Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 124: Ansiedade à Flor da Pele
Sion era um homem que valorizava príncipios, e um deles, ensinado por seu avô muitos anos atrás, era o de nunca dever ninguém.
— Ouça-me, meu neto. Nunca, em circunstância alguma, deva algo a ninguém. Além de ser uma mancha que irá lhe incomodar por dias ou meses, também pode virar um grande problema se a pessoa cobrar… quanto antes se livrar das dividas, melhor.
Foi um grande conselho na época que seguiu à risca, sem nunca saber que o velho apenas se referia ao dinheiro e não a favores. De qualquer modo, isso o levou àquela situação inusitada, onde os empregados arrumavam o salão de festas da mansão Tanite com mesas e cadeiras o bastante para recepcionar os convidados. Raramente qualquer nobre receberia plebeus com tanto cuidado, porém, estávamos falando de figuras ilustres: um bispo, uma heroína que matou um dragão e o jovem que salvou sua filha. O motivo do evento era para agraciá-los com um devido respeito.
O humor de Sion estava ótimo, às vezes cantarolando sozinho pela organização perfeita. Mesmo ele tinha problemas com perfeccionismo, procurando igual um psicopata por poeira ou um talher fora do lugar. Infelizmente, seu mordomo Charles possuía o mesmo distúrbio, o que gerou uma combinação perfeita e elevou a qualidade geral dos arranjos.
— Papaiiieee! — o chamado ressoou sala adentro, seguido por passinhos na ponta do pé. Obviamente senhorita Silva não perderia uma comoção grande assim. — O que é tudo isso? Se for uma festa secreta para mim, já descobri, há!
— Não seja equivocada assim, filha — respondeu o homem, de peito estufado e esbanjando um sorriso. — A festa foi feita para outra pessoa, um convidado muito especial do papai.
— Convidado especial? Hum? Mas o senhor não tem amigos…
Uma veia saltou na testa do pai, que deu um olhar mortal para a menina insolente. Ela se encolheu e se corrigiu rapidamente:
— Quer di-dizer, o papai tem amigos legais, porém eles não são próximos como eu!
— Hah… você tem se tornado a cada dia mais atrevida.
O suspiro, junto do aperto nas pálpebras, refletiu um certo sentimento de desapontamento falso. Isso poderia ser efeito colateral do sequestro, uma mudança de personalidade repentina que a transformou numa garota fria em alguém muito mais interativa. Seja lá o motivo, ao menos, era bom vê-la daquele jeito inquieto, sem um sorriso fingido e com energia o bastante para cansar os guardas da mansão.
Na realidade, Sion sempre quis vê-la assim, uma pena que no início era dificílimo convencê-la a fazer qualquer coisa que não fosse se trancar no quarto. Lizabeta, sua esposa, também ajudou muito em aumentar os ânimos quando estava por perto, oferecendo leitura, carinho e tudo o que uma mãe faria para que o filho não sofresse mais. Era até melhor assim, já que o pai não sabia exatamente como lidar com medos e traumas.
— Senhor Sion! — Merk abordou o marquês e realizou uma reverência, mas ao perceber a garota ao seu lado, teve que fazer outra. — Ah, me desculpe, senhorita Silva, não lhe vi.
— Está tudo bem, cavaleiro Merk. — Quem tomou a fala do marquês foi a própria senhorita, que arrumou a franja do cabelo com um balançar de mão chamativo. — O que precisa falar com meu pai?
— Vim avisar que os convidados acabaram de chegar. Eles aguardam no portão.
— Finalmente… — Sion sussurrou. — Peça para entrarem, também diga aos guardas para não atrapalharem e ordene os serviçais a se posicionarem.
— Sim, senhor!
Uma continência e o cavaleiro marchou para obedecer as ordens, muito para a estranheza de Silva, pois aquele comportamento era incomum demais.
— Papai, realmente não é uma festa surpresa pra mim?
— Não, filha, eu já comentei sobre isso. Vá chamar sua mãe e peça para descer, venha com ela.
Outra coisa para suspeitar. Cerrando os olhos e conferindo as costas a todo momento, a garota saiu de cena, caminhando devagar e tendo certeza de que não era nada secreto. Depois de sumir pelas escadarias, Sion arrumou o colarinho e mexeu um pouco no cabelo, pedindo para uma das empregadas dar mais uma checada em tudo. Então, após tanto esperar, as portas do salão abriram.
Três figuras lideraram o caminho, o bispo sem alma, Vylon, usando as roupas clericais brancas e um chápeu preto na cabeça; uma moça de cabelo arroxeado com um lindo vestido esverdeado que descia-lhe até os joelhos, Jessia; e por fim um garoto pequenino, facilmente confundível com uma mocinha usando roupas de menino, mas com um par de olhos inesquecíveis, azul e vermelho, cintilantes igual a chamas, Liane.
Existiam outros acompanhantes, um paladino da igreja de Lithia, um senhor de idade que mais lembrava professores de academias mágicas, uma menina que andava de bengala ao lado de… uma mulher com longos fios carmesins.
Essa última pessoa, quando reparou, deu calafrios no marquês, mas um sorriso caloroso e um aceno apaziguaram parte dos temores.
“Então quem a bruxa procurava era esta criança…” Sion encarou o pequenino saltitante e alegre, que apontava para as coisas e falava para Jessia. “De fato, os dois se parecem muito…”
O marquês esperou todos chegarem mais perto, o bispo quem se pôs à frente como um representante. Por questões de etiquetas e políticas, era melhor que ele conversasse, pois seu alto cargo e posição na igreja facilitavam o contato com nobres da elite.
— Fico feliz que esteja muito bem, Vylon — disse Sion da maneira mais casual possível, estendendo a mão para um aperto. — Creio que a heroína que me falou seja aquela mulher… Quem são os outros?
— Um deles é meu vassalo, o outro é… um amigo, por assim dizer.
— E o garotinho? É quem eu estou imaginando ser?
— Sim, o nome dele é…
— LIAANEEE!!!
Esse grito veio do topo da escadaria. Todos viraram a cabeça naquela direção, observando uma linda madame cheia de joias e um sorriso caloroso, mas o que realmente chamava atenção era o vulto descendo os degraus numa velocidade assustadora. Ela passou por todos num piscar de olhos, saltando em direção ao menino que parecia menina e derrubando-o no chão com um apertado abraço.
— Liane, Liane! É você, é você!!
— Hã? Silva?
Como de se esperar, a filha do marquês continuava uma bola de catástrofes, não levou nem um minuto desde a chegada dos convidados e ela causou uma grandíssima vergonha a um pai.
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