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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Os planos de Grey seguiram normalmente. Seu grupo investigou os poços, com a ajuda de milagres divinos da deusa Lithia houve uma limpeza breve, mas realmente não existiam perigos reais de contaminação. A presença de energia demoníaca pelo ambiente era algo que incomodava sua cabeça há bastante tempo, porém ele não encontrou nenhum ponto específico que fosse a fonte, exceto um mal presságio sobre a prefeitura e sobre o que o prefeito estaria fazendo isolado lá dentro.

    De qualquer forma, o local estava tranquilo demais para o seu gosto, e então ele sentiu uma presença ruim ao usar uma magia divina para detectar focos. Pensou que a sensação o levaria rumo à prefeitura, mas ao invés disso ele, Brutus e Ludio andaram pelas vielas da Vila do Dente, aprofundando-se num emaranhado de pessoas até pararem numa casa abandonada. O lugar fedia a magia negra.

    Grey, como paladino, tomou como missão pessoal expurgar qualquer menção a demônios e magias sombrias, unindo-se a seus amigos para derrotar os malfeitores lá dentro. Cenas como a que ele viu eram comuns em seu ramo, dezenas de pervertidos insanos usando pele de animais mortos e cometendo sacrilégio diante de seus olhos. A esse ponto, vistas desse tipo já não lhe causavam mais nada, mas vê-los mortos e espalhados pelo chão traziam muito alívio.

    Quando matou todos no andar debaixo, tendo alguns sido chamuscados pelas magias de Ludio e outros decapitados pelo machado de Brutus, barulhos soaram do andar de cima. O grupo logo subiu às pressas, mas o que viram traiu suas expectativas. Duas crianças estavam no chão, o local parecia uma bagunça com o piso quebrado e mobília revirada.

    Inúmeros signos foram desenhados nas paredes com vermelho, possivelmente o sangue de outros humanos… mas não havia ninguém. Era comum os líderes de pequenas seitas colocarem em suas cabeças os crânios de certos animais, como cervos, veados e bois. Eles não encontraram ninguém que se encaixasse no perfil, e naquela sala onde supostamente seria o ponto onde faziam os principais rituais, só aqueles dois sobraram. A primeira coisa que Grey cogitou era a possibilidade deles serem sacrifícios.

    — Mas por que deixaram-nos para trás assim? — indagou, adentrando a sala com a espada ainda na mão. — Hm, a janela está quebrada. Brutus, vai lá fora e busca por rastros de cacos de vidro ou qualquer coisa, acho que o cara fugiu quando começamos a bagunça lá embaixo.

    — Pode deixar! — O grandalhão acenou com a cabeça, seus passos soaram como terremotos conforme desceu a escadaria.

    — Ludio, use uma poção de cura naquele ali. Eu cuido desse com um milagre de cura.

    O mago acenou com a cabeça e se encaminhou a outra criança. Grey sabia como ser líder em situações assim, por mais que seu comportamento fosse bastante brincalhão. Ele andou rumo ao garoto caído no centro do círculo infernal, estranhando o quão familiar era. 

    — Ah, Ludio, é o mesmo menino daquela madrugada na taverna!

    — Realmente? O mundo parece bem pequeno já que é o caso. 

    O velhote não se importava tanto, mas para Grey essa coincidência tinha uma ligação estranha por ser inusitada demais. Por garantia, o paladino checou seu estado, seus olhos encararam logo a marca escura em seu peito, como se fogo tivesse atravessado. 

    Seu rosto gelou, era um sinal terrível tal coisa acontecer.

    — Uma marca, o garoto tem uma marca! 

    Assim que Ludio ouviu isso, correu para ficar ao lado de seu colega e examinou prontamente a ferida. Não era nada natural, mostrando como foi cauterizada e também tendo a forma de anel. 

    — Temos que matar ele antes que…

    — Ficou maluco?! Vai matar uma criança?!

    — É o mais seguro a se fazer. Ele foi contaminado por energia demoníaca, é isso ou vê-lo definhar ao longo dos anos.

    Grey mordeu o lábio. Não queria acreditar em tal possibilidade, especialmente com uma criança nova e com um futuro inteiro pela frente. Agarrando o símbolo da deusa, ele tocou a barriga de Liane e evocou uma luz mística, espalhando-se ao longo dos membros do menino. Era um milagre de detecção em menor escala, semelhante ao usado para procurar rastros de energia demoníaca, mas focalizado num mesmo ponto. Ele precisava confirmar com seus próprios olhos se o garoto estava mesmo infectado.

    Para sua surpresa, não estava. Demônios tinham uma presença única no ambiente, responsáveis por incitarem sensação de friagem e ânsia de vômito; objetos e seres sagrados davam calor e conforto como estar nos braços de uma mãe, já almas humanas… Elas eram nada, não havia um sentimento inerente nelas. Aquele garoto representava isso, nenhum resquício de energia demoníaca sobrou lá dentro, apenas uma vaga impressão de ter duas coisas distintas ocupando o mesmo espaço.

    Grey levantou as sobrancelhas, perguntando-se como habitavam duas almas lá dentro. Ele reutilizou o milagre e investigou mais à fundo, até uma forte dor de cabeça atacá-lo. Era tão intensa que sua mão separou, enquanto Ludio pôs as mãos em seus ombros para impedi-lo de cair.

    — O que aconteceu? O que você viu?

    — Eu não… sei. — O paladino se recompôs, com uma mão apoiada na testa. — Ele não tem energia demoníaca, nenhum resquício. Só que… eu vi algo. Uma sombra. Mal dava para ver o que era, mas sei que vi uma sombra. 

    — Sombra? Demônios ou anjos não possuem sombras. Tem certeza do que viu? Será que não pode ser uma espécie diferente de demônio?

    — Demônios não são seres que podem ser catalogados como vivos, Ludio. Todos eles se apresentam da mesma forma e têm a mesma aura. O que eu senti não era isso.

    A suspeita por parte do mago era grande. Ele normalmente não gostava de discussões religiosas pela falta de lógica que via, mas reconhecia como Grey possuía o poder de sondar qualquer coisa em busca de uma criatura fora desse mundo. Se ele estava tão crente nisso, quem era aquele velho para contrapor? Um suspiro saiu da boca de Ludio, cuja expressão refletia o quão perdido estava no meio daquela bagunça.

    — O que a gente faz agora?

    — Vamos levar os dois. Mandarei uma mensagem para o Exército Branco enviar um clérigo aqui o mais rápido possível. Só Milea não será o bastante para purificar esse lugar todo, e podem haver mais desses cultistas do que imaginamos aqui perto. Talvez os ataques na floresta tenham vindo deles…

    Uma enxurrada de dúvidas criaram um turbilhão na mente do paladino. No meio de tudo isso, a pergunta mais constante era sobre Liane e sua identidade verdadeira, mas tal coisa teria que esperar para mais tarde.


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