Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 180: Criação de Item Mágico
A fabricação de itens mágicos era um processo demorado e caro. Primeiro, o artesão precisava ter habilidade tanto em magia quanto no ofício, então se uma espada fosse construída, o indivíduo teria que tanto ter aprendido a arte da forja quanto estudado profundamente os preceitos arcanos. A mesma lógica se aplicava aos demais objetos, como armaduras, roupas, acessórios e outros.
Por isso, era raríssimo encontrar quem aceitasse pupilos para aprenderem seu trabalho, pois o negócio era lucrativo já que a demanda era grande e os materiais caros — ninguém teria coragem de gastar um metal difícil de obter ou até a joalherias de um nobres renomado para um novato. Seria mais fácil repassar as técnicas para um herdeiro da família e depois deixarem-no manejar o negócio. Porém, a situação era diferente para Ludio e Liane. Os dois passavam muito tempo estudando, por consequência, cedo ou tarde chegaram a área de itens mágicos, coisa que atiçou a curiosidade do aprendiz.
— Não serve… — disse o garoto, descartando um pedaço de tecido queimado.
E como uma risada do destino, Liane se viu mais do que investido nas técnicas de fabricação. Ele não tinha a força de antes, muito menos o poder mágico quando estava junto de Er’Ika, mas uma coisa possuía de sobra: atenção e tempo. A cada dia, aprendia mais e mais a costurar com sua irmã, lentamente desenvolvendo um jeito de construir adereços simples como luvas, faixas, bandanas e outras peças que não necessitavam de criações mais complexas, como vestidos e túnicas.
Aquilo se tornou também um meio de renda para Zana, que devido a fraqueza do corpo, assumiu trabalhos menos exigentes de seu físico, voltando-se a costura. Em outras palavras, as estrelas se alinharam para Liane ter os dois meios para aprender sobre criação de itens mágicos: um professor inspirado pelo talento emergente de seu pupilo e uma irmã caridosa que o entregava peças sobressalentes que às vezes ficavam escondidas na sua pequena barraca no centro da cidade.
No entanto, alguns considerariam seu comportamento teimosia.
— Droga! — Ele se afastou da mesa, vendo a mana deteriorar o tecido e transformá-lo em pó. — Que injusto, eu senti que estava tão pertinho!
— Liane, quanto menos resistente o material, mais propício a sobrecarga ele será — explicou Ludio, intrigado pela constância do pupilo em continuar trabalhando nas mesmas coisas. — Você está tentando incluir encantamentos em lã normal, sem ligas adicionais ou qualquer outro elemento para compensar a fragilidade. Esse resultado vai se repetir até você desistir… ou encontrar uma solução.
— Sinto que estou perto. Fazer é mais simples do que pensei, parece até conectar pontinhos!
Um sorriso ocasionalmente tomava o rosto de Liane, notando seu próprio progresso explodir de maneira sobrenatural, ao mesmo tempo que causou medo no seu professor. Ludio conhecia muitos criadores de itens mágicos, até tentou aprender sobre no passado, mas devido a problemas financeiros e também a incrível perspicácia exigida, acabou desistindo. Muitos de seus colegas descreviam a produção como um trabalho inumano, onde o menor lapso de concentração jogaria fora montanhas de ouro.
Claro, os produtos de melhor qualidade garantiam uma chance de maior sucesso e dava margem para erros, mas ninguém nunca comparou o processo a “ligar pontinhos”. Eles comparavam mais a “tentar montar uma coisa no meio de escombros”, ou talvez fosse a mesma coisa e o garoto só estava se expressando daquela forma porque achava melhor.
Ainda assim, admirava a constância e também percebeu como as sessões fabricando lentamente aumentaram em duração. De pouco em pouco, os olhos do garotinho estavam voando com mais atenção em cima das peças de roupa sobre a mesa, com partículas rotacionando na sua mão e desenhando símbolo atrás de símbolo no artefato, absorvendo experiência nos fracassados igual uma sanguessuga retirando a essência vital de alguém.
Havia um brilho sublime naquelas iris. Antes azuladas, os tons carmesins traziam um tipo de intriga constante, uma vontade para repetir aquela atividade em busca do sucesso.
No dia seguinte, Liane mais uma vez colocou uma faixa de tecido sobre a mesa e evocou mana para fora do corpo, grudando-a no objeto. Dependendo da força imposta, o objeto poderia entrar num estado de sobrecarga, nomeado pelos artesãos de itens mágicos como um estado em que o material não assimilava corretamente o poder mágico, e quando tentava dispersá-lo, acabava de autodestruindo — os dois mais comuns e muito vistos por ele era sempre desintegração ou carbonização.
No entanto, dessa vez raios emergiram na superfície, quase atingindo sua cabeça se não tivesse caído para trás quando esticou o braço para longe. Era sua primeira vez vendo uma reação daquele tipo, no entanto isso se provou um ótimo sinal. A fonte de energia se acalmou e parou com a estática rondando os arredores, parada gentilmente na bancada.
Por segurança, Liane cutucou várias vezes com um graveto — graveto este que passou por maus bocados por ser rotineiramente usado contra os testes falhos. Nenhuma reação.
Ele tocou a faixa, reparando que também não era comido por uma magia esquisita. Enrolou a faixa no pulso, a coisa se manteve sem problema e continuou inteira.
— Tá, agora vamos experimentar…
Ele girou o pulso e colocou a palma virada para cima, uma pequena labareda apareceu no centro de sua mão, minúscula e perdendo sua vagarosa força com a brisa inexistente do recinto. Liane bombeou um pouco de mana para o artefato e recriou o mesmo fenômeno, repetindo até perder a conta de quantas vezes acionou o mecanismo do item.
Depois disso, tirou a faixa e pôs de volta no lugar. Seus pés e mãos tremeram, consumindo-o a um sentimento que amava quando vinha: satisfação.
— Eu consegui, eu consegui! Ahhh, finalmente, demorou quase meio ano!
Um enorme sorriso floresceu na sua cara em meio a pulinhos repletos de felicidade. Ele ainda testou mais vezes para ver as faíscas surgirem e desaparecerem, hipnotizado pelo sucesso. Foram inúmeras tentativas, incontáveis descartes e mais uma infinidade de horas só para atingir aquela coisa, tudo porque não podia abusar dos status e nem do dinheiro de ninguém para alcançar o que queria.
— Agora posso fazer presentes pra todo mundo…
Essa foi a primeira ideia de Liane. Seu rosto ruborizou um pouquinho, vendo as luvas que recebeu de presente de Silvas separadas perto de si. Ele se recusava a usá-las com medo de danificar o tecido, porém no fundo desejava muito retribuir o favor.
— Vou pedir pra irmã fazer um par quando eu tiver melhorado ainda mais, assim posso entregar de presente… Ah, não posso esquecer também das coisas da Celine, da irmã e até do senhor Merk!
Com um rosto abobalhado, Liane retornou aos seus estudos, muito contente por ter alcançado seu objetivo.
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