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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

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    Criminosos eram colocados em salas vazias e escuras como punição máxima. O motivo disso era simples: humanos, como seres extremamente sociáveis, sentiam-se em perigo e desconfortáveis quando sozinhos por longos períodos de tempo. Não ter contato com outros de sua espécie trazia uma grande solidão, o que por sua vez se desenvolvia nos mais diversos problemas psicológicos, desde alucinações, distúrbios, crises e sintomas psicossomáticos. 

    Silva, dentro daquela cela imunda e constantemente aguardando o retorno de Liane, sofria por uma situação semelhante. A exposição prolongada ao escuro e aos sons de passos do lado de fora puseram sua mente num estado alterado, cada vez que ouvia um barulho diferente ela corria para ver o que era. Ainda não tinha chegado no limite da loucura por causa da expectativa e esperança posta na sua amiga, da qual esperava contando os segundos até seu retorno.

    As unhas de seus dedos estavam terrivelmente roídas, a pele ao redor ficou descascada e pequenas feridas tomaram o lugar. A tradicional menininha nobre, de lindo vestido cheio de babados e com um sedoso cabelo prateado, se tornou apenas uma garota trancafiada nas profundezas de uma masmorra, esperando seu derradeiro fim. Ela odiava tudo, seu cheiro, a sensação de tocar o rosto, a sujeira em seu vestido, o cabelo emaranhado — o mundo parecia um inferno em forma viva.

    No entanto, uma mísera chama no escuro parou seus pensamentos. Era de uma lamparina acesa, uma pessoa estava se aproximando da cela, o azul do olho brilhava no meio da escuridão. Silva saltou em direção às barras, agarrando-as e tremendo, enquanto olhava a pequena figura chegar cada vez mais perto. Aquela pessoa retornou depois do que parecia uma eternidade, como prometido.

    — Está tudo bem, eu estou aqui, Silva… — Liane disse, esboçando um curto sorriso e soltando a lamparina no piso de pedra. — Não chore, por favor…

    — Como eu não choraria…? — Os lábios da garotinha tremeram, precisando de uma mão afagando o topo de sua cabeça para tirar um pouco de seu temor.

    O menino acenou com a cabeça, dando todo cafuné necessário para retorná-la ao seu estado natural, e quando viu que as lágrimas pararam de fluir, pôs o dedo indicador no meio da boca. Silva rapidamente entendeu o sinal, mas em seguida viu outra coisa mexer nos bolsos dele, um molho de chaves enferrujadas. Cada uma foi testada na porta, até que uma enfim abriu com um barulho de tranca.

    A nobre estava prestes a empurrar e aceitar a liberdade, no entanto, Liane parou antes que fizesse qualquer besteira. 

    — Por que você tá me impedindo? Nós temos como sair daqui! — sussurrou, segurando no pulso dele.

    — Me escuta, sair daqui agora é perigoso. Esse lugar é muito grande, facilmente alguém se perde nesses corredores, e por isso eu tenho um plano. — Liane tirou a chave que funcionou, trancando mais uma vez a porta e entregando nas mãos da garotinha. — Eu vou libertar os cavaleiros e dizer pra eles que você está aqui. Também libertarei os outros, então haverá um caos enorme por todo lugar, mas só farei isso quando a maioria estiver dormindo ou sonolenta. Silva, você precisa esperar até que ocorra algo assim. Quando ouvir muito barulho, destranque a porta e corra para o mais fundo possível daqui, lá você os encontrará. Entendeu?

    Ela acenou com a cabeça, sem responder e com olhinhos arregalados de medo. Se seguisse o plano à risca, cedo ou tarde sairiam dali são e salvos. Passos ecoaram de longe, mais uma vez Liane fez o sinal de silêncio e apagou a luz com um sopro antes de sair aproveitando-se das sombras. O sujeito que apareceu era um jovem bandido, vagando com uma lamparina também nas mãos e analisando os arredores com um certo grau de dúvida.

    — Tinha uma luz aqui, eu vi… — sua voz ressoou no ambiente, e Silva se escondeu o mais rápido possível para não levantar suspeitas quando o viu caminhar mais. — Eu tô ficando insano? Primeiro foi aquela mulher, depois uns vultos e agora essa luz… Credo, devo ter nascido com um problema mental e meus pais não disseram. Ah, espera, como eles diriam? Os dois estão mortos!

    Uma risada maléfica saiu de sua boca com a piada de mau gosto. Comentários assim eram comuns, inclusive os pensamentos intrusivos ditos em voz alta por aqueles homens. Silva escutou tantas coisas que sentiu sua própria segurança em risco, o que de fato estava, sua sorte era como a chefona da trupe conseguia mantê-los na linha por uma série de avisos.

    Ela se recostou no canto novamente, mexendo a chave na ponta dos dedos. Uma tentação de sair naquele exato momento aflorou na mente, no entanto segurou o desejo. Acreditava fielmente nas palavras de Liane, caso escapassem com certeza teriam sido vistos por aquele homem passando. Só precisava aguardar mais um tiquinho, a saída estava perto, logo o sofrimento acabaria.

    Silva abraçou o próprio corpo e usou o pedaço de pano estirado no chão para se enrolar, tentando lembrar uma série de rostos que veria quando fosse embora. Sir Aymeric, Liane, papai, mamãe, irmãozão, todos dariam um grande abraço para tirar as mágoas e levantar sua moral. Aquilo jamais aconteceria de novo, nem nunca viria a aparecer no seus sonhos.

    Tais coisas era o que ela queria, uma vontade constante de mudar as coisas para sempre e se libertar de medos, mas mal sabia como a ferida mental era profunda demais para se curar com meras fantasias. Desde o momento em que pisou na cela, estava fadada a sofrer e guardar cicatrizes pelo resto da vida, medos que jamais deixariam o seu lado. 

    Entre choramingos e um baixo soluço, Silva quis mais do que tudo ter um poder além do seu, de ser mais velha e brandir a espada contra a cabeça de seus inimigos. 

    Ela não poderia agora, mas no futuro sim. Apenas precisava de tempo, alguns anos e logo estaria no topo. Este seria seu objetivo quando saísse, de render qualquer um que quisesse lhe causar dor. Não importando que medo titânico fosse enraizado nas profundezas do seu inconsciente, Silva se ergueria com o fio de uma afiada lâmina cruzando o pescoço dos seus oponentes.

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