Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 56: Planejando de Antemão
Liane fechou o livro rapidamente e o escondeu dentro da bolsa. Era errado roubar? De acordo com os ensinamentos de Zana, sim, mas devido a insistência e argumentação de Er’Ika, decidiu fazê-lo mesmo assim. O bibliotecário não parecia se importar, levando em conta como nem olhava em sua direção. O menino saiu do local em seguida, aproximando-se da moça santa com um pressentimento ruim correndo na garganta. Desde o primeiro encontro ele tinha a impressão que algo estava errado.
A moça fez uma breve reverência, seus olhos azuis limpos traziam uma impressão de conforto, porém por conhecer a verdadeira natureza dela, acabavam por ganhar outra forma.
— Por favor, me acompanhe para falarmos a sós…
Confie e vá, Liane. Me responsabilizarei por conversar por você, só me empreste a sua boca, falarei no seu lugar, já que sou eu quem iniciou todo esse problema para começo de conversa.
Ele respirou muito fundo, ao ponto de esvaziar os pulmões e relaxou a boca, logo sentindo a mesma dormência e as cordas vocais se movendo por conta própria.
— Vamos. Espero que tenha conseguido o bastante — falou Er’Ika, tendo tomado a posse da voz.
Era estranha a sensação, parecia estar à mercê de outra pessoa contra sua vontade. A mulher seguiu em frente, assim Liane caminhou logo atrás e virou a cabeça rumo ao ambiente, olhando os transientes, o comércio e também as pessoas normais. Ainda não gostava das coisas dessa vila, em especial ver os rostos daqueles que morriam de fome devido ao frio, mas nada poderia ser feito.
Enquanto suas botas marcavam a neve ao longo da estrada, ele mais uma vez encarou a moça. Lembrou dela quando desceu tarde da noite para tomar água, ela estava junto de outra mulher numa mesa, enquanto Brutus e uma terceira moça brigavam no fundo. O mais memorável, no entanto, continuava sendo Grey, com seu jeito descontraído e agradável.
Ele era legal, uma ótima pessoa, com certeza uma pessoa do bem.
Perdido no meio de devaneios, ele nem viu o tempo passar e muito menos reparou como já estavam na frente de um restaurante. Só de sentir o cheiro da comida lá dentro um ronco saiu de sua barriga.
— Vamos comer enquanto falamos, pode ser?
— Seria bom, o pequenino está com fome.
— Oh, você chama o seu receptáculo de “pequenino”? Isso é bastante fofo…
— Não precisa dizer tais coisas, e quando você ficou tão amigável assim? Apenas cumpra o seu dever se não quer que eu te devore.
O demônio fechou a boca e abriu a porta. Um sino ecoou acima de sua cabeça, assim eles se dirigiram a uma mesa longe das janelas e se sentaram virados um para o outro. Não demorou para que café e água estivesse na mesa, um a pedido da santa e outro a pedido do próprio Er’Ika, que juntamente encomendou pães para encher a barriga do garoto.
— Com licença, vou impedir que nos ouçam… — A mulher disse, e com um simples sinal uma pequena luz cinzenta pulou dos dedos dela e o ambiente perdeu o som, como se o mundo estivesse mudo. — Pronto, agora podemos conversar em segurança.
— Pois bem, o que descobriu, santinha?
— A fonte vem da prefeitura local. Grey, aquele paladino que você viu mais cedo, tem ido de um lado para o outro purificar poços e coisas assim, mas sem progresso nenhum. Os demais integrantes do meu grupo e o dele estão buscando uma forma de invadir e investigar a prefeitura local. Além disso, aparentemente o prefeito não vem a público há semanas…
— Hmmm — Er’Ika ficou pensativo, infelizmente não pôde levar uma das mãos de Liane ao queixo para demonstrar essa expressão. — Você acha que eles são capazes de fazer algo a respeito?
— Não, nem de perto. Somente Grey e esta mulher possuem acesso aos milagres divinos, e como estou a possuindo, não posso usá-los, e Grey sozinho não é o bastante para combater alguém desse calibre.
Milagres divinos e paladinos. Isso parecia uma grande falação sem sentido ao garotinho, mas para Er’Ika, tudo fazia sentido. De forma simples, os deuses eram seres superiores marcando presença no mundo, entregando poderes aos seus fieis conforme sua fé. Grey era um paladino, um guerreiro especializado no uso dos milagres para combater seres do mal, enquanto a santinha provavelmente era uma curandeira ou protetora voltada à arte de cuidar dos outros.
No entanto, como ela estava sendo possuída por um demônio e esses espíritos malignos tinham repulsa natural a qualquer coisa de natureza divina, era mais do que óbvio como seria impossível para o demônio usá-los. Isso complicou os planos, especialmente quando o miasma afetaria o desenvolvimento do receptáculo no longo prazo. Um suspiro fugiu da boca de Liane.
— Você não me disse seu nome. Estou cansado de não ter como referir a você.
— Por favor, me chame pelo nome desta moça, Milea.
— Milea? Ok. Você possivelmente tem as economias dela também, então pegará algumas coisas para mim enquanto eu vou arrumar uma forma de se livrar desse problema. Duvido que seja difícil, mas provavelmente terei problemas se o garotinho se machucar.
— Por que? Não consegue se separar dele?
— Não. Estou selado, apenas consigo manifestar parte do meu poder fora dele. Se ele morrer, porém, eu acabo me libertando e perco o controle.
Milea cerrou os olhos perante aquilo. Criaturas seladas exigiam um nível altíssimo de magia ou de controle divino, ambas as coisas eram somente levadas pelos mais poderosos homens da época. Se fosse verdade, então a pessoa à sua frente não era um demônio de alto escalão, pelo contrário, deveria ser um dos maiores demônios de todos os tempos.
Um sorriso brotou no rosto de Milea. A fantasia de adquirir favores de alguém forte assim lhe deixou com água na boca.
— Seria uma honra imensa ajudar um dos maiores demônios a se libertar então. Me ordene, mestre, eu farei qualquer coisa que pedir!
Caiu direitinho na armadilha. Os ensinamentos estavam bem certos naquele livro, agradecerei a Astaloph um dia.
Mesmo não gostando de aliados, Er’Ika adorava ter fantoches em seus dedos para os mais diversos serviços. Ter formigas para controlar era melhor do que se arriscar em coisas minúsculas.
— Vou lhe dar uma lista. Traga os ingredientes ao por do sol, e nessa madrugada veremos o que o maldito prefeito desse fim de mundo está guardando, hehehe.
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