando uma bolinha de gude transparente de dentro. Sua outra mão apanhou uma besta pequena presa a calça, que já estava carregada com um virote, e então a esfera entre seus dedos voou na direção do corredor vazio. Assim que o objeto tocou no chão, um clarão de luz iluminou o ambiente, enfim revelando quem andava no meio da escuridão, era um homem careca de barba rala. Não era um de seus homens, nem um rosto familiar do vilarejo.
“Invasores!”
Aymeric não hesitou em puxar o gatilho da besta, o projétil voou na direção do desconhecido e se prendeu a sua garganta. O homem caiu para trás ao ser atingido, despencando com as costas no piso e agonizando sem ar, enquanto uma poça vermelha se formou ao redor do pescoço. A luminescência produzida pelo pequeno objeto diminuiu e se tornou constante, agindo de forma semelhante a uma lamparina, mas sem queimar nada.
Batidas e passos ecoaram do andar de baixo, o cavaleiro reconheceu aquilo, era um ataque surpresa igual às suas paranoias.
— Acordem! Acordem! Temos invasores! Jay, Merk, Pron, levantem as suas bundas gordas e peguem suas armas!
Aymeric acreditou que seus gritos tivessem ressoado pelo orfanato inteiro, e sem sequer esperar por um reforço imediato, ele largou o martelo das suas costas, sacou uma adaga na coxa e abriu o botão que prendia sua túnica. O corredor apertado impediria que muitos golpes efetivos do martelo fossem realizados, enquanto a longa capa da túnica limitaria sua movimentação naquele espaço. Como o cavaleiro deixou sua espada curta guardada no acampamento, sua situação era ruim. A adaga não proveria tanto alcance e a besta necessitava de tempo para recarregar.
O cavaleiro respirou fundo, pondo outro virote na sua arma e atentamente ouvindo os passos subindo. Assim que viu um braço aparecer pela ponta da escadaria, ele arremessou outra bolinha luminosa e usou sua túnica para se proteger do clarão, avançando num passo rápido. Jogou a capa branca de suas mãos contra a figura, girando a faca em seguida lançando diversos golpes na capa.
O vermelho tingiu o tecido, indicando a hemorragia. Assim que viu por cima do ombro do inimigo à sua frente, ele avistou diversos outros homens nos degraus abaixo, suor frio vazou de seu rosto. Um chute rápido derrubou aquele corpo ensanguentado e derrubou parte das pessoas ali, mas agora a situação requeria uma medida drástica.
Não tinha ideia se seus oficiais sairiam com vida, muito menos se naquela noite seu próprio corpo fugiria com vida, tudo o que se passava na cabeça era a segurança máxima da senhorita Silva.
Aymeric disparou rumo ao quarto da nobre, no entanto, o reflexo de um metal brilhou em meio a escuridão, e por muito pouco desviou do ferro frio virando a cabeça para o lado. O projétil pegou na ponta da orelha, causando um pequeno arranhão que lançou sangue à armadura de couro.
— Vá com calma, capitão… — A pessoa apareceu em meio às sombras, demonstrando um sorriso curto e rodopiando um conjunto de agulhas finas nos dedos. — Pra que a pressa? Relaxa, não é como se precisasse ficar tão tenso assim… Será trabalho rápido.
O queixo do cavaleiro caiu. A feição sorridente enfim saiu do meio das penumbras e se revelou. Era um homem usando um conjunto de roupas escuras quase coladas ao peito e esboçando bastante alegria pela forma como girava os objetos pontiagudos em seus dedos, escondendo parte da cabeça por um capuz.
— Eu não acredito… Por-Por que um assassino da Lâmina Fantasma está aqui?!
— São só negócios. Contrataram nossos serviços, então viemos realizá-lo. Eu só não esperava que você fosse reagir tão rápido, era para estar morto no lugar que está com um furo na nuca… mas não vai fazer mal capturá-lo e vendê-lo como escravo mais tarde, não é?
Suor frio despencou do pescoço do homem, que apertou a adaga com mais força. Ele duvidava muito se venceria num embate direto usando uma arma tão curta contra um assassino profissional. Aquele sujeito era perigoso demais, especialmente nesse espaço obscuro e apertado. O encapuzado estalou os dedos, uma pessoa logo atrás dele se aproximou.
— Pegue a menina à força se necessário. Não tenha medo, só tem ela e outra criança lá dentro.
Após ouvir aquele pedido tão afrontoso, Aymeric correu com tudo contra o assassino, gritando feito uma besta desacorrentada e com olhos injetados de sangue. Seu inimigo, por outro lado, só lançou um grande sorriso, entrando numa maravilhosa briga de facas com o capitão mais divertido de brincar que já encontrou na sua vida.
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