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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Muitos anos atrás, houve uma garotinha feliz que andava pela periferia de uma cidade. Ela era pobre, mas tinha uma família para onde voltar, um teto sobre sua cabeça e dias longos de diversão com as demais crianças. Um dia essa imagem caiu por terra. Brincando descompromissadamente no final da tarde, a garotinha foi arrastada para um beco escuro por dois homens, e mesmo que gritasse muito, ninguém a ouviu. Foi naquele dia que desapareceu para nunca retornar à sua cidade natal.

    Após isso, sua vida espiralou rumo ao fundo do poço. Primeiro foi vendida como escrava a um mercador, em seguida teve sua compra realizada por um nobre que a chicoteou e usou para os mais diversos propósitos. Esses longos dias no escuro, em meio a fome, ao desespero, a saudade e com dezenas de milhares de lágrimas continuavam vivos, a queimação do chicote batendo na pele podia ser sentida mesmo após décadas. Tal época jamais seria esquecida, pois aquilo moldou sua natureza atual.

    Num belíssimo dia de verão, em que os pássaros cantavam para as rosas brancas se desabrochando num jardim, sua mente colapsou. O surto foi gigantesco, aquele senhor acostumado a presença da menina não esperava uma retaliação brutal, sua cabeça foi esmagada por um martelinho de ferro usado para bater nos escravos insistentes e teimosos. Ele ganhou um grande amassado na cabeça, ao ponto de pedaços de massa cinzenta escorrerem pelos ouvidos e seus olhos terem sido transformados numa bola de carne nojenta. Depois daquilo, a menina fugiu, temerosa sobre o que aconteceria a si.

    Ela pecou grandemente contra a ordem do mundo, rebelando-se contra o mais forte e assim desafiando o seguimento comum das pessoas nesse mundo. No entanto, ao se dar conta da própria liberdade e como poderia levar as joias no cadáver do maldito, não hesitou em escapar causando o maior estrago possível. A menina incendiou a casa com todos ali dentro e arruinou o máximo de coisas possíveis, até mesmo matando ou machucando gravemente os cavalos próximos a saída.

    Esse acontecimento se tornou muito famoso e se espalhou pelas bocas comuns, enquanto a menininha estava longe demais para reconhecer todo o caos que um baronato inteiro adquiriu. Então, pulando alguns anos, a menina decidiu investir no ramo de mercenários. Ela não sabia voltar para casa, muito menos conheceu em que país estava, por isso desistiu imediatamente de retornar e focou em melhorar as próprias habilidades para sobreviver naquele mundo cruel.

    Centenas de pessoas morreram ao seu lado, seja pelas mãos de outros homens ou por feras fora de controle, eram tantos e tantos mortos que seus rostos apareciam borrados na memória da jovem mercenária conforme os anos passaram. Tendo acumulado uma quantia considerável de riquezas, parte vinda das joias vendidas do homem malvado, ela criou uma trupe para lidar com mais pedidos e missões. A princípio, tais pedidos sempre foram para acompanhar um outro grupo de guerreiros, ou até para servir de bucha de canhão para um conflito aleatório entre nobres.

    Independente disso, os anos vieram e partiram aos poucos, com cada missão bem-sucedida o seu grupo criou mais fama e cresceu, até o fatídico dia em que atacaram uma fortaleza no topo de um monte. Aquele local tinha um acesso complicado, mas as coisas pioraram num combate direto contra aquelas pessoas, que tinham uma frota inteira de magos estacionada e quase erradicaram o grupo. Com muita sorte, o grupo avançou contra a frota e eliminou parte dos inimigos, ao mesmo tempo que a mercenária arrancou a cabeça de seu líder, a pior escolha que poderia ser feita.

    O contratante não lhe alertou sobre a posição nobre do líder inimigo, e como consequência, uma caçada se iniciou atrás da assassina. Foi a partir daí que essa mercenária começou a ser perseguida igual um rato numa casa antiga, onde venenos e armadilhas estavam por todo lado. Talvez a sorte caminhasse perto, levando em conta o tanto que viveu. Houveram inúmeras oportunidades para a morte levá-la, mas ainda caminhava entre os vivos.

    — Ficou mais fácil de entender agora?

    — Não… não entendi… — Liane cerrou os olhos e usou sua mente o máximo possível. — Por que essa história toda é o motivo? Não me parece muito a ver.

    — Moleque, você é inteligente e burrinho ao mesmo tempo, chego a me impressionar. Quero nem saber como será no futuro quando você estiver buscando uma garota, se por acaso vai sacar as indiretas dela ou coisa do tipo… Claro, primeiro a moça teria que descobrir que você é um garoto pra começo de conversa.

    — Ei! Isso é nojento, eu nunca vou participar dessas coisas! Garotas são muito estranhas…

    — Mas você parece uma…

    — Isso não vem ao caso! 

    Jessia riu do menino bufando e desviando o olhar, completamente cheio de vergonha. Após zoá-lo um pouquinho, o humor antes sombrio no quarto desapareceu, o que de certa forma era agradável a bandida. Ela se tornou uma pessoa atroz e cada vez mais melancólica com o tempo, mas não se arrependia do que fez, suas mãos estavam sujas desde o princípio e ninguém tomou seu lugar para dizer alguma coisa. Caso reclamassem, ela também não hesitaria em cortar a garganta e por a cabeça do indivíduo preso numa estaca para servir de exemplo. 

    Por mais que houvesse uma grande mancha preta em seu coração, de algum jeito, uma luz perfurou tudo isso e obteve sua empatia. Antes tão violenta e ranzinza com os outros, Jessia pôde se demonstrar paciente e brincalhona ao lado de alguém. Há muito e muito tempo que não se sentia assim, de poder jogar as palavras ao vento e sequer se importar com o que a outra pessoa acharia.

    — Essa garota sou eu. 

    A sentença soou como uma grande revelação, mas não foi lá tão grandiosa quando Liane juntou os pontinhos e enfim a semelhança.

    — Ahhh… agora eu entendi.

    — Entendeu mesmo? Sua cara abobalhada diz outra coisa.

    — Não, eu entendi mesmo! 

    — Se tiver entendido mesmo, me diga qual o motivo de eu ter gostado de você.

    — Bem… é porque… você sabe, é porque… ééé…

    — Se não sabe, então não preciso dizer. Fiz todo um esforço e sua mente tá em branco. Hah, cansei, vem comigo logo pra gente seguir finalizando esse loooongo dia.

    Enquanto continha sua risada de Liane esperneando e querendo entender a moral da história, Jessia se viu leve. Sabia do ódio do menino contra si, mas nem se importou, pois estava gostando de partilhar um momento com alguém mais novo com tamanha despreocupação, mais do que sempre teve.


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