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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    O relacionamento entre mãe e filho virou algo amargo. Raramente os dois se encostavam, com olhares constantemente sendo desviados para ignorarem a dor, oscilando uma culpa perdurando dentro dos dois igual ao peso do pecado. Por um lado, Dilia mentiu e segurou a mentira para o bem do filho, do outro, Grey desrespeitou e não tinha coragem de encará-la após ser enganado. Parecia algo bobo, uma birra infantil, que tomou proporções maiores por conta de feridas internas.

    Uma mãe não tinha coragem de falar com seu querido filho por acreditar na recusa imediata, enquanto outro evitava por medo de ser enganado novamente. Tal coisa machucava Peny, aquela quem observava isso se desenrolar com uma expressão doída da janela do mosteiro. Passaram-se dias desde o acontecido, ela não pôde interferir e achava errado se meter na situação delicada de uma família.

    A porta do aposento abriu, ela se voltou a pessoa na porta. Era um homem alto e forte, com barba grisalha e olhos cansados, Topax, o responsável pela segurança da família Onix. 

    — Me desculpe aparecer a essa hora, madame. 

    — Está tudo bem, senhor Topax. — Peny tocou as duas bochechas e consertou o semblante tristonho com um sorriso simpático. — Em que posso ajudá-lo? 

    — Um mercador no caminho para cá me avisou sobre eventos misteriosos durante a noite. Achei que eram rumores exagerados, mas encontrei uma coisa no caminho para cá… — Ele se aproximou com cuidado e pôs na mesa um objeto enrolado, um chifre pontiagudo. — Ajudei os moradores locais numa caça hoje cedo e isso estava no chão. Até onde sei, nenhum animal com isso vive na fauna local.

    A irmã apanhou o chifre, analisando os pequenos detalhes na curvatura e no material escuro do osso. Era verdade quanto a não existirem animais ao redor com esse tipo de estrutura, e se houvesse, era o gado, que possuía chifres muito maiores. Ela colocou a coisa de volta na mesa e segurou o símbolo de Lithia no peito, erguendo a mão para frente. Um brilho dourado emanou da pele e inundou o pano.

    De repente, o brilho entrou em atrito com uma mancha escura, e as duas se anularam numa batalha breve. Aquilo comprovou a origem do chifre.

    — É a parte do corpo de um demônio menor.

    — Então quer dizer que…

    — Sim, demônios tem vagado ao redor do mosteiro. — Um suspiro fugiu dos pulmões dela. — Tem acontecido há semanas, enviamos nossos irmãos e irmãs para averiguarem o que estivesse na floresta próxima e no campo, mas não encontraram nada. Ocasionalmente, surge uma parte deles, como se em dado momento estivessem entrando em combate contra alguém e perdendo os membros.

    Topax ficou sem palavras. Ele enfrentou muitos homens, porém nunca foi do tipo de enfrentar demônios e felizmente nunca teve tal oportunidade. No imaginário das pessoas, essas criaturas eram seres detestáveis e traiçoeiras, com magias profanas que ameaçavam controlar a mente dos fracos e jogá-los na loucura. Já na realidade daqueles que lutavam contra tais monstros, demônios se dividiam em diversos níveis, e os de nível inferior se demonstravam apenas incômodos pequenos. 

    Ela explicou que não queria chamar o Exército Branco para resolver o problema já que nenhum demônio superior a esses apareceu, nem mesmo alguém apareceu possuído por um espírito maligno. Agora, no entanto, cogitava chamá-los usando Cristal como desculpa, assim o problema seria resolvido mais rápido. 

    — Entendo. Se eu me deparar com eles, o que faço? — perguntou o velho, cruzando os braços e concordando com a sabedoria da irmã.

    — Retorne o mais rápido possível e avise aos nossos irmãos sobre. Eles enviarão alguém para resolver. Não os combata de frente, do contrário, sua alma pode ser danificada pelo poder demoníaco. Somente nós, devotos a Lithia e aos deuses, conseguimos resistir a essas forças sobrenaturais.

    Topax acenou com a cabeça mais uma vez e fez uma reverência, uma forma de agradecimento pelo aviso. Ele era velho, mas não senil. Um guerreiro, para continuar vivo, devia afundar o orgulho e aceitar o apoio dos outros, do contrário, seria um peso morto na hora de demonstrar seu valor. Como compensação, ele entregou uma cesta de pães que guardava na mochila.

    — Por favor, aceite isso de presente. Eu sou muito grato pela mão que deu a minha senhora e o filho do meu melhor amigo, tem o meu completo respeito, madame Peny.

    Na hora que ele se referiu a Dilia e Grey, os lábios da irmã se torceram para baixo e os olhos caíram rumo ao piso de madeira. O velho guerreiro não era idiota, reparando na mudança abrupta de humor. 

    — Algum problema, madame? 

    — Eu… não, o senhor deve ter notado a distância entre aqueles dois, certo?

    — Sim, reparei que a senhora Dilia tem falado muito menos e passa boa parte do tempo somente com a senhorita Cristal. Grey também tem perdido algumas aulas e foi pego quase fugindo.

    — Eles tiveram um desentendimento a respeito da morte do senhor Greyson. Receio que o filho esteja machucado por dentro e não sabe o que fazer. Como você deve ser a figura mais perto de um pai para ele, ia lhe pedir para tentar ajudá-lo, mas não sei se é mesmo viável…

    — Eu posso procurá-lo para termos uma conversa, madame, só que como alguém que perdeu o pai também jovem, não sei se será efetivo.

    Amargura dominou a face de Peny, cujo coração doía mais ao se encontrar sem saída. Ela acenou com a cabeça e abaixou os olhos, Topax fez uma reverência e se retirou da sala, dando espaço para ela pensar sozinha. De fato, era algo complexo, e a rebeldia de Grey era uma preocupação a se levar em conta.

    “Se não me engano, ele teve uma aptidão pequena para milagres, mas posso pedir um favor ao senhor Morf, posso colocá-lo sob tutela e assim o treinamos como um paladino.”

    Na mente, parecia um bom plano. A irmã observou as crianças do lado de fora pela janela, reparando em como Grey preferia se separar dos outros e se esconder na floresta durante o dia. Mesmo levando puxões de orelha e vários avisos sobre ser perigoso ir para lá, a teimosia o arrastava de volta. 

    A essa altura, Peny acreditava ser a melhor escolha, ela só não fazia ideia das consequências de colocá-lo perto de Morf.

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