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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Deuses muitas vezes são enigmáticos e incompreendidos quando perto de seus fiéis mortais, no entanto, essa visão está longe de indicar a verdadeira natureza das divindades. Eles, assim como suas próprias criações, possuem ego e desejos inerentes de acordo com os iota anos que permaneceram ativos no cosmos, ou seja, a personalidade e funções foram definidas com uma longa passagem de tempo, por isso alguns se identificam e se revelam por títulos específicos, sejam elas boas, más ou neutras.

    Isso acontecia, pois os deuses se organizavam como um grupo e interagiam entre si em prol de seu desejo maior, logo a necessidade de nomes e de compreender quem é quem virou obrigatório, mas eles poderiam ser comparados a crianças brincando num parquinho, cada um fazia o que seu coração mandava e tanto compartilhavam quanto roubavam os brinquedos uns dos outros. Era inclusive comum encontrar arruaceiros, que receberam apelidos maldosos por causa de seu temperamento hostil, tal como uma criança chamada de “capetinha” por ser levado demais.

    Mesmo sendo bastante infantil, esta seria a melhor forma de se referir ao deus do caos e da malícia, Er’Ika. Ele assumiu o corpo de uma mulher sinuosa, com um cabelo longo roxo de mechas vermelhas, e naquele exato momento estava diante de três outros deuses, cada um num trono elevado pela própria gravidade e com feições raivosas variantes de acordo com a coisa que escolheram como representação.

    — Estamos aqui para decidirmos a punição do deus Er’Ika — disse um intermediador entre os quatro deuses, um sujeito que parecia uma água-viva espectral. — Sua má conduta tem levado a infortúnios e problemas em nossa sociedade, tal como provocar os mortais da deusa Lithia e fazê-los entrar em guerra, ter extinguido o sistema solar em construção do deus Krom e por fim arruinado a organização estelar da dimensão artificial do deus Morev’O.

    — Plena baboseira e sensibilidade desnecessária deles, devo dizer… — comentou o deus do caos, acabando por sorrir ao ver a expressão franzida dos seus amigos piorar.

    — Ora, seu…! 

    Aquele que comentou foi o deus Morev’O, que assumiu a forma de um conjunto de estrelas alinhadas remontando a silhueta de uma ave. Sua irritação ficava clara pela forma como os astros se moviam pelo que aparentava ser o rosto, causando ainda mais felicidade no julgado, pois este era seu exato objetivo.

    — Apenas me chame pelo nome, eu prefiro isso do que ouvir um “seu” ou “sua” toda vez que falo algo afrontoso. Ora, não é como se vocês soubessem como se referir a mim, de qualquer forma, hehe…

    O escárnio desenhado naquela figura feminina incendiou o ódio de qualquer um. Lithia, que estava ao lado da ave cósmica, suspirou profundamente. Ela possuía uma forma semelhante a um objeto geométrico que engolia a si mesmo, apenas para repentinamente ganhar mais tamanho e pulsar conforme suas emoções mandavam. O suspiro, inclusive, fez seu corpo inchar e depois encolher, mesmo que não houvesse pulmões para realizar aquilo.

    — Er’Ika, não muda o fato de que você tem causado muito problema. Alguns dos mortais quase descobriram uma fórmula para atingir o nível de divindade por causa da sua interferência direta. — A luz entre seus ângulos piscou algumas vezes. Era ela revirando os olhos. — Não só isso, como você também é responsável pela quase extinção de um universo muito querido a certos deuses…

    — Ah, que peninha, esqueci de dizer que eu não me importo — rebateu a entidade caótica com sua língua afiada igual uma adaga. — Odeio o quão hipócritas estão sendo comigo, especialmente porque aquele seu amiguinho ali — Apontou para o último deus — é bastante conhecido por descartar e erradicar inúmeras coisas. Se o que fiz foi um pecado, o que ele fez é atrocidade. 

    Krom, o deus representado por um relógio em movimento, não respondeu. O trio acima se sentia encostado contra uma parede, pois o número de crimes justificava o julgamento, e mesmo assim seu oponente insistia em manter as coisas como estavam. Novamente, deuses eram como crianças brincando num parquinho, e o que três estavam tentando fazer era linchar alguém que não gostavam para aliviar o peso dos seus demais amiguinhos.

    No entanto, esse processo punitivo era uma farsa. Nenhum deles poderiam limitá-lo, expulsá-lo ou aplicar uma sanção, pois todos se encontravam em um nível igual. Se brigassem, seriam tapas desajeitados com a potência de destruir o cosmos. O intermediador também não tinha poder, pois era apenas um porta-voz e um meio das demais divindades assistirem à birra.

    Er’Ika sentia vergonha. Trouxeram um problema pouco importante para a mesa, apenas para tirarem uma satisfação egoísta e para se resolverem, quando uma conversa seria somente um gasto inútil de energia. Era como se alguém tivesse derrubado um castelinho de areia e aquele quem o construiu quisesse receber uma compensação por tal prejuízo. 

    A entidade da malícia se sentou num trono criado pela sua vontade e bateu os dedos levemente no braço de pedra, raciocinando que tipo de diversão tomariam para esquecer do ocorrido. Eis que, no meio do silêncio, uma supernova explodiu dentro de sua mente. 

    — Huhu… hahaha! — Uma pancada suave do punho esfarelou completamente o assento. — Vamos fazer uma aposta! Vou me colocar num corpo mortal e me selar nele, e se eu conseguir me libertar, com meu status divinos readquiridos, eu irei destruir todas as coisas que vocês criaram sem sofrer represália, além de também sair impune do que fiz!

    Silêncio tomou o ambiente. Ninguém se atreveu a falar, aquilo parecia uma loucura disfarçada, aparentemente o título de “deus do caos e malícia” não existia sem motivo, só alguém insano, mesmo para os padrões de deuses, teria a coragem de falar isso em voz alta.

    — E se você falhar? — indagou Krom, o grande relógio. — O que nós ganhamos?

    — Se ganharem… — O sorriso antes de escárnio e deboche se alongou de orelha a orelha, como se houvesse uma onda de diversão naquele desafio. — Se ganharem, poderão me pedir qualquer coisa, e eu passarei os próximos iota anos lhes ajudando a construírem o que quiserem. 

    A proposta foi extremamente tentadora. Eles não se arriscariam nisso, apenas Er’Ika possuía a chance de se ferir gravemente ou morrer no processo, e também receber a colaboração de uma outra divindade era bastante benéfico, porque muitas vezes esses seres trabalhavam sozinhos por terem ideias muito diferentes uns dos outros. Uma mão de obra ao lado de qualquer um seria uma grande diversão. Krom comandou que seu trono descesse, e logo em seguida Lithia e Morev’O fizeram o mesmo, reunindo-se próximo ao intermediador água-viva.

    O deus do caos amou ver a cena. Com as mãos na cintura e com seu gingado, chegou perto o suficiente para darem início ao desafio, isto é, criar um mundo e um universo em que a alma de Er’Ika habitaria para concretizar o acordo. Com quatro deles por perto, não seria um desafio. Seres divinos não possuíam qualquer limite, gerar um universo inteiro equivalia a montar um castelinho de areia.


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