Capítulo 131: O Professor
Liane odiou a ideia de sair de casa logo pela manhã. O que não sabia, porém, era que Ludio havia em parte mentido a respeito do teste, que ele realizou um relatório detalhado para chamar atenção da Guilda dos Magos devido ao incidente na Vila do Dente, incluindo a presença do garoto para capitalizar em cima da notícia e da potencial visibilidade que seu relatório teria. Infelizmente, os anciãos e responsáveis pela Guilda não se interessaram tanto pelo menino, seus olhos estavam mais voltados aos rituais de magia negra e as causalidades pelo ritual.
Isso era comum entre aqueles homens. Desde muitos anos, os magos tentavam compreender o sobrenatural que envolvia as igrejas e os cultos, algo muitas vezes impossível devido a resistência dos fieis e a clara agressividade dos adoradores de demônios. Então, quando o relatório chegou, o departamento entrou num tipo de tempestade, mas ninguém deu atenção a criança citada.
— Por que você escreveu tanto a respeito dessa fedelha? — perguntou o monitor, que tratava da conferência nos conteúdos de relatórios. — Ele é mesmo especial assim? Parece um exagero.
— Eu posso garantir que sim. Tive muita sorte de achá-lo e queria a documentação de instrutor e se possível uma recomendação para enviá-lo a academia.
— A documentação é fácil, mas acho muito difícil o conselho aprovar a segunda. Hah, aqueles velhos pouco se importam com a nova geração, só remoem suas próprias conquistas… — O homem arrumou o óculos, folheando os papéis e enfim teve uma ideia. — Hoje, ocorrerá um teste de avaliação para a entrada na academia, acho que posso abrir uma exceção em cima da hora… mas escute, a sua protegida precisa ser excepcional se quiser uma aprovação, do contrário, aqueles ossos velhos vão recusar com prazer.
Esse foi o aviso que recebeu. Por sorte, a permissão estava consigo, logo, só precisavam chegar ao local do evento para participarem. Ainda assim, Ludio estava preocupado quanto às habilidades de Liane. Sabia como ela era fora da curva, o ataque ao covil dos cultistas demonstrou isso, a evolução com magias e também sua proeza corporal era muito incomum para ser mera coincidência. Talvez, o fato de ter olhos com cores diferentes realmente influenciava na sua capacidade mágica.
Verdam se estendeu à frente com um caminho de pedras pavimentado. As casas, de altíssima qualidade e largas, decoraram a paisagem urbana que lentamente se desenvolveu mais rumo ao centro da cidade. Enfim, chegaram ao suposto local que aconteceria as avaliações, um salão com jardim alugado pela Guilda dos Magos. Ludio falou com o guarda na entrada e mostrou sua permissão, chegando meio em cima da hora porque entrou no meio do discurso principal.
— Todos aqui são a nossa a nova geração — disse o senhor, sentado numa cadeira em um palanque, de barba grisalha espessa e olhos com fundos de garrafa. — Eu quero agraciar a presença de cada um, mas devido a uma questão de tempo, teremos que pular as formalidades. De qualquer modo, não se preocupem em falhar, nós estaremos de braços abertos para outros que desejem tentar no próximo ano…
O discurso continuou, mas era tão chato que Liane caiu no sono e estava babando pelo canto da boca. Quanto à Er’Ika, analisava cada figura naquele salão, as pessoas variavam muito. Os mais jovens tinham caras de nobres e eram acompanhados de serviçais, enquanto outros, alguns jovens e outros bastante velhos, estavam sozinhos usando roupas comuns. Aquilo era esperado, as academias mágicas não faziam distinção por idade, e sim pelo talento, porém por uma questão social, os nobres tinham muita facilidade de entrar primeiro devido ao conforto da vida e na maior facilidade de acesso a assuntos arcanos.
Isso era diferente para os plebeus, que por vezes passavam uma vida inteira sem descobrirem seus talentos mágicos, então de última hora entravam na academia como esperança por uma vida melhor. Isso explicava a diferença massiva de idades dos concorrentes. Era algo muito interessante de se observar, serviu para melhorar o repertório e também trocar algumas inconsistências de informações.
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Depois da looonga e chata falação, enfim começariam as avaliações.
— Eu vou ficar assistindo — falou Ludio. — Se a pessoa é nova e tem um responsável, eles não podem interferir nos resultados. Estarei bem ali com os outros. Boa sorte, Liane.
A criança acenou com a cabeça, seguindo caminho para os demais. O mago manteve distância numa arquibancada erguida de rochas com magia para os assistentes observarem os resultados, além dos avaliadores terem como olhar individualmente cada concorrente. Ele estava preocupado, além do mais, se Liane falhasse ali, seria uma vergonha enorme para sua carreira.
Um suspiro saiu da boca para acalmar os ânimos, então reparou numa presença se aproximando. Inclinou a cabeça para o lado, era o velho que deu o discurso.
— Com licença, esse lugar está vago?
— Sempre está vago para o senhor, professor Trion.
Aquele senhor sorriu, assentando-se ali.
— Eu não esperava vê-lo aqui, Ludio. Pensei que continuaria suas aventuras como me disse… por um acaso, a consciência lhe pesou e decidiu retornar?
— Professor, eu fico honrado por se lembrar de mim, mas não, não voltei por causa da consciência. Na realidade, o motivo é outro.
Trion era um professor que anos atrás auxiliou Ludio em suas magias. Ambos acabaram se aproximando muito porque Ludio causava inúmeros problemas na academia, inclusive quase foi expulso, mas por um milagre estava ali ainda para contar história.
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— Entendo. Quem é? É aquela criança que estava ao seu lado? Não consigo sentir nada demais dela.
— Professor, tenha paciência e verá. Essa garota surpreende qualquer um que a vê, mesmo parecendo nada demais… Inclusive, preste atenção nos seus olhos, eles são diferentes um do outro.
— Sim, está certo. Talvez haja uma surpresa em quem você escolheu, hahahohoho.
Um sorriso marcou a face do velho, que se inclinou para frente apenas para se atentar um pouco mais. Existiam muitas pessoas promissoras, no entanto, sua fé nos últimos anos foi desaparecendo devido aos resultados ruins. O primeiro teste era para acertar um alvo com magia, algo simples para a maioria dos magos que sabiam um único feitiço de ataque.
De repente, um trovão ecoou pelo ambiente, dando um susto em todos. Os olhos de Trion se arregalaram. O alvo na frente de Liane, feito de palha e tinta, foi arrancado do suporte e se tornou uma pilha de brasas no chão.
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