Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 52: Mercenários e Aventureiros
Após os primeiros raios de sol, os moradores da Vila do Dente saíram de suas casas para trabalhar. Alguns caçavam, outros eram mercadores, existiam também os mercenários com um serviço, enfim, cada indivíduo possuía suas prioridades para o começo do dia. Não foi diferente para Liane e Jessia, cujo primeiro objetivo ao se levantarem era reunir suprimentos.
Durante a escapada do covil, nenhum dos dois trouxe algo útil fora armas. O garotinho trouxe água consigo para caso enfrentasse alguém, mas isso foi usado para tingir o cabelo da bandida ao invés de eletrocutar alguém. Além disso, os dois não tinham comida para levar e nem mochilas para carregarem seus pertences, porque querendo ou não, tudo iria pesar.
Jessia, sendo uma ex-mercenária, sabia o que deviam levar e o que não deviam. Carne seca, água, lamparinas a óleo, um mapa, uma bússola, mochilas, cordas, sacos de dormir — mesmo que parecesse equipamento para escalada, tudo era necessário para uma “aventura” mais fácil. Não seria tranquila e segura, pois aventuras jamais foram, somente ajudaria a passarem por menos problemas. Caçar não era algo tão fácil como catar terra, forçando-os a realizar uma varredura pelo comércio local em busca dos melhores preços para se comprar os materiais.
Não era lá de tão ruim, humano e entidade poderiam aproveitar a chance para observar a vida local e aprenderem algo, quem sabe até descobrirem coisas novas. Por causa disso, Er’Ika rapidamente possuiu a sombra de Liane e observou a vida alheia durante o passeio, e conforme iam andando, repassava o que acontecia com os outros ou o que diabos significava certas coisas.
A primeira e mais óbvia coisa era um tipo de epidemia se desenvolvendo nas partes mais obscuras da vila. Pessoas tossindo sangue, bolhas na pele e fraqueza pelo corpo eram traços de uma enfermidade bastante violenta assolando os residentes. O garotinho teve medo de passar tanto tempo por aquela vila e contrair a doença misteriosa, e esse ressentimento foi logo apaziguado pelo ser morando dentro dele.
Se você estivesse doente, eu saberia e teria erradicado o problema logo. Não se importe com isso.
Era uma mentira. Er’Ika tinha onisciência por todo o corpo de Liane, porém sabia como era difícil enfrentar um veneno constantemente invadindo as veias e a pele humana. Não era um problema qualquer a ser levado em conta, mas aliviar o estado mental e matar a ansiedade do receptáculo seria melhor do que vê-lo se lamuriando por alguma coisa lentamente sugando suas energias.
— Que saco… — reclamou Jessia, apertando as pálpebras enquanto jogava as costas contra a parede de uma casa. — Esses malditos são mais gananciosos que eu. Viu a cara daquele maldito aos nos vender duas mochilas por 5 moedas de prata?! Eu não sou maluca de comprar algo assim! E o material era péssimo, tava na cara que ia se rasgar num instante!
— 5 moedas de prata é mesmo muito caro…
Para se ter uma ideia, 100 moedas de cobre equivaliam a 1 moeda de prata. Um mísero pão custava meia moeda de cobre, ou seja, o valor da mochila equivalia a 1.000 pães, o suficiente para alimentar uma família inteira por meses em comilança em excesso. Claro, o valor do pão tinha subido dado o inverno, porém mesmo custando o quádruplo do valor, não deixava de ser quase uma extorsão.
Por detalhes assim os comerciantes quase nunca falavam com plebeus comuns. Mercenários, aventureiros e ricaços eram seu público-alvo, e como era de conhecimento comum que camponeses tivessem ambos os bolsos furados, os valores das coisas vendidas a este público era maior, dada às condições mais abastadas.
— Mas se as coisas são tão caras, por que as pessoas não viram mercenários e aventureiros?
— Hah, garoto, você é novo, então é normal não entender nada disso. O motivo é muito simples: assumir essa profissão é caro e arriscado. Você precisa dar a sorte de herdar uma peça de equipamento da família e ter talento em combate, do contrário, só vai virar um pedaço de carne no meio do campo de batalha. A maioria das pessoas não tem os dois, sendo assim só vivem como gente normal.
Ela largou um grande suspiro. O fato de ter virado mercenária se deu a uma sorte grande, o valor das joias somado lhe deu uma fortuna grande o bastante para uma série de equipamentos bons, sem contar que sua habilidade e jeito para combate foram um dom de um deus. Sem por acaso não tivesse ambas as coisas, a essa altura teria morrido, ou quem sabe viveria uma vidinha pacata no interior.
— Os mercenários costumam arrancar os itens de seus inimigos e revendê-los, assim conseguem um dinheiro bom para comprarem mais coisas para si ou utilizarem os espólios, e quanto aos aventureiros… bem, pode-se dizer que é como se fossem pessoas de outro mundo. Enfrentam monstros, saem por aí como herois, mas por favor, eles são um em um milhão.
Uma risada fraca escapou de sua boca. Aventureiros eram pessoas fora da curva, abençoadas com um talento que só poderia ser chamado de “benção” ou com dinheiro o bastante para nutrir um sonho infantil. Quem se aventurava, não fazia para se sustentar, mas para suprir um desejo profundo no âmago. Diferente deles, Jessia e Liane não pretendiam se aventurar para se satisfazerem com o mundo, mas sim para escaparem de um possível inimigo os perseguindo e achar outras pessoas em posição de ajudá-las.
Essas palavras se cravaram na cabeça pensante de Liane, que remoeu tudo e repassou para Er’Ika arquivar as informações mais a fundo. Eles continuaram o passeio, analisando mais uma vez os preços daqueles ladrões de cabelo lambido. Ao final da tarde, a maioria dos suprimentos foi separado e comprado, mesmo que num valor absurdo.
O garotinho olhou para a vila do ângulo que estava, uma ladeira protegida por cercas de madeira e com banquinhos cheios de cupins. O céu estava maravilhoso, uma obra-prima feita por um pintor famoso. Ele sorriu diante da paisagem, maravilhando-se nos pinheiros se mesclando com o degradê roxo, porém viu uma figura peculiar se aproximando ao lado.
Ao virar a cabeça, deparou-se com uma linda moça esboçando um sorriso. Ela tinha cabelo loiro e carregava no peito um cordão semelhante ao de Grey, mas por algum motivo não transmitia a mesma bondade do honrado cavalheiro.
Liane, saia de perto dela. Agora!
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