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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Poder divino e magia eram duas coisas andando em paralelo pelo mundo. Aos ouvidos de Er’Ika, soavam uma completa besteira, eram só formas diferentes de usar energia e convertê-la num fenômeno real, mas quando levava em conta a existência dos espíritos e seres sobrenaturais, tinha uma certa dúvida sobre como diabos o poder divino devia funcionar.

    Naquele exato momento, ele estava de volta à biblioteca, estudando o Demonicon próximo de Liane. Mais cedo, ele entregou a lista de coisas a se comprar para Milea, incluindo é claro os suprimentos para o ritual de purificação. O que mais o preocupava era qual seria o efeito daquele ritual em si, pois se fosse semelhante a demônios, já que podia sentí-los e eles também faziam o mesmo, então teria uma chance alta de se machucar quando tentasse realizá-lo.

    Mesmo assim, ele insistiu em pesquisar mais a fundo sobre, de teorizar em cima das dezenas de bulhufas no livro de Astaloph. Seu conhecimento sobre o poder divino era extremamente raso, sendo um pedaço do senso comum daqueles três homens mortos. Supostamente, os poderes se revelavam em visões depois do fiel passar muito tempo cultuando, e cada deus possuía seus milagres.

    Lithia, a deusa representada por Grey e Milea, dava aos seus discípulos milagres relacionados à cura e ao controle das pedras. Isso era algo bastante interessante na perspectiva de Er’Ika, pois ainda não havia descoberto como reutilizar a energia para propósitos curativos, limitando-se a aumentar a eficiência do sistema imunológico no lugar. 

    Magia tinha um princípio de manejar a energia e criar um fenômeno, sendo o mais simples deles a de manifestar eletricidade ao sair. Existiam outras energias como térmica e mecânica, porém uma era resultado das reações químicas naturais do corpo e a outra era por meio dos movimentos, enquanto a energia elétrica era produzida naturalmente para um conjunto de reações e estímulos diferentes. De todas, era a menos problemática de gerar, e também a mais eficiente.

    Outro uso excelente era de reforço, que podia tanto melhorar a capacidade cognitiva quanto física, sendo a mais útil até agora. Coisas assim aumentavam ainda mais a dúvida de Er’Ika sobre o funcionamento de poderes divinos, pois como diabos era possível direcionar energia para aumentar o fator de cura para além da capacidade natural? Isso não fazia o menor sentido.

    — Hm? — Liane levantou a cabeça após ouvir a voz dentro da cabeça. — Algum problema, Er’Ika? 

    — Entendi. Recentemente você tem se esforçado muito, sabia? Precisa talvez de um descanso.

    — Quer andar um pouco pelos becos procurando um rato? Vai aliviar sua cabeça.

    Liane acenou positivamente com a cabeça. Mesmo como uma criancinha abobalhada, ele aprendeu bastante nos últimos meses, sabia ler e escrever fluentemente pela influência de Er’Ika, que o motivou a pegar cada grão de papel no Orfanato da Macieira para praticar o máximo possível. A essa altura, o garoto não se comparava à maioria dos plebeus, tendo dominado o entendimento de outras áreas, como matemática e geografia, mas ainda se dava muito mal em história.

    Haviam poucos livros de fato históricos, tanto que no orfanato a maioria eram contos de fadas ou romances, com pouquíssimo conteúdo de fato útil para os dois naquele momento. Uma situação semelhante aconteceu na biblioteca, até então somente o Demonicon possuía conhecimento bom para digerir, enquanto os outros se resumiam a mais contos e romances, alguns inclusive também eram os mesmos das estantes no quarto de Zana.

    Era quase um padrão, como se os mais pobres tivessem que ser nutridos com histórias de herois, princesas e dragões, enquanto as verdades do mundo se mantinham escondidas. O aborrecimento da entidade só aumentou ao pensar os motivos pelos quais as coisas eram assim.

    Depois de conversar por um tempo com Liane e avaliar o arsenal de livros ali, eles educadamente furtaram os mais promissores e guardaram na mochila. O bibliotecário estava dormindo com as pernas cruzadas sobre a mesa, com certeza alguns livrinhos a menos não fariam falta.

    — Não diga isso — sussurrou, não querendo passar pela vergonha de parecer uma criança doida falando sozinha. — Eles não merecem isso. Devíamos usar o dinheiro extra de Jessia para caridade.

    — Você nunca deixa de ser frio, sabia?

    A rua estava um pouco movimentada e não demorou para adentrar os becos. Inúmeras pessoas se amontoavam aqui e ali, algumas famílias tentavam se proteger do frio com um único cobertor. Cadáveres estavam jogados no meio dos tijolos, o cheiro era insuportável, mas muitos só tinham como viver ali.

    Isso era útil para coletar muitos dados, aproveitando que as pessoas comuns não viam o fio espectral saindo do dedo. Haviam muitas carcaças de ratos por ali, mas era tarde demais para absorver memórias, levando em conta como o cérebro se deteriorou por completo.

    Ao menos, alguns dados de outras pessoas puderam ser coletados, o que por si só era o bastante para satisfazer parte da necessidade. Er’Ika administrou as informações com a mesma maestria de sempre, porém, conforme andava, reparou em silhuetas andando pelas vielas, dobrando as esquinas repetidas vezes.

    Um sorriso surgiu por dentro. Finalmente, um perigo de verdade e um motivo para soltar um pouco sua natureza.

    — Sim, percebi…

    Liane puxou uma adaga brilhante escondida na calça. Eles obviamente já esperavam por isso, avisos não faltaram sobre os perigos espreitando ao redor de uma criança solitária. Eram os malditos sequestradores, que cobriram as duas rotas de saída. 


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