Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 119: A Verdadeira Protetora
Há momentos que os anseios superam qualquer naturalidade na consciência. O corpo de Liane consentiu com o que sua mente queria, fazendo-o correr e saltar os destroços como se estivesse fugindo de um monstro. Grey não pôde lhe acompanhar, era tão rápido e ágil que somente poeira sobrou. Er’Ika preferia que o moleque não se machucasse tanto, pois aquela movimentação arriscada facilmente traria uma infecção futura, mas mesmo tentando controlá-lo a força, se provou inútil.
Naquela janela de tempo, nada, nem um deus, pararia aquele menino. A liberdade o eletrizou dos pés a cabeça, propulsando-o para longe, como uma pena voando ao vento. Arranhões cobriam as pernas e braços, porém nada importava, um corte leve não impediria seu ímpeto e nem atrasaria qualquer coisa. A pele poderia ser rasgada, os ossos tremerem por causa do impacto contra o chão ou até a fadiga querer dominá-lo, independente disso, ele seguiria firme e forte.
Seus olhos brilharam quando avistou o arco destruído da vila, onde certos sacerdotes e paladinos ficaram reunidos. Dentre eles, estava Vylon, de braços cruzados enquanto checava o pessoal, apenas para ser surpreendido com a silhueta do garoto na distância, aumentando de proporção igual a uma sombra durante o por do sol. Não demorou para ele estar ali em carne, ofegante e com muito suor descendo entre os fios de cabelo escuros.
As íris de cores diferentes lançavam uma atmosfera sobrenatural no garoto, parecendo ter sido possuído por outra coisa, movido feito uma máquina. O bispo, contudo, não precisou falar nada, nem dizer onde ela estava, o menino apenas passou ao seu lado e abraçou uma moça abaixo do arco.
Os raios de sol daquela manhã iluminaram o ambiente, trazendo uma paz há muito perdida nas areias do tempo, com arcos coloridos sobrepondo as trilhas de luz, tudo para recriar uma cena quase divina. A mulher que o menino abraçou, uma moça com longas tranças carmesins e com roupas de uma camponesa qualquer, acariciou-o no cabelo, bagunçando os fios unidos. Um enorme sorriso floresceu em sua face, tão radiante quanto o amanhecer surgindo entre as montanhas, tudo isso para simbolizar aquele fatídico e aguardado reencontro.
Ela se ajoelhou, apertando o corpo diminuto da criança contra si, não querendo separar em nenhum momento. Na distância, a camada de neve começara a derreter, dando os primeiros sinais da tão aguardada primavera, coincidindo com o caloroso encontro de dois irmãos.
Não seria exagero dizer que os olhos de Liane secaram de chorar, ao ponto de arderem por se manterem abertos. Ele fungou, apertou, bateu e se grudou na irmã, nem os gritos de apelo de Er’Ika o alcançaram, o mundo inteiro se resumiu àquele mísero momento.
Demorou muito mais que o normal para separar os dois, especialmente porque Liane demonstrou uma resistência absurda. Jessia estava na cena quando houve o ocorrido, estranhando que o garoto se agarrou a uma moça que nem lembrava de ver. Durante o ataque ao orfanato, a bandida ficou na retaguarda e avaliou cada um que foi sequestrado, mas ninguém se comparava a ela.
Inclusive, quando finalmente os dois se afastaram, Jessia sentiu um arrepio ao trocar olhares com Zana, que pareceu-lhe acertar com uma adaga saída dos olhos. Assim como previsto, ela não era nada comum, seus instintos diziam para nem mesmo estar no meio do seu caminho. Outra coisa que chamou atenção era a arma presa na cintura e uma menina encapuzada a acompanhando.
A espada em si não era chamativa, o que de fato se diferenciava era o cabo e a guarda, expostas para fora da bainha com formato incomum e contendo uma espécie de gatilho. Quanto a garota, a intuição da bandida enviava uma pequena mensagem para o cérebro, captada através de marcas escondidas no pescoço — ela não era uma criança normal, pelo contrário, mais lembrava do seu tempo de escrava.
Engoliu seco, mantendo-se no meio das pessoas. Seja lá quem eram aquelas duas, Jessia imediatamente entendeu que estava mexendo com coisas grandes, não com um órfão perdido. Mais tarde, com o chegar da noite, um silêncio mortal se instaurou pela vila. A mulher ficou em um quarto separado, enquanto Zana e a garota compartilharam o aposento com Liane, algo justo levando em conta que as duas provavelmente conheciam mais do garoto do que ela mesma.
No entanto, Jessia não conseguia dormir. O tempo todo ficou sentada na cama, com as mãos apoiadas na cimitarra e encarando a porta, esperando qualquer ranger ou sombra nas fissuras da madeira. Suas luvas estavam suadas, os fios de cabelo eletrizados de antecipação…
Um ponta afiada encostou na nuca. A pressão fez um pequeno corte, uma única gota de sangue escorreu pelas costas dali. A mulher não pôde se mover, e sabia que qualquer reação causaria morte instantânea.
— Você não se parece com ela… — disse a pessoa que tinha sua vida nas mãos. — Por que está com ele? Quando o encontrou?
Esse era um típico julgamento. Antigamente, Jessia gostava muito de ter o controle da situação e aplicar o mesmo tipo de tortura, no entanto, era muito pior estar subjulgada daquela forma.
— Eu o encontrei no meio da-da floresta… Deve fazer duas ou três semanas…
— Coincide com o tempo, mas… por que foi a floresta nesse dia? É muita coincidência encontrá-lo.
— Estava voltando com o meu grupo… nós somos aventureiros, ma-matamos uma fera na floresta e íamos coletar a re-recompensa, então no meio do caminho, vi ele e o acolhi.
— Hmmm… — A lâmina se retraiu levemente para trás. — Onde estão seus parceiros?
— Mortos. Morreram no combate contra o dragão, só eu sobrevivi, por muito pouco.
Essa última sentença finalizou o julgamento. Jessia esperava a qualquer momento ter a nuca destruída pela espada, mas para sua surpresa, apenas ouviu o som da arma sendo guardada de volta na bainha, porém a mão sobre o ombro indicou para não se virar ainda.
— Você está limpa, por ora. Mantenha distância de Liane, ele não precisará mais de você. Nossa conversa nunca aconteceu, isso foi só um pesadelo…
Assim, tão rápido quando chegou, a figura sumiu. Jessia voltou a respirar quando a presença sumiu, pondo uma das mãos no pescoço para conferir se estava inteira. Os dedos da mão tremeram, sua cimitarra não se moveu um centímetro desde a chegada daquela figura. Esse medo se enraizou nos ossos.
“O garoto tem monstros do lado dele…”
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