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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    O mundo era algo curioso para Liane. Em dado momento, você estava sofrendo nas mãos de uma criança, em outro, você repentinamente era ajudado por um espírito misterioso mandão, em outro, você conhecia uma pessoa digna de admiração e uma nobre estranha, e por fim era raptado apenas para acabar fazendo amizade com o sequestrador. Todos esses momentos continuavam vívidos na memória, o pior disso era imaginar como tudo ocorreu de uma forma extremamente conveniente.

    Ele de algum jeito permaneceu vivo, quando na realidade desde o começo de toda loucura devia ter morrido. Enquanto bebia um copo d’água na antiga praça principal da Vila do Dente — atualmente dizimada por conta da aparição do dragão. —, sua cabeça trabalhava em diversas coisas. Havia o medo de ser descoberto, a saudade da irmã Zana, a preocupação com o cavaleiro Aymeric devido o seu estado, a situação desconhecida de Silva e o óbvio mistério rodeando Er’Ika. 

    Todas essas informações não vinham ao mesmo tempo, mas se relacionavam entre si de um jeito ou de outro. Por exemplo, quando conheceu Er’Ika pela primeira vez, lembrou-se da silhueta de uma linda mulher com uma risada maléfica. Não sabia ao certo o que ela disse, tendo a vaga memória das palavras “escolherei ele”, e desde então, entidade e receptáculo andaram juntos.

    Demorou até para reparar num grande problema que Liane tinha: o fato de gostar ou perdoar pessoas que lhe fizeram mal. Primeiro o caso do suposto deus, alguém que se apresentou como seu salvador e queria ao máximo ter o direito de controlá-lo como bem entendesse. De fato, o espírito fazia um trabalho excelente, mas ainda assim não possuía o direito pleno de sua vida.

    Em outra ocasião, veio Silva ordenando para lutarem e machucou sua cabeça com pancadas. Depois, eles se entenderam e até dormiram na mesma cama. Ao lembrar da cena, inclusive, Liane ficou tão vermelho quanto um pimentão.

    “Is-Isso só deve ser feito depois do casamento!”

    O ditado repassado pelas cuidadoras do orfanato era que jamais um menino e uma menina deviam se deitar juntos, do contrário, apareceria uma criança. Quem fizesse isso antes do casamento, seria amaldiçoado por uma bruxa com uma criança diabólica e maléfica que teriam que cuidar pelo resto da vida. Essa lenda urbana deu calafrios no pobre Liane, que já imaginou quem era a tal criança diabólica.

    Enquanto isso, Er’Ika segurava toneladas de risos ameaçando expor sua identidade.

    De qualquer forma, tais coisas já aconteceram, mas ele não conseguia tirar a culpa da cabeça. Cedo ou tarde, se desculparia apropriadamente, como devia ser feito. O peso em si parou lentamente de causá-lo dores, talvez por causa da lembrança meio cômica e antiga. No entanto, quando tentava buscar algo antes disso, tudo que tinha era uma neblina espessa.

    “Quem é meu pai? Minha mãe? Como eu parei no orfanato?”

    Essa coisa nunca se passou pela sua cabeça pois Zana sempre ocupou essa posição. Ela fazia tudo, cozinhava, lhe dava conforto, protegia e a todo momento conferia se algo de errado aconteceu. Era por causa dela que Liane nunca sentiu injustiça pelo mundo, que se mantinha firme independente da situação… só que, depois de se separarem, não parecia o caso. 

    Ele chorou muito e teve a impressão do destino tramar contra si. Foram tantos problemas e tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que nunca de fato podia focar em nada. A essa altura, aquele breve momento de paz no meio da vila, com o silêncio rondando em meio a destroços, pareceu o paraíso.

    — O tempo está bom.

    Aquela voz arrancou uma batida do seu coração. Ele virou a cabeça rapidamente por cima do ombro, avistando um traje branco por cima de uma armadura prateada, junto de um par de espirais rumando a escuridão. O cabelo curto acima dos ombros e o fio de cabelo estrategicamente posicionado no meio do rosto não enganava, era aquele mesmo sujeito, o que lhe deu medo antes.

    Como eu não senti ele?

    Esse era um grandíssimo mistério, mas serviu para atiçar os nervos dos dois. Liane saiu do banco e controlou a respiração prestes a perder o ritmo, concentrando-se na figura misteriosa diante de si. 

    — Desculpe, eu sei que assusto surgindo assim. — Vylon balançou a cabeça, como se colocasse uma nota mental sobre aparições repentinas. — Só te encontrei por coincidência. É o neto da heroína, correto?

    O garotinho conteve o instinto de engolir seco. Ser supostamente o neto daquela mulher era uma mentira que até tinha certo nojo, mas foi o que Jessia bolou naquele momento.

    — Si-Sim, eu sou… — Os ombros caíram, em seguida se rendendo à farsa. 

    — Interessante, você é menor do que eu lembro. — O homem balançou a cabeça para o lado, procurando semelhança a imagem que tinha na cabeça. — Já que estou aqui… responda a minha pergunta: você tem se sentido mal nas últimas horas? Teve tontura? Mal-estar?

    Que questionamento de maníaco é esse? Parece até que ele quer te atrair para um lugar com doces!

    Liane tentou ignorar ao máximo o comentário, temendo que qualquer distração revelaria uma coisa de errado. No entanto, a máquina pensante de Er’Ika veio prontamente com uma forma de se livrar do problema.

    Ele está perguntando porque você entrou em contato com energia demoníaca, que tem efeitos adversos no corpo humano. Por ser uma criança, o bispo deve estar usando uma forma simples de identificar ou não se houveram problemas… Diga que se sente mal agora.

    “Hã? Mas por que? Eu não me sinto mal agora e não sei porque estaria!”

    Só invente qualquer coisa, ele vai acreditar!

    — Eu… eu tô mal agora — disse, meio envergonhado e abaixando a cabeça.

    — Mesmo? Me fale mais, o que está sentindo?

    — Minha barriga tá fazendo um barulho estranho e acho que meu estômago tá reclamando e inchando…

    Naquele exato momento, Vylon apoiou os lábios com os dedos, emitindo uma expressão bastante pensativa. Liane não decifrou o que se passava em sua mente, mas logo a resposta lhe surpreendeu.

    — É fome. Aqui, pegue.

    Do bolso da armadura, o bispo retirou um pedaço de carne seca coberto de sal. Era bastante apetitosa ao olhar, parecia também cheia de nutrientes e muito atraente.

    Não caia nisso, provavelmente é uma armadilha para… Idiota, por que você comeu logo?!

    Sem nem pensar, a boca de Liane já tinha mordiscado a carne sem pensar duas vezes.

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