Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 106: Preocupação Materna
A chuva tornava bons dias em momentos repletos de melancolia. O verão demoraria para acabar, assim como as temporadas chuvosas tinham só começado a afetar aquela região, enchendo os rios e causando mais uma onda de doenças entre os desafortunados. Para quem vivia próximo ao mosteiro, com as irmãs e os peritos nos milagres divinos, tinha mais sorte em se recuperar, mas forasteiros e pessoas nas vilas vizinhas, era um pouco mais complicado do que parecia.
Nessa época, muitas irmãs e irmãos se retiravam do mosteiro para servir pela vizinhança, seja para providenciar cura ou a palavra de Lithia. Era um serviço comunitário essencial por uma gama de motivos diferentes. Eliminar doenças impossibilitava dos próprios residentes do Mosteiro Prateado evitassem se infectar, além de também ser uma barreira para as cidades maiores.
Dilia conhecia bastante dessa estrutura, tendo se familiarizado com as tarefas do culto de Lithia desde a tenra idade, quando o mesmo acontecia com ela no tempo que trabalhava nos campos. No entanto, naquela situação, ela recebia um tratamento especial por conta da filha. Uma criança com aptidão sobrenatural aos milagres eram mais raros que diamantes, e jamais que ela seria ferida ou reduzida por ninguém — o mesmo tratamento valia para os parentes, pois afetar um podia indiretamente machucá-la psicologicamente ou envolvê-la em circunstâncias perigosas.
Naquele momento, ela estava andando pelo pátio principal nas áreas cobertas, observando as gotas de chuva encherem a fonte da deusa. Sua expressão dizia muito mais do que devia, sobre um vazio reconhecível de longe, de quando alguma coisa falhou tão miseravelmente que as razões para viver somem. Peny, quem a acompanhava poucos passos atrás, dava bastante atenção a esse comportamento.
Um dos motivos pelo qual enviou Grey para a tutela especial com o monge Morf foi para de uma vez por todas consertar aquele relacionamento problemático entre mãe e filho. Ficou muito claro o quão abatida Dilia se demonstrou após a cena com o filho, e isso também poderia ser repassado para a filha. Crianças costumam imitar os adultos ao redor, então uma mãe depressiva influenciaria a personalidade da filha de um jeito ou de outro.
A irmã queria destrinchar seu plano inteiro diante da professora, no entanto, sentiu que era o momento errado e que talvez causasse mais mal do que bem informá-la disso. Ao invés, preferiu manter a atenção em outros detalhes necessários de atenção.
— O bispado chegará na próxima semana, professora. Recebi a carta hoje de manhã.
— E eu tenho que me preparar ou vocês separarão minha filha de mim?
— Não, isso seria um grande pecado, madame. Eu só… não quero surpreendê-la, os bispos tem peculiaridades e isso assusta o público comum. Queria que entendesse isso pa-para não acontecer algum conflito, entende?
— Se eles por acaso tentarem encostar em Cristal, então terei pleno motivo para arrancar a cabeça de cada um fora e cuspir.
Peny engoliu seco, temendo qualquer coisa que aconteceria nos próximos dias devido a essa mudança radical. Inclusive, aquele modo de falar agressivo e assassino da mulher era uma das consequências da briga com seu filho, a cada dia que se passava, mais e mais o sentimento surgia em uma dose de adrenalina, como se quisesse destruir o mundo inteiro.
“Pode ser também uma consequência do estresse e do parto…”, cogitou a freira, já que de fato sua professora passava por todo tipo de situação.
As duas caminharam lado a lado, os gotejos lá fora trouxeram uma nostalgia dos tempos de criança, de quando se banhavam debaixo da chuva e caiam sob a lama. Era uma graça, um tempo cheio de inocência que toda pessoa tinha falta quando ficava mais velho, mas para Dilia, sua expressão não se alterava, dura igual rocha e fria como gelo.
Da ponta do olho, avistou uma silhueta minúscula, cujos braços finos tentavam alcançar um homem corpulento que se movia de maneira tão suave quanto o fluxo de um rio, esquivando-se daqueles socos desajeitados como se fosse nada. Era o monge Morf, treinando próximo a um garotinho cansado.
A boca dela se abriu por um momento, como se o ar estivesse escapando da garganta. Naquele mesmo instante, quis gritar para chamá-lo, mas o peso sobre a consciência calou qualquer vontade. Ainda assim, duvidava do porquê aquilo estava acontecendo, lembrando como fazia certo tempo que não se falavam.
— Por que Grey está ali, irmã Peny?
— A-Ah! — Aquela pergunta tirou a freira de orbita, mas ao averiguar ao que Dilia se referia, suas pupilas rapidamente analisaram. — Ve-Veja bem, Grey pe-pediu para participar de certas atividades complementares na nossa comunidade, dizendo que as aulas eram muito chatas! Por sorte, temos um programa para jovens que desejam aprender autodefesa e ele se inscreveu, então pedi para o irmão Morf cuidar disso porque ele é altamente confiável!
— Entendi… algum problema? Você tem falado muito rápido recentemente.
— Nã-Nã-Não! Nenhunzinho, deve ser por causa da minha ansiedade em ver o bispado!
As sobrancelhas da moça franziram, sinal de que suspeitava daquela afirmação. Ao menos, era plausível o bastante para acreditar, por outro lado, ver seu filho com aquela expressão cansada e rosto abatido enquanto tentava alcançar inutilmente o monge era outra história. Ela o conhecia melhor do que qualquer um, sabia que nunca buscaria por algo que estragasse o seu sossego, especialmente nos últimos dias em que literalmente teve nenhum amigo.
Para repentinamente ter aquela iniciativa, era algo de fato impressionante. A viagem mudou seu filho, ou a briga anterior causou uma revolta tão grande que ele queria se provar alguém melhor. Qualquer que fosse, ela não se importaria, ainda era seu querido filho. O seu verdadeiro desejo era…
— Madame, vamos continuar, você ainda precisa estar em boa forma e ter um descanso apropriado, do contrário pensarão que foi maltratada por mim!
— Isso seria péssimo de falar…
Dilia revirou os olhos e ambas seguiram conversa rumo a sala secreta do mosteiro, onde a energia dos deuses circulava pelo ambiente e desvanecia as preocupações. Lá, estaria sua filha, deitada num berço, ou assim acreditava. Todo dia, quando chegava na sala, seu medo de que ela desaparecesse dali aumentava… e dessa vez, tornou-se real.
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