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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Nada tem ido bem para Silva desde o incidente do sequestro. Ela não conseguia permanecer num quarto sem ao menos cinco velas bem espalhadas e uma lamparina, impedindo qualquer sombra de chegar remotamente perto. Os servos viam-na carregando qualquer coisa que servisse para gerar luz, desde os artifícios dos cavaleiros aos mais diversos objetos. A mansão quase pegou fogo porque a senhorita quis acender uma tocha dentro de um cômodo por falta de outra opção.

    No entanto, o marquês soube administrar bem a crise. Ele não comentou nada ao seu filho, temendo que descobrir o que aconteceu o faria retornar correndo da escola de esgrima e abandonar o seu sucesso em prol de ficar perto da irmã — coisa típica do garoto. Por outro lado, a mãe, Parmela Tanite, mãe de Silva, recebeu a notícia por um informante dentre os servos e estava voltando o mais rápido possível, pronta para assassinar seu marido que ousou omitir algo tão importante.

    De um jeito ou de outro, as coisas estavam sob controle. Silva mudou de comportamento, sim, mas isso se resolveria com o passar dos meses. Tinha um longo caminho pela frente, e a pequena nobre cedo ou tarde investiria na política da elite, o que consumiria sua mente por um bom tempo. 

    “O papai não conhece a Liane.”, esse pensamento cruzou a cabeça dela, enquanto sua espada de madeira bateu contra um boneco duro. “Eu preciso da Liane. Ela seria uma ótima parceira e eu não teria medo se ficasse perto dela…”

    Era estranho lembrar de tal coisa em meio a uma aula de esgrima com sua tutora particular. Não poderia ser evitado, a mente da jovem senhorita era ocupada pelo desejo de ter aquela pessoa por perto. Era difícil dormir sem ouvi-la ou sem imaginá-la retornando em breve. Liane foi como um raio de esperança no seu mundo sombrio, por causa dela que seu sono vinha e sua cabeça entrava em paz.

    Agora, sem essa pessoa da qual tanto gostou, Silva roía a ponta das unhas mesmo sem estar ansiosa ou perambulava nos corredores durante a noite. Ela tentava de tudo, treinava até a exaustão, lia ao ponto da sua testa querer explodir, imitava a etiqueta nobre em frente ao espelho com vontade de se equiparar a uma rainha. Por causa dessas doses extras de esforço que sua habilidade estava subindo tão rápido, ao ponto de assustar a tutora sentada num banco olhando os movimentos de espada da garotinha.

    A senhorita não estava completamente focada, porém sua velocidade e força, ao se comparar ao nível de uma criança, excediam o que se esperava. Caso fosse combinado com treinamento mágico, sabe-se lá qual nível ela alcançaria.

    — Senhorita, acho que já está bom. — disse sua educadora, levantando-se da cadeira e com as sobrancelhas erguidas. — Não quer fazer um sparring?

    — Depois — respondeu, curta e breve, agora focando os olhos no boneco e apertando as mãos no cabo da espada. — Depois, ainda tenho muito a descontar nesse maldito.

    A moça achou estranho chamá-lo assim, sem saber que na verdade o boneco recebia uma projeção mental dos bandidos que a sequestraram. O sujeito de voz estranha com capuz, a velha ranzinza, alguns bandoleiros mais feios que chutar cachorro, todos estes eram escolhidos como “pessoa do dia a ser espancada”. O que motivava tanto a senhorita para continuar treinando era um desejo constante de destruí-los mais cedo ou mais tarde, outro motivo para manter constância maior nos treinos.

    Ainda assim, as coisas tinham limites. Aquela menina era uma criança, seria improdutivo usar de toda sua energia e talento para uma única coisa, além de que de nada adiantaria se esforçar tanto em bater num boneco que mal mexia se o mais importante era experiência prática. A tutora estava ali justamente para isso, para oferecer ajuda direta e guiá-la no seu caminho das artes da espada. 

    Uma pena que desde o retorno de Silva, as coisas pareciam ter mudado, pois a partir daí o interesse em sessões de treino prático lhe tornaram menos atraente. A tutora não ia com toda sua força, porque era ilógico e porque não queria perder o emprego, mas isso motivou a senhorita a desejar menos e menos querer uma luta direta.

    — Madame, existe alguma chance do papai realizar um favor para mim? — perguntou a garotinha, parando repentinamente de atacar.

    Ao menos, por conta do “tempo extra” disponibilizado pela falta de interesse de Silva, elas começaram a conversar mais, e por consequência a pequena nobre ocasionalmente lançava indagações como essa.

    — Se for para a filha dele ficar bem, ele mataria até o rei. 

    — Mataria? Mas o papai não é forte o suficiente para matar o rei… Enfim, quero pedir um favor a ele, quero procurar por alguém que conheci antes.

    — Achar alguém? Se crê que a pessoa está viva, ou que até mesmo pode ser alcançada, é possível. O que exatamente está passando na sua mente?

    — Uma… amiga. Liane. Ela foi minha parceira de treino durante a volta da viagem para a escola Nello. Era alguém… diferente.

    A tutora analisou com mais atenção aquelas palavras. Ser alguém “diferente” implicava em inúmeras coisas, mas inevitavelmente atraiu sua atenção, pois era raro Silva se interessar por outras pessoas. Mesmo em duelos amistosos contra outros pirralhos nobres, ninguém se comparava a sua habilidade, e por causa disso seu interesse era nulo para com esses. 

    Não à toa ela tinha problema em socializar com outros da sua idade, porque só aceitaria uma pessoa por perto se o duelo fosse interessante ou perdesse. Não era necessário dizer como ambos os cenários foram impossíveis ao longo dos anos.

    — Na minha opinião, vejo zero problemas. Seu pai aceitará, mas acredito que também colocará restrições ou favores em troca.

    — O que você acha que ele pediria, madame?

    — Provavelmente para você sair a cavalo de casa, senhorita.

    Um tremor passou pelo corpo de Silva. Nos últimos dias, sua consciência sequer pensava do lado de fora. Ela cerrou os punhos, e esse mero gesto indicou o turbilhão de pensamentos em sua cabeça, que após serem dispersados com acenos, fizeram-na largar a espada de madeira e correr rumo ao escritório do seu pai.

    A tutora suspirou, vendo que seu trabalho terminou mais cedo. Mal sabia ela como por causa de sua influência, inúmeros cartazes de procurado com um menino de cabelo curto e olhos azuis apareceriam pelo marquesado de Tanite.


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