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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    O dia do Tribunal Divino chegou. Nenhuma pessoa saiu de Verdan nesse ínterim, mas o evento em si era voltado somente para os religiosos e as figuras mais importantes, como bispo Vylon, santa Cristal, paladino Grey e ironicamente a heroína Jessia. Essa última acabou entrando no tribunal à força, mesmo tendo abandonado o status de paladina e cuspido na cara de igreja, o pressuposto de “prestar as contas” com a igreja sobre sua péssima conduta contra as pessoas comuns bastou de razão para colocá-la.

    Outras figuras promenientes eram o marquês Sion, acompanhado da filha, que insistiu para vir; Joan, Brutus, Relena e Ludio, bem vestidos para a ocasião, especialmente a primeira, que estava vestida com roupas caras e nobres da cabeça aos pés; Sir Joshua, Sir Merk e a tutora de esgrima Niara, cada um representando a casa dos Tanite junto ao marquês. Alguns figurões importantes, outros não muito interessantes, havia todo tipo de gente.

    “Por que uma crise dessas nos assolou em um momento delicado assim…?”, o dono do pensamento foi ninguém menos que um cardeal da igreja de Lithia, Hileo.

    Ele recebeu uma carta diretamente da santa, contando sobre uma catástrofe na cidade de Verdan e que o responsável era uma entidade desconhecida, que acabou sendo selada de volta ao receptáculo para conter possíveis danos colaterais. A ação imediata ganharia vários elogios, além do mais, existiam muitos seres que saiam do escopo do que era demoníaco e divino, e muitas vezes caos emergia devido a natureza por vezes duvidosas desses seres.

    No entanto, ainda havia uma questão muito específica que mexeu com ele: por que tantas pessoas de fora da igreja se reuniram para depor a respeito do receptáculo? O que mais causava uma certa ansiedade no cardeal era quanto a pessoa indicada para defendê-lo, uma mulher adulta muito bonita de cabelo prateado, olhos roxos e de inconfundível fé: Lizabeta Tanite, ou mais comumente conhecida como a esposa de Sion Tanite, o marquês.

    Aos olhos das pessoas comuns, essa figura era só alguém atrelado ao casamento e não tinha poder político, porém, detrás da faxada de boa esposa, morava uma pessoa dominante na religião da deusa Lithia. Talvez, se não frequentasse tanto os eventos de fé dentro da igreja, ela seria confundida como uma nobre qualquer, mas dada a sua presença constante, status e também conhecimento, ela ganhou uma certa notoriedade entre as pessoas da igreja.

    Ainda assim, o sorriso meigo que derretia corações sempre aparecia. O motivo de terem escolhido-a era sua relação não muito próxima a Liane, além de domínio nos dogmas de Lithia. A única coisa que poderia conectar os dois era o fato de Liane ter salvo sua filha.

    “Isso ainda pode evocar sentimentos nela, no entanto, acredito ter sido a melhor opção…” Hileo levantou do assento, erguendo a mão para o alto. — Comecemos o Tribunal. Tragam o julgado.

    A luz do sol entrou pelos vitrais quebrados atrás do cardeal, pequenos pontinhos brilhantes furavam o teto partido. A catedral inteira estava em pedaços, dando a primeira impressão do quão poderosa a entidade selada era, e imediatamente Hileo queria dar o favoritismo a santa para colocarem em um retiro permanente. Mesmo com a criatura selada, o perigo poderia reaparecer a qualquer momento.

    Do corredor atrás de Lizabeta, uma criança de olhos vermelhos e cabelo curto adentrou o salão arruinado, seus passos eram fracos e tímidos, seu rosto estava pálido e os membros pareciam magros que se partiriam no menor sinal de força. Ele estava acompanhado de duas moças, uma com fios ruivos longos e pele queimada, enquanto a outra tinha os olhos brancos devido a cegueira.

    Uma aura de desgraça rodeava os três, como se a misericórdia dos deuses nunca tivesse cruzado seu caminho e a ruína tivesse se atrelado ao âmago de cada um. A imagem era pincelada pelos toques macabros de um artista, isso somado ao corpo prestes a desabar de Liane reforçou a fragilidade daquela vida. Para a surpresa do cardeal, foi o garotinho quem tomou à frente e sentou-se à mesa, próximo a Lizabeta.

    “Esse… menino é o receptáculo?”

    Ele olhou para a santa por um momento, que também não demonstrava uma expressão boa. Na verdade, era cheia de culpa, um reflexo de que por dentro, achava muito errado apelar para o tribunal, mas de acordo com as leis divinas, jamais tomaria o risco de permitir um espírito perigoso vagar sozinho pelo mundo comum. Disso, o grande dilema colocado naquele julgamento.

    — Liane, o receptáculo de um espírito estranho, está sendo julgado nesse Tribunal por ser considerado uma potencial ameaça — disse Hileo, reafirmando as informações passadas. — Dentro dele, habita um ser de poderes desconhecidos e também de natureza dispersa. Essa criatura foi responsável pela destruição em massa da cidade de Verdan, assim como ferir muitas pessoas durante o incidente. A santa Cristal quem ordenou a execução desse tribunal, considerando que o bispo Vylon, o paladino Grey e a atual heroína Jessia se recusaram a entregá-lo.

    Murmúrios apareceram entre os fieis ao fundo, tomando um som considerável depois de míseros segundos.

    — Silêncio! — O cardeal bateu um martelo, emudecendo os demais na sala. — Santa Cristal, há algo mais a se considerar nesse caso?

    — Sim, Vossa Eminência. Decidi fazer uma pesquisa de antecedentes quanto ao receptáculo da entidade conhecida como Er’Ika… e descobri seu envolvimento na invocação do dragão da Vila do Dente, local onde bispo Vylon foi associado por um curto período. Além disso, durante a pesquisa, não consegui obter informações a respeito do passado desta criança, exceto pela menção e existência de um vilarejo isolado. Ao que tudo indica, ele é órfão, e sua conexão com o espírito não pode ser exatamente apontada.

    — Entendo… obrigado por dar estes detalhes.

    A santa acenou com a cabeça e recuou um passo para trás.

    — Pequeno Liane… — A criança ergueu o rosto quando ouviu seu nome, encarando diretamente o cardeal. — Posso lhe perguntar quando entrou em contato com a entidade?

    Um breve momento de silêncio antecedeu a resposta. Era visível que Liane não sabia como falar, as palavras enrolaram nas cordas vocais, até serem forçadamente expostas.

    — Eu… o encontrei depois de quase ter morrido.


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