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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    — Liane?

    O rosto do garotinho se contorcionou para trás tão rápido que pareceu uma assombração. Aquele mero gesto assustou a pessoa, que estava encolhida no cantinho da sala, contendo um choro fraco e baixinho. Aproximando-se um pouquinho, viu seu rosto, era Silva. A garota apertava os próprios joelhos e tremia, o que por si só mexeu com Liane, que reparou como trouxe mais medo ainda para a coitada.

    — É vo-você, não é? — ela perguntou, hesitante em se pôr de pé e se aproximar da luz da entrada da cela. — Vo-Vo-Você veio me resgatar, não é? A gente vai sair daqui, não é?

    Liane franziu o cenho com o comentário e estendeu a mão rumo ao cabelo prateado da garota, lhe fazendo um cafuné e respondendo: — Tá tudo bem, eu tô aqui.

    Aquele mero gesto apaziguou as lágrimas de sua coleguinha, o que por si só acalmou muito sua cabeça já conturbada. Ele se sentou ao lado e esticou as pernas, encostando a cabeça contra a parede e sentindo todo o peso de seu corpo recair sobre os ombros. Usar magia, mesmo que por um curtíssimo período, custava muita energia mental e física para se manter, especialmente por causa do nível de concentração para levar aquele punhado de força à ponta dos dedos.

    Também havia o fato de que a falta de prática e o corpo infantil dele colaboravam na fadiga, além do mais, era uma das primeiras vezes que fazia coisas além do seu próprio ramo de conhecimento. As pontas de seus dedos ardiam, consequência de constantemente eletrocutar o ar.

    — Liane, o que houve contigo? — Silva indagou, chegando a pegar em seu braço molenga. — Tá cheio de marcas… minha nossa, olha pra isso! Tudo sujo, quase pálido!

    — É que eu tô comendo pouco. Aquele mingau é terrível, mal me enche direito… 

    — Mingau? Eles dão mingau pra você? Eu recebo carne dura igual borracha, bem que eu não posso reclamar do que recebo… Mas que bom que você tá bem, assim podemos achar um jeito de fugir desse lugar asqueroso!

    — Sim, eu quero muito sair daqui… — Liane estalou a ponta da língua, querendo segurar uma pergunta, mas a vontade superou o seu desejo de manter-se quieto. — Você viu alguém? A irmã, o sir Aymeric?

    Só de ouvir aqueles nomes, o rosto de Silva escureceu. Seu silêncio disse bastante, e por causa disso o garotinho não insistiu, preferindo dá-la carinho e acalmar seu espírito abalado do que qualquer outra coisa. Não adiantaria muito se tentassem bolar um plano ou forçar sua escapada em um estado vulnerável, agora era necessário toda força possível para apoiarem um ao outro.

    O desespero antes havia acometido uma grande parte de Liane, mas após dias ali dentro, perdendo noção do tempo e enlouquecendo no meio da escuridão, Er’Ika lhe convenceu de que precisava de uma determinação forte, como a que usou para se livrar de Justi. Ele deveria usar a raiva cultivada em seu peito para não abaixar a cabeça, para se manter de pé perante ao caos.

    Era bastante difícil acreditar em tais palavras, ainda mais quando a situação de crise exigia uma maturidade alta demais para uma criança. Liane se concentrou nessa calma, no entanto, não era por causa de sua própria maturidade, ele nem sequer teve tempo para desenvolvê-la, o que estava acontecendo era que seu corpo abusava de uma série de bloqueio de substâncias e hormônios para impedir de colapsar.

    Quem definiu isso era Er’Ika, que metodicamente escolhia quais substâncias passariam e quais seriam negadas, evitando uma explosão de energia que atrapalharia na recuperação natural do olho ruim. A melhoria e reconstrução dos poros na ponta dos dedos também exigia uma quantia considerável de recursos, pois eram semelhantes aos músculos, rasgando-se a cada novo uso e se reconstruindo mais fortes.

    “Por que você é desse jeito? Deixa a Silva em paz! Olha como estamos, Erika!”

    Enquanto o monólogo irritante da entidade continuava, Liane voltou-se para Silva, que fungava e escondia o rosto parcialmente entre os joelhos. O cafuné em sua cabeça amenizou parte do humor, mas como esperado, ela continuava abalada e com medo de perder sua vida. O garotinho entendia melhor que qualquer uma essa sensação, pois a experienciou algumas vezes nos últimos meses, desde a parte que caiu no rio, adentrou a floresta pela primeira vez e enfrentou o mago. 

    Processando as informações, ele precisava de um plano. Depender de Silva não adiantaria, pois seu estado catatônico combinado ao medo de tudo simplesmente traria problemas, ainda mais quando bastavam poucas palavras para ela se amedrontar. Sendo assim, o melhor seria encontrar os outros adultos, torcer para que estivessem vivos e arranjar uma forma de libertá-los.

    Um suspiro escapou de sua boca, eram tantas coisas para se pensar e planejar que parecia uma tarefa impossível demais para um menininho cuja casa foi destruída, mas ele tinha que aceitar. Continuar parado agora e aceitar o seu destino era a pior escolha, do contrário, em breve voltaria a uma situação de vida ou morte que o deixaria igual ao dia da tempestade, sozinho, ferido e assustado. Isso não podia repetir, e Liane estava mais do que disposta a derrubar a barreira que fosse para não ser vítima novamente.


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