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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    A cabeça de Liane girava, girava muito. O excesso de estímulos sensoriais fez sua testa dilatar, aquele barulho ainda ressoava pelas orelhas, o cheiro forte de álcool impregnou as narinas e o sabor da sopa com gosto de mingau permaneceu na ponta da língua. Tudo isso culminou nas infernais ocupando o espaço acima dos olhos, e mesmo após subirem as escadas e saírem da bagunça, ele não conseguia dormir.

    Outro agravante foi o ato de bondade repentina de Jessia. Aquilo o confundiu mais do que os livros ensinando matemática básica, pois jamais esperou um pingo de doçura vindo daquela mulher atroz. Ela ferrou sua vida, chamava-o de pet e quase esmagou sua cabeça com uma bota, mas lá estavam os dois, compartilhando um quarto e com seu pedido preso no quadro. 

    Atualmente, o garoto se encontrava deitado na cama de colchão duro e travesseiro sujo, encarando um teto levemente inclinado para o lado e de proporções desregulares. O vento assobiava para dentro do ambiente por meio de uma janela aberta, enquanto Jessia dormia na cama ao lado. O sono não vinha, não importando o quanto tentasse se concentrar nisso.

    “Sim, eu tô preocupado com Zana e com as pessoas do vilarejo. Não sei como estão Aymeric e Silva também, só consigo pensar nisso o dia todo.”

    “Sim, isso mesmo… Só que é tão difícil dormir com todas essas coisas passando pela minha mente. Teria mudado algo se ficássemos só esperando?

    “Por conta daquela história que ela contou?”

    Liane conteve uma risada, virando-se para a cama em que Jessia permaneceu adormecida. Era realmente curioso a forma como tudo se desenvolveu, e como estava tão próximo de alguém que odiava do fundo da alma. Mesmo entendendo seu ponto, de ser paga para isso e forçada a aceitar os contratos para sobreviver, seus sentimentos permaneciam os mesmos. Se pudesse matá-la, teria feito. 

    Era a mesma sensação de quando fez Justi se perder na floresta. 

    “Não tem o risco de eu ser sequestrado?”

    Liane acenou com a cabeça, ambas as opções pareciam viáveis. Antes de descer, Er’Ika avisou para pegar algumas das moedas na aljava de Jessia, que foi colocada preguiçosamente abaixo da cama. Ele achou merecido, dinheiro precisava de todo cuidado delicado.

    Não demorou para que saísse do quarto e descesse as escadas rumo ao andar debaixo. Como previsto, menos gente ficou por conta da hora, e também alguns bêbados foram expulsos por começarem a causar problemas. 

    O garotinho olhou o ambiente, as conversas mantinham um tom baixo e duas mesas eram ocupadas por grupos diferentes. Ele se encaminhou para o balcão primeiro, onde o taverneiro, com um olhar cansado e seu bigode descabelado, encarou-o.

    — Pode me dar água? — pediu, ficando na ponta do pé para colocar uma moeda de cobre na mesa.

    O velho sujeito com uma pança enorme coletou a moeda e aprontou um copo d’água novamente. Liane esticou os dedos para pegá-lo, apenas para o homem dá-lo em suas mãos, evitando espatifar o copo no chão.

    — Obrigado.

    O taverneiro acenou, retribuindo o agradecimento.

    Como não havia mais a mesma atividade de antes, a maioria dos clientes nas mesas acabaram notando a presença do garotinho, tudo porque era curioso ver uma criança ali. Anteriormente, como o local estava cheio igual a um caneco de cerveja espumante, ninguém repararia numa figura pequena e magrela. Ambas as consciência naquele corpo perceberam as agulhadas em suas costas.

    Liane logo virou para trás, o chão parecia tremer a cada passo da figura imponente chegando mais perto. A pessoa em questão era gigante, tão alta que eclipsava a luz do candelabro iluminando a taverna, e sua careca radiante era um farol na enorme sombra de seu corpo.

    Seus músculos eram largos, assim como a barba no rosto e o machado nas costas, mas o mais impressionante era sua altura. Daquele ângulo, ele parecia medir três vezes o tamanho do garotinho.

    O gigante se ajoelhou diante do menino, olhando-o no fundo da sua alma. Liane continuou estático, esperando qualquer mísero movimento.

    — Boo!

    A coisa que menos esperava, no entanto, era um sustinho tão medíocre. O choque foi tamanho que mal saiu de onde estava parado, uma pena que não houve nenhum medo envolvido, só um moleque com a boca parcialmente aberta que inclinou a cabeça para o lado e franziu o cenho tentando entender o que aquilo significava. 

    — Parece que você falhou, hein, Brutus! — berrou alguém no fundo, rindo da cara do bombado.

    — Cale a boca, Grey, eu assustei ele! Olha, o menino nem reage! 

    Brutus tentou cutucar o dedo na bochecha de Liane, porém o garoto só mexeu a cabeça para esquivar do toque. 

    — Nossa, tão chocado que até respira e mexe! Pelo jeito você perdeu o tato para intimidar os outros!

    — Ah é? Pois vem aqui, quero ver fazer melhor!

    — Rapazes, vocês são mesmo imaturos… — disse uma moça bonita na outra mesa. — Deixem o garoto em paz, o coitadinho nem queria se envolver nisso.

    — E quem é você pra dizer isso?! — o gigante levantou a voz, sua careca ganhou uma veia a mais. — Joan, de todas as pessoas que conheci, você é a que mais assustava crianças por simplesmente ser esquisita!

    — Como é que é?! Você vai ver só, seu cérebro de músculos!

    Acidentalmente, Liane incitou uma confusão da qual nem queria participar, mas que inevitavelmente ficou no meio do fogo cruzado.


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