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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Caindo de bunda no gramado, Liane jogou o queixo para cima e tentou puxar todo o ar do mundo para não morrer de fadiga. Uma garota de cabelo prateado estufou o peito e empinou o queixo, soltando uma risadinha provocadora. Era mais uma vitória para seu escore, que há muito tempo vinha colecionando derrota atrás de derrota contra sua rival. Ela ofereceu a mão para a amiga, que se apoiou e não demorou para levantar, sentindo o tecido macio das luvas roçar nos dedos.

    Depois de ajudar, encolheu os ombros, encarando a tutora Niara os vendo de uma distância segura com um semblante contente. Eles treinavam quase todo dia e os resultados melhoraram de pouco em pouco, não como antigamente quando Liane era mais forte e habilidoso, mas num nível satisfatório. Ela se aproximou dos dois e bateu palmas.

    — Meus parabéns. Se continuarem assim, ninguém vai recusá-los na Escola Nello, podem até se tornar uns calouros estrelas… caso não incomodem os veteranos, é claro.

    — Sério, madame?! — Os olhinhos de Silva brilharam de contentamento, amando aquele elogio da cabeça aos pés. — Eu posso acabar dando uma surra no meu irmão se acabar encontrando ele?!

    — Isso… isso eu não recomendaria, senhorita. — Uma risadinha preocupada fugiu da mulher, que não sabia se era um comentário sério e sabia como era uma possibilidade real de que Silva realmente fizesse isso. — De qualquer modo, vocês dois estão indo muito bem. Liane, você tem conseguido recuperar o ritmo, o que por si só é ótimo… mas…

    O garoto levantou o queixo, o “mas” adicionado no final lhe chamou bastante atenção.

    — Você não tem talento. Seguir por esse caminho lhe trará poucos frutos e será mais frustrante do que tudo. Vale mais a pena você investir mais do seu tempo na magia e…

    — Professora, já chega! — berrou Silva, querendo interrompê-la de desmotivar sua rival.

    — Está tudo bem, eu já sabia disso — respondeu o garoto, seu semblante estava como pedra, diferente de antes. — Eu não tenho evoluído tanto na esgrima, sinceramente, pareço mais um boneco pra bater. Ela até pega mais leve comigo e não tem conseguido usar toda a sua força.

    — Liane… você não…

    — Hum? Mas é verdade, Silva. Eu vou para a Academia Aquaria daqui uns anos de qualquer forma. Esgrima não é meu ponto forte, nunca foi, se eu pelo menos atingir o mesmo de antes…

    Um ataque veio em direção a sua cabeça, impedindo que continuasse. Liane deu um passo para trás e bloqueou com sua espadinha, apenas para encarar o rosto de uma Silva extremamente furiosa. Uma série de estocadas e cortes vieram, obrigando-o a se mover contra sua vontade para trás. Cada golpe era violento, carregando uma fúria que ele mesmo nunca viu.

    Seus braços começaram a tremer, era impossível manter o ritmo sendo constantemente pressionado. Ele também não conseguia prever os movimentos da oponente, quando tentava contra-atacar, apenas errava e recebia um impacto no corpo. Os acertos não doíam muito, mas os músculos passaram a chorar de tanto esforço. Seja lá de onde Silva tirasse sua energia, parecia infinita.

    — Por que você sempre é assim?! Fica se diminuindo por causa dos outros, como se soubesse de algo!

    Liane aparou um dos ataques, mas seus pulsos doíam por toda vez segurar a pancada, sendo arrastado mais e mais longe conforme aquela dança perigosa procedia.

    — Se eu quero que você seja minha parceira de treino, você será! Não me importa o que os outros digam ou o quão eles insistam que preciso de alguém melhor, tem que ser a minha melhor amiga!

    O garoto estreitou os olhos, sem entender o porquê estava sendo referido como uma menina. De qualquer forma, os dois continuaram travando a batalha, e então, em meio a falação de Silva, Liane viu uma pequena oportunidade. Ele deu um passo para dentro do alcance da oponente, que imediatamente reagiu com uma estocada, então se esquivou abaixando o rosto e enganchou a espada entre o ombro e pescoço da nobre, ao mesmo tempo parando bem ali.

    Os dois trocaram olhares, o que deu a Silva um enorme sorrisinho convencido. Ela se rendeu na mesma hora, pois em uma batalha real, teria perdido o pescoço.

    — Bom desempenho, crianças — interferiu Niara, dessa vez abrindo espaço entre os dois para que aquele ataque surpresa não se repetisse. — Senhorita, você provou por conta própria o que Liane disse.

    — O que? Como assim? Ele obviamente me venceu comigo dando tudo de si!

    — Errado, você não estava no seu máximo. Senhorita Silva, sua compostura desapareceu no meio do duelo, você estava impaciente e sem atacar direito. Liane apenas aproveitou a chance e deu o ataque decisivo… caso tivesse controlado suas emoções, isso nunca aconteceria.

    — Ah… mas…

    Dali, as palavras escaparam da pequena nobre. Ela perdeu por causa da falta de autocontrole, um requisito básico entre os espadachins, pois quando se enfrentava um lutador sem o controlar os pensamentos, uma derrota era inevitável. Os passos deviam ser calculados, a distância e força também, quando nada disso se alinhava, o combatente estava fadado a perder até para um mosquito.

    O rosto de Silva ficou ainda pior, sua boca se abria e fechava como se buscasse algo a dizer, os olhos iam de um lado para o outro em vergonha. Agora, não tinha nem mesmo de encarar Liane diretamente, temendo um julgamento vindo dele.

    Para sua surpresa, o menino se aproximou e pegou nas suas mãos. O tecido fino das luvas formigou na sua pele, e só assim teve coragem de dar pelo menos uma olhadela.

    — Silva, a promessa, lembra? Você não vai conseguir cumpri-la se for cabeça dura pra sempre. Você precisa entender que, quando ficarmos mais velhos, não vai ser mais possível acompanhar o ritmo um do outro. Você irá para a escola de esgrima, e eu para a academia de magia… Entende onde quero chegar?

    Ela fez um beicinho, querendo negar a realidade, mas cedo ou tarde isso realmente aconteceria.

    — Eu só… queria que você não fosse idiota como foi agora pouco.

    — Claro, eu entendo, só que você tem de aceitar que uma hora não serei a melhor pessoa para treinar junto. Eu poderia ter me machucado bem feio naquela hora que você mirou na minha cabeça.

    Com as bochechas infladas e cheia de um sentimento reprimido, Silva soltou um suspiro. Era realmente complicado tratá-lo de maneira tão normal assim, quando uma hora se separariam. Pensar que uma hora iria embora, que seguiriam por caminhos distintos e que provavelmente levaria meses se não anos para se verem novamente… esses pensamentos consumiam sua cabeça paranoica.

    No entanto, foi ali que sua mente clicou, tinha uma coisa que faria Liane sempre ter uma razão para aparecer durante o ano, algo que mitigaria os longos períodos sem o outro.

    — Ei… você quer ir numa festa nobre comigo?


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