Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 183: Visão Espectral
Outro ano passou. Liane e os demais continuavam em Verdan, que a cada dia lentamente caminhava à sua antiga glória, o fluxo comercial aumentou em decorrência da catástrofe mágica, reunindo aventureiros de vários lugares devido aos rumores e também da nova lenda rondando os muros da cidade: uma criatura antiga, uma sombra do passado que assombrou aquela região. Pelo menos, o garoto não se importava tanto com os rumores, sua cabeça estava maior parte do tempo nas aulas e nos ensinamentos.
Não havia um dia de descanso, além do mais, mesmo nos feriados locais e religiosos, ainda faltava muito trabalho a ser feito para mudar o terreno instável do local. O ano anterior foi muito produtivo — continuou treinando esgrima, aprendeu sobre a igreja e sua história, retomou os poderes mágicos perdidos e ainda por cima desenvolvia seus métodos de criação de itens mágicos simples.
O aniversário veio sem cerimônia. Liane não queria nada chamativo, na verdade, se seu aniversário passasse sem nenhuma surpresa, seria ótimo. Isso se devia ao tempo antigo do orfanato. Esse tipo de comemoração era feito em conjunto para as crianças, assim ninguém ficaria de fora, o que desenvolveu um desejo inato de Liane nunca querer tudo para si, preferindo partilhar com os outros.
Ele não era que nem os nobres, que faziam enormes alvoroços por ganharem um ano de vida. O que mais queria era um momento sossegado, um silêncio agradável e um dia igual aos outros. Andando pela estrada de barro que levava à casa de seu professor Ludio, o garoto prestou atenção na brisa balançando seu cabelo. Era primavera de novo, pássaros voltaram a cantar e borboletas escaparam das pupas, pequenos lírios dominavam os campos floridos, trazendo a sensação de vida ao mundo.
Arrumou a bolsa cuja faixa cruzava os braços, finalmente se tocando de como o tempo passou depressa demais. Grey seguia seus passos bem de perto, enquanto a mente do menino voou rumo aos pastos além da cidade no topo daquela colina, com vista privilegiada além dos limites da cidade. Nunca percebeu como as coisas lá fora eram lindas, em como tanto aconteceu no espaço de pouquíssimo tempo. Recém fez nove anos, mas esse tempo era o bastante para pensar nas loucuras que habitavam fora do universo comum das pessoas, com demônios, espíritos e paladinos.
A onda de pensamentos oscilou seu humor. Era difícil dizer como se sentia — talvez feliz por estar vivo, ou temeroso com o que acontecia no restante de Kirstein. Parou os passos, voltando-se ao cenário à sua frente, com nuvens solitárias flutuando para longe e um sol amigável abraçando sua pele.
O dia estava lindo.
De repente, seu coração pulou uma batida. Aquele cenário piscou, o céu se mostrou por um segundo vermelho, chamas cobriram as casas e o bosque ao redor de Verdan, subindo uma torre vermelha para além do que os olhos podiam ver. Uma massa negra deformada rasgou o espaço, criando fendas que levavam a uma vastidão negra, um submundo diferente do pregado pelos fiéis de Lithia e pelas suas histórias antigas. Era um local frio e solitário, onde todos morriam e passavam a eternidade no vácuo.
Nesse breve momento, Liane caiu no chão de joelhos. Sua respiração se descontrolou, o corpo perdeu as forças e vômito saiu pela garganta, queimando o pescoço. Ele olhou para a poça à sua frente, restos de comida mal digeridas e sangue, seguido por gotas pingando das madeixas, rastros vermelhos que só marcavam mais o gramado.
Qualquer traço de vitalidade desapareceu e o garoto despencou para o lado, sua visão enturvecida em meio a um turbilhão de dor. A última coisa que viu era Grey correndo para ajudá-lo, mas antes que pudesse chegar perto, desmaiou para as profundezas do sono. A escuridão o envolveu, arrastando-o mais e mais fundo para o abismo, até não sobrar nada além de penumbras.
Naquele fim de mundo, Liane sentiu seu corpo ser puxado para baixo. Ele desceu e desceu, sem sofrer do efeito da gravidade, então seus pés pousaram numa superfície macia similar a textura de carne.
Engoliu seco. A um momento atrás, estava se debatendo no chão, e agora se encontrava nesse mundo bizarro desprovido de luz. Enquanto procurava uma resposta, sentiu o chão se mexer. Liane temeu pelo que aconteceria mais do que tudo, vendo o amontoado de carne tremer mais e mais, dando origem a uma cabeça achatada não muito distante dali.
A cabeça se virou para ele, revelando vários olhos enfileirados ao longo da face, nenhuma boca ou sequer orelhas. A coisa o encarou com curiosidade, lentamente chegando perto. Liane paralisou, querendo entender o que era aquela criatura, mas só uma única resposta vinha à mente: Er’Ika. Ele tentou abrir a boca para chamá-lo, mas nenhum som saiu.
Nada daquilo fazia sentido, porém tinha pelo menos certeza de que só poderia se encontrar com a entidade. O ser inclinou o rosto para frente, e quando chegou perto o bastante, uma descarga elétrica se firmou entre os dois, atingindo a criança na cabeça. A eletricidade percorreu os membros isenta de dor, mas mudou a visão de Liane por vários segundos.
Ele viu algo além da sua percepção mortal. Um local melancólico, coberto de gelo por todas direções e onde monstros com chifres e olhos cheios de malícia governavam, com um enorme glóbulo ocular observando-os do céu, servindo tanto de sol quanto de lua para aquele plano. A visão acelerou, o deserto continuou a acumular neve e crateras, resultado de batalhas durante milênios.
Então, a visão mudou, indo para um amplo deserto. As areias subiam em torres no horizonte, e no topo de uma delas havia uma moça de pele morena e olhos dourados estava vestida da cabeça aos pés com um manto de prata, reverenciando uma ave feita de estrelas. As torres em seguida caíram, sendo consumidas pelos ventos do deserto, afundados por um tempo inevitável e constante.
Novamente, os seus olhos foram a outro lugar, revelando o alto de uma montanha. O mundo do lado de fora daquele lugar estava congelado, com a lava expelida do pico do vulcão sendo paralisada através dessa barreira. Um grande relógio contava os segundos de cada habitante, entregando o lento fluxo do tempo e entregando-lhes o limite da própria mortalidade.
Então, depois de tudo isso, Liane retornou ao seu corpo. Ele estava novamente encarando a entidade, que ainda mostrava um semblante cheio de curiosidade. Uma força invisível o puxou para cima. O garoto se debateu e quis alcançar o ser misterioso, mas sem sucesso. Luz inundou seu mundo, desvanecendo as sombras que antes habitavam sua vista. Ele retornou a realidade.
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