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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Era comum se assustar perante o sobrenatural. Anjos, demônios, espíritos do além, aparições, milagres, maldições, o que quer que fosse, seria o bastante para desafiar a lógica de alguém e tirá-lo do sério. Para Dilia, Peny e Grey, o mesmo aconteceu. Aquele brilho surreal vindo de Cristal alertou todas as pessoas nos arredores e dentro do templo, tornando quase redundante continuarem aquela conferência ao encontrarem-na.

    — Se-Senhora Dilia, venha comigo, por favor! — a irmã disse, pegando-a pelo braço e arrastando para fora daquela sala. 

    Grey não ficou para trás, correndo atrás das duas com um rosto cheio de apavoro. Ele jamais presenciou uma atividade da igreja tão de perto, e ver sua irmã demonstrando uma coisa estranha mexeu em seus nervos, mas ver a feição completamente fora de órbita de sua mãe o forçou a se mover. Mesmo sem entender, tinha medo do significado daquilo e do que aconteceria a sua irmã.

    Relembrava claramente as palavras do monge Morf, sobre pessoas específicas irem para outros lugares se fosse revelado um talento — era justamente isso que doía no coração, enchendo-o da paranoía de ver sua mãe e irmãzinha serem levadas. Engoliu seco, ofegando um pouco, mas em meio aos corredores com vitrais coloridos, escutou a conversa.

    — Peny, tenha mais calma, está me machucando! — reclamou a mulher mais velha, puxando o braço de volta com cuidado para não soltar a bebê. — O que tudo isso quer dizer? Por que está tão apressada?

    — Pro-Professora…! — A irmã virou o rosto com certa dificuldade, pois o rosto se encheu de lágrimas e catarro. — A sua… a sua filha é um milagre para nós! Uma filha de Lithia, a encarnação da deusa, a perfeição num corpo humano!

    — Se acalme, querida. — A mão livre de Dilia limpou a face da moça com um lenço seco, enquanto suas sobrancelhas se franziram como se duvidasse daquilo. — Você está querendo dizer que a minha filha é, em outras palavras, um milagre vivo?

    — Sim, sim, exatamente! E eu preciso informar imediatamente o Conselho Branco sobre!

    — Mas nós não podemos sair daqui e me recuso a deixar minha filha sozinha! Eu não sou louca de permitir estranhos desejarem levar embora minha querida, e se descobrirem que sou esposa do Greyson, não duvido que aqueles desgraçados do condado Minus venham interferir e tentem colocar minha garganta na forca! 

    Peny recuou um passo, assustada com a mudança diabólica de sua professora. Seus olhos estavam repletos de um brilho ígneo, ao ponto de queimarem o ar ao redor e aumentar a pressão da gravidade. De acordo com as leis da deusa Lithia, jamais uma mãe se separaria de sua filha, era um grandíssimo pecado fazer tal coisa independente do valor da criança ou da mãe para a igreja.

    No entanto, obviamente religião e política não andavam numa linha tão tênue. Havia a possibilidade de usarem o argumento que, assim como Greyson, Dilia pecou contra os deusese precisava se separar de sua filha para não manchá-la. Tal coisa traria uma satisfação necessária para ambos os lados. Peny recusava aceitar tal realidade, especialmente porque a mulher à sua frente possuía um valor absurdo tanto para seus filhos quanto para si mesma.

    Grey, que se escondeu atrás de um pilar para ouvir, sentiu seu peito pesar quando imaginou a própria mãe pendurada numa forca. Enfim os pontos se ligaram na sua cabeça, de fato os eventos recentes eram estranhos, mas nunca tinha imaginado que aquela possibilidade era real. Ele sabia que pessoas cedo ou tarde morriam por seus crimes e era muito comum a execução pública, o garoto nunca viu de perto, porém ao entender sobre o que sua mãe se referia, entendeu do porquê seu pai não retornar.

    “Ele… morreu?”

    O chão abaixo dos pés tremeram, mas apenas dentro da sua mente. O tratamento frio dos mordomos, a carroça tendo substituído a carruagem, a parada no meio do vilarejo de um conhecido de Onix, o desaparecimento de seu pai. 

    “Eu fui muito burro…”

    Cerrou os punhos, querendo conter os soluços e choro, mas foi impossível. Ele caiu contra o pilar e escondeu o rosto entre os joelhos, a corrente de medos estourou numa torrente de dores grandes demais para uma criança suportar. O som de passos aproximou-se ao lado, e quando se deu conta, sua mãe estava lá, olhando-o e hesitando em estender a mão.

    — Filho? Desculpe ter saído sem avisar, você está…

    — Por-Por que mentiu pra mim?

    — Mentir? Eu nunca menti, filho.

    — O papai morreu e você não me falou nada!

    Essa mera sentença congelou Dilia, seus membros travaram no lugar igual pedra e os orbes dos olhos vacilaram em encará-lo de frente. Peny se pôs logo atrás, com a boca tapada pelas palmas e temerosa por entrar na conversa. Grey fungou, suas sobrancelhas se retorceram para baixo e espremeram mais lágrimas pelas madeixas, que se encharcaram de água.

    — Por que você não falou nada, mãe? Por que escondeu isso de mim? 

    — Eu tive medo de que você ficasse em choque, meu querido, eu não queria te machucar.

    — Mas machucou mais ainda mentindo pra mim! O papai nem teve um funeral decente como o vovô, e é tudo culpa sua! Se… se a senhora tivesse ficado do lado dele, nada disso teria acontecido! É culpa sua!

    Grey limpou o rosto com o braço e fugiu, sem ter coragem de ver a realidade, e sem ver a feição de sua mãe ao ouvir aquilo. Um olhar perdido de brilho pairou nas pequenas costas do garoto, que se afastou mais e mais, até desaparecer em meio aos tijolos de pedra. O coração arruinado se tornou vazio, regurgitando os sentimentos que pensou ter vencido, mas que ressurgiram das cinzas para assombrar a mente.

    Faltou-lhe coragem para chamá-lo, de gritar por desculpas. Quando menos percebeu, estava paralisada no meio do corredor, observando o além. Seus lábios se abriram para falar algo; nada saiu além do som da respiração. 

    — Professora… 

    O chamado de Peny recobrou parte de sua consciência, porém, não era o bastante para recuperar a vivacidade perdida. Um sorriso amargo preencheu o rosto de Dilia, que assustou ainda mais a pobre irmã, que já temia a expressão furiosa de sua melhor amiga.

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