Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 100: Irmã Peny
A silhueta de um castelo surgiu no caminho. Quem era pouco familiarizado com as arquiteturas religiosas e estruturas projetadas para guerra facilmente confundiria aquele prédio com um, no caso, Grey acreditou fielmente que morariam dentro de um castelo. A realidade o decepcionou quando chegaram mais perto.
O Mosteiro Prateado era pequeno, as cores chamativas de cinza e branco davam a impressão de ser maior, e se combinado com as pequenas torres com chapéus pontiagudos, fazia qualquer criança imaginar aquele local como o palácio de um rei. O nome se dava pelas cores e pela estátua da deusa Lithia no pátio, feita de mármore e prata combinadas, um artigo de luxo invejado até pelas catedrais das cidades vizinhas. A figura da deusa trazia bom agouro, e sua imagem carregando uma criança no colo plantava a ideia de maternidade.
Na mesma hora que viu a estátua, Grey subiu no amontoado de feno e apontou para ela.
— Mãe, parece você!
— Não seja bobo, Grey, eu e ela somos muito diferentes. Também evite dizer isso na frente dos outros, eles se sentiriam embaraçados.
Dilia puxou o garoto pelo braço, tratando de afagar o cabelo dele como gesto de agradecimento. O filho sabia que sua mãe não era boa com palavras, por isso aceitou o carinho em silêncio e encarou mais uma vez a figura divina. As duas de fato se assemelhavam por conta do longo cabelo caindo pelas costas e do olhar pesaroso voltado para baixo.
Ela sempre demonstrava uma expressão melancólica parecida, escondendo algo dentro de si que mantinha a feição inalterada. Às vezes, um sorriso ou risada brotava do coração, mas não era como antes, não tinham a mesma energia e vivacidade de antes. Havia frieza em tudo o que fazia.
A carroça trilhou caminho pela comunidade erguida ao redor do mosteiro. Lá, pequenas casas de madeira se aglutinavam próximas umas das outras, dividindo a estrada com cercas de pedras lascadas e ervas daninhas. Era um local de certa forma ativo, a todo momento pessoas iam e vinham de um lugar para o outro, alguns carregando um animal que por sorte capturaram, outros com baldes de água sob a cabeça, ou até mesmo uma simples senhorinha segurando uma cesta com rolos de linha prestes a começar seu serviço de costura.
No entanto, os recém-chegados não receberam uma calorosa recepção, pelo contrário, os residentes ou ignoravam, ou assistiam atentamente a eles passando. Grey fez carreta para as pessoas feias o fitando, mostrando a língua e se escondendo na carroça quando demonstravam a primeira reação. Um comportamento típico de Relena, agora aprendido por aquele moleque.
Eles subiram a colina no final da comunidade, onde ficaram cara a cara com a estátua da deusa Lithia. Estando longe, só se podia enxergar sua forma e suas expressões faciais, mas vendo de tão perto, os detalhes de arranhão na superfície metálica traziam medo. Demorou para que a estrutura era do tamanho do mosteiro, se não maior.
Havia uma moça parada na entrada, andando devagar de um lado para o outro e mexendo os dedos enluvados. Trajes brancos estavam sobre os ombros, descendo rumo ao chão, a coloração impecável sem um traço mínimo de sujeira. Na cabeça, balançava um chapéu preto um pouco grande demais, que vez ou outra folgava para um lado e rapidamente era ajeitado de volta no lugar.
Os cavalos pararam quando as rédeas os impediu de continuar, e assim, Dilia desceu com a ajuda de Topax. Grey seguiu logo atrás, segurando-se no vestido de sua mãe por estranhar o ambiente ao redor.
— Professora! — exclamou a estranha, desengonçadamente andando rumo aos forasteiros e esboçando um enorme sorriso cheio de dentes pontudos. — Senti tanta saudade da senhora!
Aparentemente, aquela moça quase saltou contra Dilia, interrompendo a tentativa no instante que viu Cristal nos braços dela e o menino atrás dela, além de também ter o alerta de Onix com a mão levantada para acertar um tapa se fosse necessário. Com mais calma, a freira se aproximou e olhou primeiro o rostinho do garoto, em seguida para a face serena da bebê, admirando cada um deles a sua maneira.
— Eles tem o seu rosto, professora.
— Obrigada, Peny. — A vez de demonstrar uma feição diferente foi da mulher, as pontas do lábio se ergueram. — Estes são meus filhos, Cristal e Grey. O homem ao meu lado é amigo da família, Onix.
— Entendi, entendi! — Peny cumprimentou o homem que antes ameaçou lhe dar um tapa, então tentou acariciar o cabelo do menino, mas Grey deu um passinho para trás e evitou. — Ah, acho que é normal ser assim, crianças tem um problema comigo sempre.
— Não seja por isso, ele só é tímido. Dê tempo e você o verá fazendo uma bagunça por todo lugar.
Uma risada fraca escapou da boca de Dilia, que passou a acompanhar Peny para dentro do mosteiro. Essa moça era uma freira e uma das responsáveis por administrar o Mosteiro Prateado, e muitos anos atrás foi uma estudante sob tutela de Dilia, quando ainda trabalhavam no campo. Com a ajuda dela, Peny conseguiu ingressar para um internato de Lithia, saindo com realizações o bastante para se tornar santa, mas escolheu o caminho de freira e se tornou uma irmã para os outros.
No entanto, isso significava mais obrigações em seus ombros. Ela quem cuidava da educação das crianças e era também tesoureira do mosteiro, sendo de extrema confiança e um doce de pessoa. O mesmo não poderia ser dito de sua personalidade muito insegura, da forma desajeitada de se portar e dos pequenos tropeços nos próprios pés.
Peny era essa amálgama de genialidade e estranheza, que por um lado era engraçado, e por outro tirava sua seriedade. De qualquer forma, a felicidade de rever sua professora era enorme — quando recebeu a carta, sequer hesitou e tinha começado os preparativos para a vinda. Uma nova integrante entre as freiras era uma benção, por isso, tratou de organizar tudo de antemão como forma de agradecimento pela tamanha ajuda num passado distante.
Quanto a Grey, ele olhava torto para tudo ao redor, bombardeado pela luz dos vitrais e vendo muitas pessoas desconhecidas que se vestiam de maneira semelhante à Peny. Essa onda de novidades deixou sua cabeça tonta, mas em breve teria de se acostumar, pois ali seria sua nova casa.
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