Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 19: Uma Simples Confusão
Er’Ika se encontrava numa péssima posição, incapaz de controlar o corpo inconsciente de Liane por ter ido além do limite. Ele já possuía bom manejo do quanto de força era possível liberar, no entanto, não significava que os músculos e ossos resistiriam ao estresse.
Um garoto sem treino e em meio ao seu próprio desenvolvimento ter a mesma resiliência de um adulto crescido era irreal, e por isso Er’Ika exigia tanta morte de outros animais, porque assim aumentariam a quantia de nutrientes recebidos e melhoraria a situação do seu amigo. Aquilo funcionou por bastante tempo, cada parte de Liane se tornou mais forte e como consequência possibilitou forçá-lo por um tempo a mais, porém o resultado ainda foi inevitável.
Se a entidade tentasse fazer algo agora, de duas uma, os dois morreriam no instante que se movessem por um golpe rápido daquele homem, ou morreriam completamente paralisados no meio da floresta. Ambas as opções pareciam ruins o bastante para não serem seguidas, mas realmente havia uma certa vontade de colocá-la em ação levando em conta a forma como o corpo do pequenino era arrastado.
Bom… Liane está desmaiado mesmo, sua cabeça entrou num estado de hibernação e responde a poucos estímulos. Ainda funciona, só não tenho como me comunicar com ele… Já que é assim, não me custa nada analisar as informações disponibilizadas por aquele cadáver de antes.
Er’Ika ainda precisava de uma conexão direta para roubar memórias, e como sabia que não teria energias para se levantar de novo após um ataque, revestiu a energia fantasmagórica no punhal e durante o golpe uma sequência de dados interessantes apareceram. Não eram muitos, pois só desferiu um golpe e não pôde fazer uma avaliação precisa de todo o conjunto no corpo daquele homem, então teria que se contentar com o que recebeu e ignorar a perda gloriosa.
Além disso, também estava pronto para enviar nutrientes e células para curar quaisquer ferimentos, em especial a marca no olho. A entidade franziu o cenho no seu corpo espiritual ao averiguar brevemente a ferida, era feia o bastante para uma pessoa vomitar ao vê-la e estava encharcada de sangue.
Com um revirar de olhos interno, dividiu sua consciência em curar a parte mais danificada e ao mesmo tempo analisar os dados. Não tinha bastante coisa relevante, a maioria era sobre um passado sombrio e cheio de tragédias de um homem morto, o que era o equivalente a nada para Er’Ika, cuja empatia desceu pelo ralo há muito tempo.
Ao menos, dentre tantas coisas irrelevantes, tal como a humilhação diária de ter sido traído pela mulher, encontrou uma curiosa informação — era sobre uma suposta partícula invisível chamada “mana”. De acordo com as memórias, essa tal energia possibilitava o uso de propriedades sobrenaturais, sendo uma delas o reforço corporal e a invocação de chamas na ponta dos dedos.
Er’Ika duvidou grandemente a veracidade disso, pois supostamente a mana existia em todos os seres vivos, o único porém é que alguns a usavam com menor eficiência que outros. Tendo habitado o corpo de Liane por meses, sabia muito bem da inexistência de uma coisa como essa, o que havia dentro do menino era somente um conjunto de reações químicas para a operação correta de cada uma de suas partes. Ele controlava ocasionalmente essas funções para máxima potência, mas jamais se deparou com outra coisa fora elas.
Que falácia de terceira categoria… Até mesmo Liane inventaria uma mentira melhor.
A entidade ficou bastante descontente, esperando um pouco de senso na parte dos humanos em não espalhar uma falsa verdade ao ponto de virar senso comum.
Pode também ser ignorância, o que eu não duvidaria. Aymeric nem mesmo notou nada de diferente sobre Zana e caiu apaixonado por ela, por si só isso representa a idiotice dos homens por pensarem conforme seus estímulos. Hah, bem que aquele cavaleiro viria a calhar nos ajudando agora…
Em meio aos devaneios, Er’Ika ouviu um ruído familiar, o de fogo crepitando. Mesmo dentro do corpo de Liane, sons e algumas sensações eram repassados para seu cérebro, e por consequência ele conseguia vê-los e interpretá-los. O ruído em questão lhe chamou atenção, pois significava que estavam perto de algum tipo de caos.
— Esses bandidos realmente não pegam leve… — disse o sujeito que arrastava o garotinho pelo cabelo. — Não precisavam incendiar tudo e levar consigo o casarão inteiro. Agora somos como um farol no meio da noite… Hah, bando de retardados.
A voz pareceu muito familiar. Havia uma pessoa com aquele exato timbre, mas para ter certeza teria que dividir mais ainda o seu foco, coisa da qual não estava disposto a fazer agora levando em conta o estado de seu parceirinho. A entidade procuraria mais tarde, quando Liane se encontrasse melhor.
Outra vez o barulho de neve remexendo e a sensação de ter o cabelo puxado veio, definitivamente aquele homem estava levando os dois para algum local distante. O desconhecido precisou colocar as duas crianças nos ombros e correr, o barulho das chamas progressivamente diminuíram até sobrar somente os ruídos de neve sendo espremida por botas de metal.
De repente, o sujeito parou. Novas vozes inundaram o ambiente, acompanhadas de risadas e de choramingos desagradáveis por todos os lados.
— Senho…!
O som de um tapa ecoou pelo ambiente, seguido pelo baque leve contra a neve.
— Ó, quem disse que era pra você levantar? — disse uma segunda pessoa, pelo tom, parecia uma mulher muito mal humorada. — Ora, ora, finalmente chegou, meu querido Z! Por que demorou tanto? Não vai me dizer que teve problema lidando com duas crianças?
Risadas e mais risadas apareceram, Er’Ika supôs que estavam no meio de um acampamento. Provavelmente os donos das risadas e essa estranha mulher eram, nas palavras do próprio Liane, “caras maus”.
— Na verdade, quem teve dificuldade foi seu homem, o Quari. Ele está morto.
De repente, a leva de risos pararam. O silêncio destacou o frio em meio aos flocos de neve.
— Quem o matou?
— Não sei. Quando cheguei ao local, tudo o que tinha eram esses dois… Bem, se fosse para apostar, jogaria minhas fichas nesse garoto.
Er’Ika teve a ruim sensação de ficar longe da neve, caindo de cabeça assim que perdeu altura, no entanto eram só os sentidos de Liane atuando, o que não o afetou em nada. Com um pouco de concentração, tentou abrir o olho ainda bom do garoto, mas mexer aquela parte em específico era difícil, tornando sua vista borrada.
A silhueta da mulher estava à vista, e quando a entidade se deu conta, a bota dela estava logo acima da cabeça do garoto.
— Esse merdinha…!
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