Ei, você é curioso? Se for, que bom, deixo saberem o quanto quiserem de mim! Pra começo de conversa, eu sou um sapo mágico, tá ligado? Eu sei que minha foto de perfil engana, mas é sério! Infelizmente, estou preso no fundo do poço, minha sabedoria não pode sair desse lugar, mas você pode sempre vir aqui e jogar uma moedinha ou perguntar ao sapo do poço sobre sua sabedoria.
De qualquer forma, esse sapo já foi autor de outras coisas, sabia? Ele também ensina e faz trabalhos relacionados a escrita! Bizarro? Com certeza é um sapo mágico, oras! Agora, se encante com minha magia e leia todas as minhas histórias (e entre no discord), simsalabim!
Capítulo 138: Corra Como se Dependesse da Vida
A estática correndo pelo corpo de Liane fez todos os seus pelos arrepiarem, enquanto um rápido comando verbal trouxe um conjunto de células para ativar vários transmissores no cérebro. Mesmo sem entender nada dessas palavras, era fato que seu organismo estava num modo de batalha, somente Er’Ika tinha uma noção exata do que cada coisa fazia e do comportamento apropriado dessas células para operarem de modo perfeito.
Não demorou para que o impulso saísse numa descarga, um relâmpago que cortou o espaço e atingiu justamente a besta recarregada, transformando aquele pedaço de madeira e ferro em chamas. O atirador largou sua arma, as labaredas ameaçaram queimar até mesmo suas mãos. Era essa a deixa perfeita para escaparem, e sem medo nenhum, Liane pegou Celine nos braços e disparou contra o bosque.
Era a segunda vez que uma coisa assim acontecia, o tanto de tempo do qual abusou dos músculos para um reforço físico acostumou-o a dor e às explosões repentinas. Sua força tinha aumentado consideravelmente para uma criança, mas isso não significava invencibilidade, se tentasse trocar socos ou batalhar diretamente com um adulto, a chance de morrer seria altíssima.
“Erika, cura ela!”
Curar? Garoto, eu ainda não aprendi a fazer isso.
“Pera, o que? Então o que você fez com a Jessia daquela vez?”
Eu só reforcei o corpo dela. O reforço desaparece com o tempo e retorna ao seu estado normal. Posso fazer isso agora, mas creio que a ferida piore a longa prazo se tratada indevidamente.
Agora o nervosismo se prendeu à garganta. Seu plano era ajudar Celine ao ponto de colocá-la para andar novamente, porém, se seguisse aquilo agora, havia uma grandíssima chance dela se machucar ainda mais. Engoliu seco, sua cabeça processou diversas situações ao mesmo tempo, procurando uma solução. Devia ir para irmã Zana? Não, o perigo viria até ela e isso seria terrível. E quanto a mansão dos Tanite? Era longe demais, ficaria cansado antes mesmo de parar lá.
Assim, só havia uma única opção, um lugar do qual teria certeza que alguém ajudaria.
— Mestre Liane, para de se esforçar demais, você vai morrer junto comigo se fizer isso…
— Argh, cale a boca! Você levou uma flechada e irá falar comigo desse jeito?! Quem em sã consciência se sacrifica por alguém que acabou de conhecer!?! Eu não vou te deixar morrer aqui quando a gente mal teve alguma coisa direito! Zana ficaria chateada e eu me culparia pelo resto da vida!
Os olhos do garoto vacilaram, suas pernas tinham começado a tremer depois de correr tanto. Esse era o efeito colateral de segurar um reforço físico por tanto tempo, inevitavelmente a pessoa se cansava e a estrutura podia fazer pouca coisa além de agonizar com os excessos. Ele desacelerou um pouco a velocidade, na esperança de economizar um pouco da energia restante e dar trégua para as panturrilhas.
Estão se aproximando. Corra mais, pequenino, corra o máximo que puder! Eu terei certeza de mantê-lo vivo até lá!
A parte de “manter vivo” soava incrivelmente perigoso, mas entre ter a chance de morrer de exaustão extrema e ser pego por cultistas demoníacos, obviamente preferia a primeira. Mais uma vez aumentou o ímpeto, a carne parecia rasgar com cada passo que o impulsionava para frente. A consciência de Er’Ika fluiu pelo pequenino, abusando do vasto campo de memórias para somente uma coisa: fazê-lo correr até que perdesse as pernas.
Tantas pessoas no passado fizeram tal coisa primordial, inovando com suas próprias formas de escapa, estratégias e até com soluções para possíveis problemas. Dormência se apoderou dos membros de Liane, seu rosto avermelhou e o suor desceu aos montes do pescoço. Se estivesse fugindo por conta própria, teria muita facilidade de sair de cena, mas levar Celine nos braços atrapalhava o movimento e exigia cuidado extra para não abrir mais ainda o buraco da flecha.
Er’Ika conseguiu pelo menos precaver um pouco desse problema, usando linhas de energia para costurar a ferida provisoriamente, impedindo parte da hemorragia. A expressão da garota também não era boa, com palidez tomando conta dos lábios e madeixas, sinal de que havia um veneno ou composto perigoso na flecha. Ou seja, se tivesse a deixado para trás, ela estaria morta.
Liane enfim conseguiu ver pelo menos algum sinal de civilização, casas de pedra e madeira formando corredores para os becos. Ele não ligou se estava pulando sobre o lixo ou se o escuro guardava um criminoso para interromper o caminho, o que importava era a salvação das próprias vidas. Suas orelhas captaram novos sons, batidas nas telhas, denunciando a localização daqueles insanos.
Por instinto, tomou o controle das pernas de volta, saltando para frente e evitando uma saraivada de disparos, mas imediatamente a queimação e dor do esforço destruíram a mente. Foi como se agulhas passassem raspando na pele, criando fissuras minúsculas que se multiplicaram de milhares para milhões. A única coisa que não o fez parar era a mão fraca de Celine agarrando seu colarinho, que lentamente perdia o aperto conforme os segundos contavam o tempo restante para a morte.
Lia… fi… cordado…!
A voz de Er’Ika virou abafada e distante. Ficou impossível de escutá-lo, aquele mero reflexo foi o erro que custou sua sanidade. Não haveria um milagre para salvá-lo, que nem da vez que fora sequestrado e espancado até quase falecer. A igreja estava tão perto, conseguia enxergar o topo dela com um enorme sino, quase ao ponto de alcançá-la com os dedo, mas não teve como continuar.
Ele caiu pelo piso de tijolos de pedra, por pouco cobrindo a queda de Celine. O destino estava selado, seria alvejado naquele exato instante e sua vida acabaria. Um conjunto de bestas estavam apontadas na sua direção, prestes a disparar.
— Que vergonha, adultos enfrentando uma criança…
Essa voz, por outro lado, teve uma ideia completamente diferente. Uma rajada dourada adentrou o beco, iluminando tudo com o fulgor do sol. Num único movimento de espada, um daqueles homens foi decapitado, sua cabeça rolou para cima e cobriu a lua, até despencar no meio do lixo para entregar um bom cheiro de ferro ao ambiente.
Jessia respirou fundo, vendo o menino jogado no piso. Ele desmaiou, não veria o que estava prestes a ocorrer, o que trouxe bastante felicidade.
— Hoje, não preciso me importar com a imagem… Vocês tão fodidos, seus covardes filhos da puta!
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