Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 38: Truques de Faca
Liane e Jessia passaram um tempo juntos usando facas para picotar um alvo parado antes de descansarem dentro do quarto com as velas apagadas. A chefona ensinou bem como manejar, estocar, rasgar e efetivamente matar alguém, no entanto, para sua surpresa, o menino tinha habilidade nessas coisas. Ele na realidade não sabia, era uma memória muscular que Er’Ika desenvolveu enquanto coletava os dados daqueles três homens mortos. Liane reconheceu isso.
Era estranho, ao ponto de sentir um misto de culpa e remorso por ter brigado anteriormente. Obviamente sua razão para tal era justa, pois a entidade detinha péssimos modos e só pensava em si mesmo, tornando-se detestável de conversar quando tinha que convencê-lo de algo.
Quando mais precisava da sua ajuda, sua cabeça recebia um balde cheio de água gelada e uma parede de aversão lógica ao que se passava com a mente do garotinho. Esta era a forma mais eficiente, de acordo com os dados de seu colega de corpo, para ajudar alguém em uma crise mental profunda.
Soava idiota, e era uma ação idiota. Pessoas não funcionavam assim, não eram frias igual gelo e eram indiferentes ao que os outros diziam. Ninguém funcionava usando razão na totalidade do tempo, muito menos esperavam um argumento razoável e cheio de sentido tirá-las de um choro profundo.
Por mais que chorar por alguma coisa fosse besteira, alguém fragilizado ainda perderia e xingaria a lógica, no melhor dos casos bateria em quem viesse com um jeito pomposo e insensível. A entidade não entender isso era o que dava nos seus nervos.
Oh, então era por isso, entendo.
— Você só decidiu aparecer agora para conversar? — o tom de Liane não era amigável por causa do abandono recente. — Se fosse para aparecer assim, era melhor ter continuado quieto.
Sua língua se afiou bastante, Liane. É por ficar perto daquela velhota ali? Humanos realmente mudam a depender do seu ambiente, que curioso.
— Não evite minha pergunta, me diga logo o porque você só veio agora conversar.
Porque eu estou com você, idiota, óbvio que vou adivinhar o que você pensa de vez em quando e como está raivoso para cima de mim. Sou insensível, não burro.
O garotinho se sentou na cama, saboreando uma deliciosa maçã acima da cabeceira com um rosto emburrado.
Eu queria entender o porquê humanos têm tantas necessidades assim. Lutam o máximo possível para sobreviverem, mesmo que isso os destrua. Buscam ficar perto de outras pessoas, mesmo que elas os odeiem. Desenvolvem medos irreais e sentimentos estranhos, mesmo que sejam desnecessários e só trazem problemas. Não tenho tais coisas, mas fico curioso por suas existências.
“Deixe de mentiras, você tem todas essas coisas e não quer admitir.”
Jura? Prove, eu quero saber quando apresentei essa fraqueza que os outros possuem.
“Quando você conheceu Justi, comentou sobre como ele era irritante e que precisávamos nos livrar dele, mas na verdade estava com tanta raiva quanto eu. Teve aquela vez no poço, que você mal quis falar direito quando te respondi, eu sabia que tinha ficado com vergonha, mas fui legal e não insisti… E também, quando eu estava sendo levado por aqueles homens, eu senti o seu desespero. Você parecia ter espasmos dentro da minha cabeça, tive a impressão que fosse gritar a qualquer momento.”
Um momento de silêncio invadiu o quarto, sendo quebrado por uma forte mordida na maçã.
Nossa, quantas mentiras. Aprendeu isso daquela mulher também?
“Não aprendi nada de novo dela. Você que não quer aceitar, seu cabeça dura.”
Nunca deixo de achar graça nas suas coisas, Liane. Eu realmente não tenho esses sentimentos, nem nunca terei.
Er’Ika mentiu, por dentro a verdade se manifestava aos trancos e barrancos, mas recusava com todas as forças confessar. Isso porque não queria rebaixar seu nível. Ele sabia que era uma existência excepcional, tal informação estava gravada na base de dados que recebeu quando obteve consciência, por isso recusava a acreditar ter a mesma gama de complexidade desnecessária que os demais possuíam.
Os outros eram inferiores a si, além do mais, que outra existência tinha o mesmo conjunto de pensamentos, poderes e linha de raciocínio que as suas? Nenhuma, com certeza nenhuma.
Só ele pôde ajudar Liane a desenvolver suas habilidades mágicas, só ele decifrou como absorver memórias de corpos mortos, só ele sabia como tratá-lo apropriadamente para se recuperar o melhor possível. Er’Ika se considerava, sem um pingo de dúvida, a pessoa mais ideal e perfeita para lidar com qualquer adversidade, e por isso sua negação era tão grande para com seus sentimentos.
Ele era um ser perfeito à sua maneira, o deus do caos e da malícia. Como alguém perfeito seria submetido a uma cadeia de reações químicas que gerava um efeito não condizente com a razão do momento? Isso era absurdo, uma incoerência sem fim.
“Me desculpa por antes.”
Desculpar? Nós dois sabemos que você sempre esteve errado, no entanto, pedir desculpas é demais. Eu não as aceito, de qualquer ma…
“Viu? Não aceitar é um sinal de que você está com raiva, não usando lógica. Se estivesse, teria aceitado de boca fechada pra gente alcançar o seu tão aclamado objetivo.”
A entidade emudeceu. De fato, algo estava borbulhando dentro de si, e essa sensação se intensificou ainda mais no momento que percebeu ter caído numa armadilha.
Você é ardiloso…
“Aprendi com a pessoa mais ardilosa que conheço.”
Ha… huhu… huhahahahaha! Seu pequenino maldito de uma figa!
Er’Ika se deixou rir. Era outro daqueles sentimentos estranhos, o de achar engraçado algo, de sorrir por uma pequena besteira. Tal sensação não era ruim, pelo contrário, lhe deu bastante satisfação soltá-la ao mundo. Foi nesse instante que seu pensamento teve um clique.
Sentimentos eram de fato coisas complicadas, das quais dificilmente se explicaria por meio da lógica, porque mesmo sem um corpo material, a entidade ainda os possuía. Se de fato estariam ali mesmo não possuindo os hormônios necessários para produzir um, então, do que adiantava enfrentar algo que inevitavelmente voltava? Era como empurrar uma parede, só seria jogado para trás.
Um suspiro mental se esvaiu dele, que enfim se viu no fim de uma incógnita.
Eu te desculpo.
Liane não esperava ouvir isso, mas mesmo assim sorriu diante das palavras sinceras.
“Que bom, porque eu preciso de você pra uma coisa.”
O que é, ô grande mente planejadora?
“Eu acho que descobri um jeito de sair daqui.”
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