Capítulo 133: A Carta de Convite

As oportunidades de Liane aparentavam crescer a cada dia, pois uma carta chegou no correio poucos dias depois do teste mágico. Ludio lhe disse que teria uma vaga quando possuísse a idade mínima, as pessoas mais novas participavam desde cedo para mostrar seu talento e assegurar um local de estudo, então, aquela carta não tinha como ter correlação com as coisas da academia.

O mais estranho estava no fato que a carta era destinada a ele, não Zana. De repente, pensou em inúmeras pessoas que enviariam uma mensagem — Vylon e Jessia apareceram na sua cabeça assim que cogitou, pois ambos provavelmente pediriam algum favor. Balançou a cabeça, apagando o remorso. A irmã sempre lhe ensinou sobre o quão errado era julgar os outros de maneira precoce, logo, devia controlar esses instintos e partir diretamente para o conteúdo.

O envelope possuía um selo de cera com uma serpente desenhada. Estranhou o símbolo, achando-o familiar demais. Se bem lembrava, era isso que os cavaleiros da casa Tanite usavam, o brasão da família que representava o desejo de morte por todos os dragões e seu poder militar gigantesco. Rompeu o lacre, retirando o papel de dentro, que cheirava a rosas.

“Querida Liane

Estou com muita saudade de você, presa dentro dessas quatro paredes enquanto escrevo essa carta. Queria que passasse mais tempo aqui, para podermos aproveitar todo o tempo que perdemos, talvez falar sobre o dia ou passear pelo jardim da nossa mansão. Eu adoraria ouvir como tem passado, mas não estou perto o bastante para te escutar. Amaria escutar suas histórias e suas aventuras desde que nos separamos.

De todo modo, te envio essa mensagem para convidá-lo me visitar. Papai não foi contra ideia, detalhe que nem mesmo eu esperava, por isso, queria que vinhesse para nos vermos. Se puder, venha pela manhã do dia seguinte quando receber esta carta. Estou sempre na mansão e tenho poucos motivos para sair, logo, não se preocupe sobre minha ausência, retornarei assim que ouvir da sua chegada.

Deixei dentro dessa carta o anel da minha família. Peguei escondido do escritório do papai, então trate de guardá-lo bem, do contrário eu e você estamos encrencados. Quando chegar na mansão Tanite, mostre-o aos guardas da porta se eles não permitirem que você entre, também vista suas melhores roupas e use algum perfume, assim pode se disfarçar como um nobre. Estarei te esperando

Com amor Com abraços Com o coração Com carinho

Silva Lizabeta Tanite I”

Tem uma parte riscada, ela provavelmente ficou indecisa de quais palavras colocar e apagou por vergonha.

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“Silva não faria isso, ela é muito inteligente.”

Sem saber, a garota nobre realmente fez, apenas não dava para ler direito por estar rasurado. Liane decidiu ir no dia seguinte, devido a hora e por ter uma chance de visitá-la mais facilmente durante a manhã, acompanhando a irmã Zana e Celine nas suas atividades diárias pela cidade. Disso, as horas passaram rapidamente, e antes que percebesse, o garoto estava arrumadinho em cima de um burrinho rumo a parte mais centrada da cidade. 

Ambas ficaram curiosas com a carta, mas evitaram se aprofundar demais no assunto com medo que fosse pressão demais a Liane. A irma, em especial, deu uma atenção especial em enfeitá-lo para melhorar sua imagem ao máximo, tratando de arrumar o cabelo e sistematicamente passar um perfume caro que escondia entre seus pertences pessoais. 

Após passarem por parte de Verdam, Celine o acompanhou rumo aos portões, enquanto Zana segurou o burro para que continuasse parado ali. Assim que chegaram perto, como esperado, os guardas da entrada barraram a passagem e ergueram as mãos. 

— O que querem aqui, pirralhos? A mansão do senhor Tanite não é lugar para brincar.

— Eu vim ver a senhorita Silva — respondeu o menino.

— Merda, é outro daqueles pretendes falastrões… — murmurou o guarda, cruzando os braços e assumindo uma postura rígida, de forma a intimidar um pouco o garoto. — A senhorita Silva não está, ela saiu para um chá com algumas colegas. Peço que saia.

— Mas ela disse que eu poderia esperar lá dentro se não estivesse… 

— Garoto, mais uma vez, eu não posso deixar. Se você insistir, terei que tirar você à força.

O corpo de Celine enrigeceu por um momento, suas mãos se moveram por trás das costas. Liane reparou na movimentação esquisita, porém se manteve quieto, optando por uma saída mais segura do que acabar entrando numa briga. Ela claramente devia ter se ofendido por alguma coisa, então atacaria qualquer um com seus dentes e garras se estivesse no seu alcance.

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Ele retirou um anel do bolso, revelando ao guarda. Como seus dedos eram pequenos demais para usá-lo, o jeito seria revelar. Aquele homem arregalou os olhos por baixo do visor, descrente que aquilo era muito verdadeiro. Por garantia, pediu para conferir o objeto e o analisou, as inscrições clássicas dos Tanite estavam talhadas na parte interna do anel junto ao símbolo de serpente.

— Mi-Mil desculpas, senhor, não sabia que era um amigo tão próximo dos Tanite?

— E-Eu sou?

Celine deu uma leve cotovelada nas costelas de Liane para trazê-lo aos seus sentidos.

— Ah, sim, eu sou mesmo!

Ele soltou um sorrisinho bobo e passou pelos portões, no entanto, a garota cega ficou para trás. Liane acenou para ela, apenas para recolher a mão por ter esquecido do quão idiota isso era. Sem saber, Celine acenou de volta, tendo captado suas intenções. Enfim, ela deu as costas e se pôs ao lado de Zana.

Seria outro dia longo de trabalho, com bastante coisa para ser resolvida. Conferiu rapidamente as adagas escondidas no vestido, tendo certeza de que estavam no lugar planejado. O único momento que sentia calma era quando tinha algo para se proteger por perto, do contrário, uma incerteza se apoderava do seu ser e a fazia entrar num estado de pânico.

Ao menos, próxima da Loba Vermelha e do protegido, devia se importar com pouca coisa. Ambas seguiram rumo aos locais mais movimentados da cidade, esquecendo do que viram anteriormente, pois deviam começar a sujar as mãos para arrecadar dinheiro em breve.