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    Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.

    De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!

    Verdan oferecia uma gama de benefícios diferentes, o marquês Sion, idealizador de grande parte deles, conhecia bem as falhas e se aproveitava das brechas para ocasionalmente ganhar uma vantagem. Mesmo sendo um homem bom, política era um campo tortuoso que exigia muitas vezes uma flexibilidade moral para se jogar, mas foi um mal necessário, pois ele obteve uma casa nos subúrbios da cidade por um preço justo aos bolsos dos três plebeus que habitariam.

    Quem pagou, inclusive, foi a própria Jessia, surpreendendo Liane que não acreditou ao receber a carta lhe avisando. Aquela mulher gananciosa nunca daria dinheiro de graça assim, então acreditou ter um motivo por trás, coisa a se resolver mais tarde quando houvesse tempo por parte dela.

    De qualquer modo, o garoto parou na frente da morada, uma simples construção de madeira, tijolos e pedras, com um telhado de palha e janelinhas simples. Celine e Zana o acompanharam, e já que todos morariam ali, precisavam averiguar se não havia nada de errado. Liane, o mais animado do grupo, girou a maçaneta e empurrou a porta, olhando o lado de dentro.

    — É bem espaçoso, tem bastante coisa e, Cof Cof! Caramba, quanta poeira! 

    Uma tosse infernal tomou sua garganta, forçando-o a recuar contra vontade para não morrer asfixiado. Havia tanta poeira que após avaliarem um pouco, tinha até teias de aranha acumuladas no teto e vários montinhos cinza para todos os lados. Isso era de esperar se relembrassem do valor de compra, que nem foi alto, o estado refletia a consequência de procurarem o local mais barato.

    Zana, preparada como sempre, encontrou algumas vassouras e baldes nos fundos, entregando uma a Celine para que também varresse. A menina somente acenou a cabeça e moveu os montinhos cinzas, porém, às vezes varria absolutamente nada, devido a cegueira.

    — Liane, ajude Celine a arrumar a casa, vou conferir o estado dos outros quartos e arrumá-los para que tenhamos onde dormir.

    Ele acenou positivamente com a cabeça, ficando ao lado da garota para guiá-la. No tempo do orfanato, fazia as atividades da casa junto de sua irmã, então varrer a casa e limpar teias de aranha se enquadravam no seu currículo. Existia também um pequeno perfeccionismo no seu cérebro, de precisar organizar as cadeiras, utensílios ou objetos espalhados por aí. 

    Depois de obter um banquinho para subir na pia, pôde guardar as colheres de madeira e também um conjunto de panelas. Quanto a Celine, ela veio a dobrar panos e lavá-los, usando do olfato para definir se estavam bem ou não. Escutar tanto barulho lhe deixou curiosa, pois havia muito movimento dentro da casa, mais do que esperava.

    — Mestre Liane, o senhor trabalhou como empregado antes? 

    — Que? Primeiro, pare de me chamar de mestre! Mas não, nunca trabalhei como empregado, a irmã Zana sempre precisava de alguma mão no orfanato, e eu me oferecia. 

    — Entendo. Você é muito proativo, mes… Ca-ham, tenho total respeito por você.

    “Hum, que estranho…”

    O que há? A atitude dela lhe parece incomum?

    “Sim, é como se ela me visse como superior ou coisa assim. Me incomoda.”

    Talvez seja porque Zana plantou algumas ideias nela e seu comportamento estranho se dá por isso. Pode ser também uma questão de respeito, além do mais, ela acabou de conhecer um garoto jovem talentoso com magia e que tem conexões importantes. Seria muito sábio da parte dela se ancorar em você e adquirir seu favor.

    “Nah, isso é demais, jamais que alguém da nossa idade pensaria assim, só você faz isso!”

    Na realidade, Er’Ika estava muito mais próximo da verdade do que Liane acreditava. 

    As horas passaram com fluidez, logo o sol desceu no horizonte dos campos. A neve estava lentamente desaparecendo, dando lugar a pequenos montes esverdeados que aguardavam pela primavera. O frio apaziguou o corpo dos pobres e economizou a lenha dos ricos, sua temperatura era tolerável mesmo com um pouco de pele à mostra. O cair da noite encheu a cidade grande de luzes, transformando-se num grande farol da distante casa, cheia de vida e alegria.

    Liane estava sujo da cabeça aos pés com poeira e lama, resultado da combinação de água, sabão e excesso de varreção no piso. Ao menos, o resultado se demonstrou surpreendente, a sala principal estava radiante e cada pontinha perdeu o traço de velhice. Haviam ainda algumas coisas a se mudar, partes do piso estavam quebradas e uma das janelas não fechava, porém, o principal agradou os olhos.

    Hmmm… não seria mais fácil subir numa árvore e dormir lá como seus ancestrais faziam?

    “Que? Ninguém seria louco de fazer isso! Fica muito mais legal quando é dentro de casa!”

    Essa estrutura protege contra o frio e predadores fracos, mas não permite a pessoa visualizar o que está fora e é altamente inflamável. É mais seguro uma árvore.

    “Larga de ser chato, você nunca dormiu num quarto aconchegante pra ter tanta certeza disso.”

    Er’Ika ia retrucar, mas recuou de última instância porque aquilo era fato. Ele nunca dormiu.

    — Crianças, hora do banho. Preparei uma banheira bem quente, vamos!

    — Banho, eba!

    Liane voou pela sala rápido como um trovão. Devido a todas as coisas que aconteceram, ele não tomava banho a semanas e lentamente perdia a sanidade por não poder se limpar devidamente, mas com essa chance, não precisava se preocupar. Do lado de fora, um caldeirão sobre chamas borbulhava água. Zana quem armou aquilo, mas por não ser idiota de deixar aqueles dois entrarem de imediato, usou sua magia de fogo para aquecê-los gradativamente antes de porem os pés lá. 

    O garoto pegou a água quente com as mãos e jogou no cabelo, esfregando-se todinho enquanto as fibras dos músculos relaxavam diante do calor. Sua expressão ficou desnorteada de prazer, com um sorrisinho bobo na face que demonstrava sua grandíssima felicidade de estar ali. Ele ficou no colo de sua irmã, aproveitando os longos segundos ali. 

    Não precisava se importar se estava com outras pessoas, além do mais, nem existia malícia em seus olhos ou motivo para se envergonhar. Suas bochechas coradas diziam que a embriaguez naquele banho era tamanha que nem sequer imaginara isso. 

    Ah, esse garoto vai demorar pra crescer…

    Foi isso que Er’Ika pensou enquanto via o menino afundar a cabeça mais uma vez. 

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