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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Exceto pela falta de comportamento de Silva, o evento fluiu normalmente. Pular em cima num convidado e chacoalhá-lo ao ponto de quase tirar o conteúdo do seu estômago era demais, uma ação nada querida para garotas nobres. Não seria absurdo receber uma enorme bronca depois disso, o que Lizabeta, sua mãe, prontamente lhe deu. O cabelo e roupas de Liane em seguida foram arrumados por Zana e Celine, sua irmã mais velha e uma amiga, assim dando-o a aparência original.

    Depois de um tempo, todos se reuniram novamente no salão, com Silva escondendo a expressão dolorida de tanto levar palmadas na bunda. Quanto aos demais, eles se aproximaram do marquês e ergueram as taças, exceto pelos mais novos, que receberam suco de uva no lugar. 

    — Um brinde a igreja, a heroína das Terras Livres e ao salvador da minha filha!

    Assim, eles brindaram. O dia seguiu com algumas apresentações e conversas, ao ponto de fadigar um pouco demais Liane, que aproveitou a comoção entre os serviçais para fugir até uma varanda ali perto. Ele não gostava nem um pouco do suco de uva e aceitou por uma educação, porém, sem ninguém para vê-lo, rapidamente se livrou do conteúdo dentro jogando nos arbustos do jardim.

    Nossa, que desperdício. Suco de uva tem tantos nutrientes úteis, ajuda no estômago, na pele, no sistema imunológico… Chega a ser odioso vê-lo descartando um tesouro assim.

    — Erika, eu não faço ideia do que você tá falando e ainda assim não gosto disso. 

    Pois pelo menos deixava para mim, eu nunca saboreei nada além de carne crua.

    — Espera, você consegue comer?

    Eu acho? Consigo consumir os corpos de criaturas, então supostamente posso comer…

    Aquele era um ponto curioso que estava disposto a descobrir, mas, por um momento, o rosto de Liane e manteve os olhos presos ao céu. Tinha uma lua minguante linda, as estrelas dançavam no véu noturno e ocasionalmente uma estrela cadente atravessava as cores roxas. A cidade de Verdam, em contraste, parecia também uma estrela, com vários postes luminosos espalhados pelas ruas. Havia também um castelo abaixo da lua, causando um impacto único na paisagem.

    Ele engoliu seco, novamente travado diante da natureza. O mesmo valia para Er’Ika, que nem mesmo se moveu enquanto contemplava o espetáculo. Parecia algo que gostava de fazer nesses períodos, uma coisa tão simples que fazia seu coração inexistente pulsar de alegria. Foram inúmeras as vezes que parou apenas para observar o cosmos, tendo um sentimento que não conseguia descrever por sua falta de habilidade no que tratava de interpretar essa subjetividade.

    Um conceito semelhante funcionava para Liane, ele reconhecia a admiração por dentro, mas ainda não entendia como uma coisa tão linda era possível de existir. A lua era enorme comparado a si, quem dirá os pontinhos brilhantes espalhados pela manta escura do céu, será que ele mesmo poderia se impor quando enfrentando o gigantismo do universo? 

    Tem alguém vindo.

    Para a tristeza dele, a entidade soltou esse aviso de forma abrupta. Havia se tornado costume, Er’Ika sempre avisava sobre movimentações e detalhes diferentes no ambiente, a essa altura virou uma ocorrência comum. Suas orelhas se mexeram, captando um par de pés vindo de fininho em sua direção. Ele imaginou quem era, por isso não fez nada, apenas para ser atacado pelas costas com um abraço.

    — Lianeee, te peguei! — A voz veio aos ouvidos com uma tonalidade estranha. — Te surpreendi.

    — Só um pouquinho, Silva — respondeu, demonstrando um sorrisinho curto e sentindo muita pressão nas costelas. — … mas se você diminuísse o aperto, eu respiraria melhor.

    — Ah, desculpa, é meu hábito ruim! 

    Ela largou o garoto e posou ao seu lado, batendo a perna no chão de inquietude. Liane não entendia tão bem o que se passava na mente dela, porém ficava feliz de se verem novamente, ainda mais depois de tantos problemas que passaram. Naquela mesma hora, uma certa pessoa veio à mente, seu rosto se virou para dentro do salão e avistou Jessia empurrando uma garrafa de vinho inteira garganta abaixo.

    “A gente deve se preocupar com o que ela vai falar se estiver bêbada?”

    Não precisamos, Jessia fez um bom trabalho até aqui. O que acontecer com ela não é da nossa conta, mas, em todo caso, Vylon irá protegê-la e dar um jeito.

    O típico tom frio da entidade, como sempre, martelou uma sentença cruel. Por outro lado, se tudo corresse bem, não seria descoberta e poderia seguir a vida como quisesse, o medo era de Silva descobrir naquele exato momento à respeito. Era até estranho demais imaginar como sequestrador e sequestrados estavam felizes bebendo dentro de uma festa como se nada tivesse acontecido.

    — Entããão… a gente se viu de novo, né? — disse a garota, escondendo as mãos nas costas. — Eu fiquei pensando… você é plebeia, a irmã Zana é plebeia… por que não moram com a gente?

    Plebeia? Huhuhu, essa garota ainda te vê desse jeito!

    — Eu não sei se poderíamos, Silva… — respondeu Liane, ignorando a provocação do deus.

    — Por que não? Você não tem vínculo com nada e ninguém, estou te dando uma chance de ouro! 

    — Porque… hããã… talvez o marquês discorde. A irmã me falou em como nobres tem exigências.

    — E qual o problema nisso? A gente pode recomendá-los como serviçais e tudo estará certo! Até aquela garota cega que acompanha vocês pode entrar, tenho certeza que o papai adoraria mais gente trabalhando conosco!

    O menino emudeceu. O motivo para não querer a proteção daquela nobre eram os possíveis perigos de que fora avisado, sobre como seria julgado e visto por tudo o que fazia, assim como tinha a chance de virar um alvo caso vissem a proximidade com a senhorita. No entanto, queria mesmo aproveitar esse tempo, pois odiava o tempo no orfanato com refeições pobres e dormindo numa cama gelada.

    — Liane… — Silva elevou a voz, obrigando-o a erguer o queixo. — Fique comigo, eu preciso de você. Faço tudo, até te transformar em meu consorte, ou tornar sua irmã um barão, convenço o papai de qualquer coisa.

    Aquilo o fez corar. Como alguém poderia falar tal coisa com tanta falta de vergonha? Era algo a ser pensado por anos antes de se afirmar, porém, a julgar pelos olhos brilhantes de Silva, ela não pretendia mudar de ideia. 

    — E-Eu vou conversar com a irmã sobre, tá-tá bom!

    — Issooo!! Liane, você é a melhor! — Outro abraço enrolou o pescoço do garoto.

    Ele não sabia se estava realmente fazendo o certo, a única certeza que tinha era que desmaiaria por falta de ar caso aquele aperto continuasse.

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