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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Não havia outro lugar seguro além da mansão dos Tanite. Depois de entregar o mapa nas mãos do bispo, Liane foi avisado de buscar um lugar seguro e ficar lá até ser chamado, disso, sua melhor opção era observar a cidade sendo incinerada pelas chamas de uma fé descontrolada. Seu olhar estava distante, isento de pena perante às figuras sendo decapitadas na calçada, frente aos olhos das pessoas comuns.

    Er’Ika, enquanto isso, estava fora. Por meio do espectro, ele conseguia projetar sua consciência para outros lugares e também manifestar seus poderes, então aproveitava o belo momento para “colher” os frutos de seu trabalho. O garoto ficou para trás, na sacada de um quarto emprestado pelo marquês, protegido por cercas de ferro negro e guardas patrulhando atentamente os arredores.

    “É tão estranho receber tanta atenção e diligência…”
    Uma meia verdade, levando em conta o quanto Zana o tirou de perigos quando no orfanato. De qualquer modo, ele não entendia direito porque ganhava o favoritismo dos outros sem fazer tanto. O caso de Sion era entendível, sim, mas o marquês aparentava sempre dar um toque a mais quando Liane precisava de alguma coisa. Naquele momento, era só um local seguro para ficar durante a Cruzada. Sua irmã estava ainda na catedral, provavelmente cuidada por Jessia ou pelo paladino Grey, enquanto Celine se prestava a fiar próximo dele a todo momento.

    Mesmo não se encontrando no quarto naquele momento, a jovem constantemente o vigiava e era o mais breve possível em quaisquer deveres, apenas para retornar o quanto antes. Um suspiro saiu da boca do pequenino, seus cotovelos se apoiaram na cerca de mármore da sacada e ele passou a contar o número de incêndios aparecendo, pouco a pouco pintando a noite roxa com os tons laranja e cinza.

    Era estranhamente bonito. A carnificina ao longo das praças também lhe trazia um pouco de paz. Lembrava bem das cenas de ritual na Vila do Dente, de como duas mulheres foram torturadas para o deleite dos cultistas e que logo serviriam de sacrifício para o dragão. Eles serem eliminados diante de seus olhos, um por um se transformando numa poça de sangue e em seguida pó, trouxe pitadas de alma ao coração. Aquelas pessoas jamais causariam mal a alguém de novo.

    — Liane? Você tá aqui?

    O menino retornou a si mesmo, piscando os olhos algumas vezes antes de se virar na direção da porta. A voz era de Silva. Fechou as portas da sacada, puxando também as cortinas para tapar as janelas. Um luminorbe pendurado no teto se acendeu com o pressionar de um pequeno interruptor na parede, expulsando as sombras do quarto, e só assim que teve vontade de abrir a porta.

    Uma mocinha de cabelo prateado e olhos grandinhos o encarava com as sobrancelhas abaixadas. Essa era a forma dela de mostrar preocupação, junto de inúmeras reações num espaço curtíssimo de tempo. Liane se afastou para o lado, permitindo que entrasse no cômodo.

    — O que foi, Silva? Tem algo de errado?

    Ela deu um passo em frente e se jogou na cama dentro do quarto, esticando os bracinhos e perninhas para longe.

    — Papai não me deixa sair para treinar e me obrigou a fazer as atividades de casa! Tá muito chato lá, queria ver como você estava… pensei que ia se esconder morrendo de medo.

    — Na verdade, eu que cogitei te ver assim… — Liane se aproximou dela, sentando-se do outro lado e tirando uma mecha de cabelo do rosto de Silva. — Então você veio até aqui para evitar os estudos?

    — É! Queria treinar espada, mas tiraram tudo de mim, falaram que eu ia quebrar a mobília de novo…

    Liane mordeu a ponta da língua, segurando a risada, porque realmente era muito fácil daquilo acontecer. Porém, sabia que Silva estava mentindo. Sion jamais colocaria alguma obrigação para distrair a filha no meio de uma crise, era óbvio como aquilo atiçaria ainda mais a curiosidade gigantesca dela e a faria andar pela casa inteira de cima a baixo em busca de explicações.

    O motivo de vir ao seu quarto devia ser o que imaginava: medo. Liane não era idiota, aquela situação era anormal e possuía o perigo de lembrá-la dos dias presa na cela escura. Silva ainda demonstrava o mesmo tipo de hiperatividade de antes, exceto por um lado muito sensível que às vezes emergia em si quando as memórias vinham à tona. Por causa disso, houveram dias que fora chamado no meio da noite ou durante as lições de mágica para visitá-la enquanto tinha um ataque de pânico.

    O garoto se tornou um tipo de “remédio” para a ansiedade da pequena nobre, um meio de iluminar seus pensamentos confusos prestes a explodirem.

    Ele pegou um travesseiro, e sem aviso nenhum, bateu na cabeça da invasora.

    — Essa é sua recompensa por ter entrado no meu território!

    — Au! — A voz abafada da nobre se ergueu junto de seus olhos, que agora com um pinguinho de raiva, agarrou o outro travesseiro e jogou no rosto de sua amiga. — A casa é minha, então esse território é meu!

    Felizmente, era muito fácil levantar seu humor e trocar o rumo dos pensamentos. Um sorriso curto floresceu no rosto de Liane, que acabou rindo em meio a pancadaria de travesseiros. Quando viu aquele semblante, Silva recuou um pouquinho para trás e desviou o olhar, acabando por soltar sua arma.

    — Eu não consigo te entender direito…

    — O que? Como assim?

    — O papai gosta de você, o bispo gosta de você, até os empregados te amam… mas ainda assim, você não quer virar meu consorte. Você poderia ficar aqui feliz com a gente. Tem algo a ver comigo?

    Um momento de silêncio antecedeu a resposta. Eles eram bem novos para falar disso, e sinceramente, Liane sequer tinha noção do que significava casamento e as relações amorosas entre pessoas.

    — Eu… não sei. Erika me disse para aceitar, e com certeza todo mundo diria o mesmo também, mas eu acho errado. Desde que me encontrei com a irmã Zana, só quero viver uma vida tranquila, e… bem, nunca dá certo. Sempre acontece alguma coisa ruim.

    — Eu poderia te proteger de qualquer coisa ruim se você fosse meu consorte! Eu nunca deixaria ninguém te machucar, nem mesmo o rei! — Ela estufou o peito, querendo reforçar o próprio absurdo.

    — Silva, eu quem quero ser capaz de protegê-los! Se eu não puder ficar ao seu lado e nem mesmo cobrir as suas costas quando tiver em perigo, eu seria realmente um bom com sorte?

    Aquilo pegou a nobre desprevenida. Seu rosto acabou corando um pouquinho, mas logo o rubor sumiu quando entendeu o que de fato significava a declaração de Liane. Silva treinava todo dia para ser capaz de repelir o mal contra sua família e entes queridos. Ela brandia a espada para algum dia ficar ao lado de Liane e poder expulsar o perigo de perto, por isso, entendeu o porquê de não ser aceita agora.

    — Então, vamos fazer uma promessa!

    — Uma promessa? Qual?

    — Quando nos dois formos fortes o bastante, vamos ficar juntos! Se tivermos poder o suficiente, ninguém poderá mexer com a gente e nem com quem amamos, seriamos invencíveis!

    O garoto inclinou a cabeça para o lado, demorando um pouco para entender. Silva estendeu o dedo mindinho, ficando frente a frente com ele.

    — É um juramento!

    Liane esboçou uma pequena risadinha, mas não recuou. Os dois emendaram os dedos mindinhos, firmando a promessa.


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